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É impossível elaborar as bases de uma política revolucionárias num ''só país''. O problema da revolução alemã é actualmente indissoluvelmente ligado à questão da direcção política na URSS. É preciso compreender esse laço em todas as suas consequências.
A ditadura do proletariado é a resposta à resistência das classes possuidoras. Os limites às liberdades decorre do regime militar da revolução, isto é das condições da guerra de classes. Desse ponto de vista, é claro que a consolidação interior da República dos Sovietes, seu crescimento económico, o enfraquecimento da resistência da burguesia, e sobretudo o sucesso da ''liquidação'' da última classe capitalista, os kulaques, deveria levar ao desenvolvimento da democracias no partido, nos sindicatos e nos Sovietes.
Os estalinistas não se cansam de repetir que ''já entrámos no socialismo'', que a colectivização actual marca ela própria a liquidação dos kulaques como classe, e que o próximo plano quinquenal deve levar esse processo até ao fim. Se é assim, porquê esse processo conduziu ao esmagamento total do partido, dos sindicatos e dos Sovietes pelo aparelho burocrático que, pelo seu lado, tomou o carácter do bonapartismo publicitário ? Porquê no tempo da fome e da guerra civil o partido vivia uma vida intensa, porquê não veio à ideia de ninguém perguntar se se podia ou não criticar Lénine ou o comité central no seu conjunto, enquanto que, agora, a menor divergência com Estaline ocasiona a exclusão do partido e de medidas administrativas de repressão ?
O perigo de guerra vindo dos Estado imperialistas não pode em qualquer caso explicar e ainda menos justificar o desenvolvimento do despotismo burocrático. Quando numa sociedade socialista nacional as classes são mais ou menos liquidadas, isso marca o início do desaparecimento do Estado. Se uma sociedade socialista pode opor uma resistência vitoriosa a um inimigo exterior, é enquanto sociedade socialista e não como Estado da ditadura do proletariado e ainda menos como Estado da ditadura da burocracia.
Mas não falamos do definhamento da ditadura : é ainda demasiado cedo porque ainda não ''entrámos no socialismo''. Falamos de outra coisa. Nós perguntamos : o que explica a degenerescência burocrática da ditadura ? Donde vem esta contradição alarmante, monstruosa, temível, entre os sucessos da edificação socialista e o regime de ditadura pessoal que se apoia sobre um aparelho impessoal, que agarra pelas goelas a classe dirigente do país. Como explicar que a política e a economia se desenvolvem em direcções totalmente opostas ?
Os sucessos económicos são muito importantes. A partir de agora a Revolução de Outubro justificou-se plenamente de um ponto de vista económico. Os coeficientes elevados do crescimento económico são a expressão irrefutável do facto que os métodos socialistas apresentam uma vantagem imensa, e isso mesmo para a realização das tarefas de produção que, a Oeste, foram resolvidas por métodos capitalistas. As vantagens da economia socialista nos países atrasados não serão tão grandiosas ?
Todavia, a questão colocada pela Revolução de Outubro ainda não se realizou nem mesmo em esboço.
A burocracia estalinista qualifica a economia de ''socialista'' partindo das suas premissas e das suas tendências. Mas isso não basta. Os sucessos económicos da União soviética produzem-se sobre uma base económica ainda pouco desenvolvida. A indústria nacionalizada passa pelos estádios que as nações capitalistas avançadas já alcançaram há muito tempo. A operária que faz bicha tem o seu critério do socialismo, e esse critério do ''consumidor'', para retomar a expressão desprezível do funcionário, é na realidade completamente decisivo. No conflito entre o ponto de vista da operária e do burocrata, nós, oposição de esquerda, estamos com a operária contra o burocrata que exagera as realizações, escamota as contradições que se acumulam, e mete a faca na garganta da operária para a impedir de criticar.
No ano passado, passou-se bruscamente do salário igual ao salário diferenciado (à peça). É indiscutível que o princípio de igualdade no pagamento do trabalho é irrealizável, quando o nível das forças produtivas e por consequência da cultura geral é baixo. Isso implica igualmente que o problema do socialismo não se resolve unicamente ao nível das formas sociais da propriedade, mas pressupõe uma certa potência técnica da sociedade. Todavia, o crescimento da potência técnica faz transbordar automaticamente as forças produtivas fora das fronteiras nacionais.
Voltando ao salário à peça que tinha sido suprimido prematuramente, a burocracia qualificou o salário igual de princípio ''kulaque''. É um absurdo evidente que mostra em quais impasses de hipocrisia e de mentira os estalinistas se afundam. De facto, era preciso dizer : ''Avançámos muito depressa com métodos igualitários de retribuição do trabalho ; estamos ainda longe do socialismo ; somos ainda pobres e precisamos de voltar atrás, aos métodos semi-capitalistas ou kulaque.'' Repitimos que não há aqui contradição com o objectivo socialista. Só há uma contradição irredutível com as falsificações burocráticas da realidade.
O regresso ao salário à peça foge o resultado da resistência oposta pelo sub-desenvolvimento económico. Tais recuos, ainda haverão outros, sobretudo na agricultura onde se fez um grande salto administrativo em frente.
A industrialização e a colectivização são levados a cabo com os métodos de comando unilateral, incontrolado e burocrático, que passa acima da cabeça das massas trabalhadoras. Os sindicatos são privados de toda possibilidade de influenciar a relação entre consumo e acumulação. A diferenciação no seio do campesinato foi liquidada provisoriamente menos económica que administrativamente. As medidas sociais tomadas pela burocracia no que respeita a liquidação das classes são terrivelmente adiantadas sobre o processo fundamental que constitui o desenvolvimento das forças productivas.
Isso conduz ao aumento dos preços de custo industriais, a baixa qualidade da produção, ao aumento dos preços, à penúria de bens de consumo, e deixa aparecer no horizonte a ameaça da ressurgimento do desemprego.
A extrema tensão da atmosfera política no país é o resultado das contradições entre o crescimento da economia soviética e a política económica da burocracia que, tanto é monstruosamente em atraso nas necessidades da economia (1923-1928), como se assusta do seu próprio atraso e se lança numa fuga em frente, para recuperar por medidas puramente administrativas o que ela deixou passar (1928-1932). Aí também, um zig-zag à esquerda sucede um zig-zag à direita. Com esses dois zig-zags a burocracia encontra-se cada vez em contradição com as realidades da economia e por consequência com o estado de espírito dos trabalhadores. Ela não pode tolerar suas críticas, nem quando ela está em atraso, nem quando ela vai em frente.
A burocracia não pode exercer a sua pressão sobre os operários e os camponeses de outro jeito que em privando os trabalhadores da possibilidade de participar à solução dos problemas do seu próprio trabalho e de todo o seu futuro. É aí que se encontra o maior perigo. O medo constante da resistência das massas provoca ao nível político um ''curto-circuito'' da ditadura pessoal e burocrática.
Isso implica que seja preciso afrouxar os ritmos da industrialização e da colectivização ? Por um certo período, é indiscutível. Mas este período pode ser de curta duração. A participação dos operários na direcção do país, da sua política e da sua economia, um controlo real sobre a burocracia, o crescimento do sentimento de responsabilidade dos dirigentes em relação aos dirigidos, tudo isso só pode ter uma influência benéfica sobre a produção, diminuirá as fricções internas, reduzirá ao mínimo os custosos zig-zags económicos, assegurará uma repartição mais sã das forças e dos meios e, no fim de contas, aumentará o coeficiente geral do crescimento. A democracia soviética é uma necessidade vital sobretudo para a economia. Ao contrário, o burocratismo encerra trágicas surpresas económicas.
Se se examina globalmente a história do período dos epígonos no desenvolvimento da URSS, não é difícil chegar à conclusão que a premissa política fundamental da burocratização do regime foi o cansaço das massas a seguir ao transtorno da revolução e da guerra civil. A fome e as epidemias atingindo o país. As questões políticas passaram para o segundo lugar. Todos os pensamentos fixaram-se sobre um pedaço de pão. Durante o comunismo de guerra, todo a gente recebia a mesma ração de fome. A passagem à Nova Economia Política levou os primeiros sucessos económicos. A ração se tornou abundante, mas toda a gente não tinha direito a isso. A instauração da economia mercantil conduziu ao cálculo dos preços de custo, à racionalização elementar, à partida de operários das fábricas em excesso. Os sucesso económicos acompanharam-se durante um longo período do crescimento do desemprego.
É preciso não esquecer um só instante que o reforço da potência do aparelho se apoiava sobre o desemprego. Após anos de fome, o exército de reserva de desempregados assustava todos os proletários nas máquinas. O afastamento fora das empresas de operários independentes e críticos, as listas negras de opositores tornaram-se um instrumento dos mais importantes e mais eficazes nas mãos da burocracia estalinista. Sem esta circunstância, ela não teria conseguido abafar o partido de Lénine.
Os sucessos económicos ulteriores levaram progressivamente a liquidação do exército de reserva de operários industriais (a sobre-população escondida nas aldeia, mascarada pela colectivização, guarda ainda toda a sua acuidade ). O operários industriais não tem doravante mais medo de serem despedidos. A sua experiência diária lhe ensina que a improvidência e o arbítrio da burocracia complicaram consideravelmente a solução dos seus problemas. A imprensa soviética denuncia certas oficinas e empresas onde não se deixa bastante lugar à iniciativa dos operários, ao seu espírito inventivo, etc. : como se se pudesse fechar a iniciativa do proletariado nas oficinas, como se as oficinas pudessem ser oásis de democracia produtiva, enquanto que o proletariado é esmagado no partido, os Sovietes e os sindicatos.
O estado geral do proletariado é hoje muito diferente do que era nos anos 1922-1923. O proletariado cresceu numericamente e culturalmente. Após ter realizado um trabalho gigantesco, que está na origem da regeneração e do crescimento da economia, os operários sentem renascer e crescer a sua segurança. Esta segurança aumentada começa a se transformar em descontentamento em relação ao regime burocrático.
O partido amordaçado, o desenvolvimento do regime pessoal e do arbitrário pode dar a impressão de enfraquecimento do sistema soviético. Mas tal não é o caso. O sistema soviético é consideravelmente reforçado. Paralelamente, a contradição entre esse sistema e o grampo burocrático agravou-se claramente. O aparelho estalinista vê com terror que o sucesso económico não reforça mas pelo contrário sapa a sua posição. Na luta para manter as suas posições, ele é já obrigado a apertar o controlo, proibir toda forma de ''autocrítica'' outra que não sejam os louvores bizantinos dirigidos aos chefes.
Não é a primeira vez na história que o desenvolvimento económico entra em contradição com a situação política na qual ele se produz. Mas é preciso compreender claramente quais condições precisamente geram o descontentamento. A vaga opositora que avança, não é dirigida contra o Estado socialista, as formas soviéticas ou o Partido comunista. O descontentamento é dirigido contra o aparelho e a sua personalização, Estaline. O que explica que recentemente se desencadeou uma campanha furiosa contra o dito ''bando trotskista''.
O adversários risca de ser imperceptível, ele é por toda o lado e por parte alguma. Surge nas oficinas, nas escolas, escapa-se nas revistas históricas e em todos os manuais. Isso significa que os factos e os documentos confundem a burocracia, revelando as suas flutuações e erros. Não se pode lembrar o passado tranquilamente e objectivamente, é preciso refazer o passado, é preciso tapar todas as rachas pelas quais pode se infiltrar uma desconfiança quanto à infalibilidade do aparelho e do seu chefe. Temos diante de nós os traços característicos de uma camada dirigente que perdeu a cabeça. Iaroslavsky, ele próprio, revelou-se pouco seguro ! Não são incidentes devidos ao acaso, simples detalhes, conflitos de pessoas : o fundo do assunto é que os sucessos económicos, que, num primeiro tempo, reforçaram a burocracia, são, hoje, em oposição com a burocracia, pelo facto que a dialéctica do seu desenvolvimento. É por esta razão que na última conferência do partido, isto é no congresso do aparelho estalinista, o trotskismo, três vezes batido e esmagado, foi declarado ''vanguarda da contra-revolução burguesa''.
Esta resolução estúpida e ridícula do ponto de vista político levanta o véu sobre certos planos muito ''práticos'' de Estaline no domínio do ajusto de contas pessoais. Não foi por acaso que Lénine tinha prevenido o partido contra a designação de Estaline como secretário-geral : ''esse cozinheiro só pode nos prepara pratos picantes … '' E o cozinheiro ainda não esgotou a sua ciência culinária.
Apesar do aperto dos parafusos teóricos e administrativos, a ditadura pessoal de Estaline aproxima-se visivelmente do seu declínio. O aparelho está completamente rachado. A racha nomeada Iaroslavsky é somente uma centenas de rachas que hoje ainda não têm nome. O facto que a nova crise política amadurece na base dos sucessos manifestos e incontestáveis da economia soviética, do crescimento de efectivos do proletariado e dos primeiros sucessos da agricultura colectivizada, é uma garantia suficiente para que a liquidação do despotismo burocrático coincida não com um desmoronamento do sistema soviético, como se poderia temer há ainda três ou quatro anos, mas pelo contrário com a sua libertação, seu desenvolvimento.
Mas é precisamente no seu último período que a burocracia estalinista é capaz de fazer mais mal. A questão do seu prestígio tornou-se para ela a questão política central. Se se exclui do partido os historiadores apolíticos unicamente porque eles não souberam explorar os êxitos de Estaline em 1917, o regime plebiscitário pode admitir o reconhecimento dos erros cometidos em 1931-1932 ? Pode renunciar à teoria do social-fascismo ? Pode desdizer Estaline que resumiu o fundo do problema alemão na seguinte formula : que os fascistas cheguem primeiro ao poder, nossa vez seguirá ?
As condições objectivas na Alemanha são elas próprias sobre esse ponto imperativas se a direcção do Partido comunista alemão dispõe da liberdade de acção indispensável, ela seria já, sem qualquer dúvida, voltada para nós. Mas ela não é livre. Enquanto que a oposição de esquerda avança ideias e palavras de ordem do bolchevismo, verificadas pela vitória de 1917, a clique estalinista ordena por telegrama o lançamento de uma campanha internacional contra o ''trotskismo''. A campanha é levada não sobre a base dos problemas da revolução alemã, que é uma questão de vida ou de morte para o proletariado mundial, mas sobre a base de um artigo miserável e falsificador de Estaline sobre questões de história do bolchevismo. É difícil imaginar uma desproporção maior entre as tarefas do momento por um lado, seus magros recursos ideológicos da direcção oficial de outro. Tal é a situação humilhante, indigna e ao mesmo tempo profundamente trágica da Internacional comunista.
O problema do regime estalinista e o problema da revolução alemão estão ligados por um laço indestrutível. Os próximos acontecimentos o resolverão ou o resolverão tanto no interesse da revolução russa como da revolução alemã.
continua>>>Inclusão | 09/11/2018 |