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DESTA FORMA, a própria vida desmascara, a cada instante, a legenda que apresenta o plano Marshall como um programa de reerguimento da economia da Europa. A despeito do bluff americano, os fatos mostram que o plano Marshall, longe de contribuir para o reerguimento dos países da Europa Ocidental, mina as próprias bases de sua vida econômica, condenando-as a uma catástrofe econômica e uma progressiva ruína. Todos os planos dos magnatas do dólar partem da utilização da fraqueza econômica destes países para seus próprios fins tenebrosos.
Seu objetivo mais monstruoso, e ao mesmo tempo primordial, é a inclusão do Oeste europeu nos planos militares dos pretendentes americanos ao domínio mundial, transformando-o em base de agressão dos Estados Unidos.
No mundo capitalista, enfraquecido pela segunda guerra mundial, os Estados Unidos são a principal cidadela da reação e da expansão imperialistas. Exatamente como seus antecessores hitleristas, no caminho perigoso da luta pela dominação mundial, os imperialistas americanos tentam achar na arena política externa a saída para suas dificuldades internas que, cada vez se acentuam mais. Prova-se claramente inútil procurar afastar a crise econômica iminente apenas pelos métodos de expansão econômica. Nestas condições os monopolistas americanos contam prevenir ou pelo menos atenuar a crise por meio de uma corrida absurda aos armamentos, um aumento enorme de suas despesas militares e, finalmente, por aventuras guerreiras.
Os monopolistas americanos sentem que as posições que conseguiram obter pelo caminho da penetração econômica e política nos outros países são precárias. Os métodos de chantagem e de bluff praticados pela democracia do dólar não conseguiram enfraquecer o campo da democracia e do socialismo que tem à sua frente a União Soviética e os países de democracia popular. A política reacionária de Washington não pôde entravar o progresso das forças democráticas na Europa Ocidental e o desenvolvimento do movimento de libertação nacional no mundo colonial, e principalmente nos países da Ásia. Cada vez mais convencidos que é impossível atingir o domínio mundial apenas pelos meios econômicos e políticos, os monopolistas americanos atiram-se de cabeça na preparação e atiçamento de uma nova guerra mundial.
É sabido que os empreendimentos de guerra são preparados pelo imperialismo americano sob a capa de frases mentirosas em relação à defesa do hemisfério ocidental, à segurança dos Estados Unidos, à proteção do nível de vida americano e assim por diante. Constatando a aversão das massas pela guerra, ja imperialistas da América organizaram uma campanha de mentiras e calúnias do mais alto estilo. Esta campanha tem por fim intimidar as pessoas, sugerir às massas que a guerra é inevitável, criar uma atmosfera de psicose de guerra e de nervosismo, bem propícias aos atos mais insensatos. A isto se destinam as calúnias contra a URSS, baluarte da paz e da segurança dos povos, país que os falsificadores americanos apresentam, dia a dia, como um agressor sempre disposto, segundo eles, a se precipitar sobre a Europa Ocidental e a América.
O plano Marshallé um dos elementos mais importantes da política americana atual de preparação de uma nova guerra. Forma uma só peça com os projetos aventureiros de guerra dos diplomatas do átomo, assim como dos generais do Departamento do Estado e o Departamento de Guerra.
Um relatório do Comitê consultivo junto ao presidente americano para a ajuda aos países estrangeiros proclama solenemente que:
«os interesses dos Estados Unidos na Europa não devem ser considerados do único ponto de vista, dos fatores econômicos. Têm também um caráter estratégico e político».
O caráter real dos interesses estratégicos e políticos americanos não é mais um segredo para ninguém. O ministro da Defesa Forrestal e o financista conhecido e influente, Baruch, em suas declarações do início deste ano, revelaram com toda a franqueza o laço que existe entre o famoso «programa de reerguimento europeu» e a criação de um bloco militar agressivo sob a direção suprema dos Estados Unidos. Baruch tomando a palavra a 19 de janeiro de 1948 na comissão senatorial dos Negócios Estrangeiros, no decurso dos debates sobre o Plano Marshall, recomendou que os países da Europa «se agrupem numa união política econômica e defensiva» e que os Estados Unidos e os países «que pensam da mesma maneira dão aos países que fazem parte desta união garantias mútuas contra a agressão».
«Como garantia, disse Baruch, compreendo a firme promessa de entrar em guerra para a defesa comum, se um entre eles for atacado».
A eventualidade de um «ataque» é evocada neste caso, bem entendido, com o único objetivo de tapear. E é este também o fim de todas as afirmações relativas ao caráter chamado «defensivo» da aliança militar. Quem não sabe que os agressores imperialistas falam sempre dos fins «defensivos» de seus preparativos de guerra? Duas semanas mais tarde, o ex-congressista Fish, representante da organização «América First», tomou a palavra nessa mesma comissão senatorial dos negócios estrangeiros. Este descarado bandido fascista pediu a criação de um bloco militar da Europa Ocidental contra a União Soviética. Conclamou para:
«completar imediatamente o plano Marshall por meio de acordos militares com a Inglaterra, a França, a Itália e a Espanha (esta última sobretudo, como país anti-comunista), com a Bélgica, a Holanda, a Suíça, os países escandinavos e, talvez, o Canadá, a União Sul Africana, a Austrália e a Nova Zelândia».
Durante os meses seguintes foi iniciada uma azáfama febril para a realização do programa Marshall-Baruch-Fish, programa de criação, sob a égide de Washington, de um bloco militar e político dos países da Europa Ocidental, bloco dirigido contra a União Soviética e os países da democracia popular.
É afinal para que serve o pacto dos cinco firmados em Bruxelas entre a Inglaterra, a França-, a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo. Este pacto não pode em caso algum ser considerado como um acordo de caráter defensivo. Fato sintomático: menção referente à defesa contra uma agressão alemã eventual, menção feita em termos velados, não foi incluída no projeto do pacto senão na última fase de sua preparação. Ao mesmo tempo o texto de pacto não deixa nenhuma duvida de que a aliança militar dos cinco países pode ser dirigida indistintamente contra qualquer dos países que foram aliados na segunda guerra mundial. E aquilo que o texto em questão silencia, a imprensa americana, inglesa e francesa proclama francamente. Brada a todo o mundo que o pacto de Bruxelas é dirigido contra a União Soviética e as democracias populares.
A resolução Vandenberg de apoio às alianças militares chamadas regionais, resolução votada pelo congresso a 11 de junho, é um novo passo na montagem do bloco ocidental. Esta resolução cria uma base jurídica para o papel dirigente dos Estados Unidos em qualquer ação agressiva e aventureira sobre o continente europeu.
Na hora atual, a atividade da diplomacia americana e de seus agentes da Europa. Ocidental tem um caráter duplo. De um lado, esforçam-se por alargar o quadro da União Ocidental. Para consegui-lo exercem especialmente uma pressão cada vez mais forte sobre os países escandinavos. Os círculos dirigentes da Noruega e da Dinamarca já vão longe para executarem seus planos. Por outro lado, os participantes do bloco ocidental organizam incessantes conferências para coordenarem seus planos e preparativos de guerra.
A este fim são consagrados especialmente as conversações «não oficiais» que se realizam neste momento em Washington. Tomam parte nestas conversações, segundo as informações que vieram a lume pela imprensa, os Estados Unidos, os cinco países signatários do pacto de Bruxelas e o Canadá. Já ressaltamos as intervenções dos ministros canadenses Saint-Laurent dos Negócios Estrangeiros, e Claxton, da Defesa, que pregam uma nova guerra. O governo canadense, que participa das conversações de Washington, propõe ampliar o bloco ocidental, completando este bloco com um pacto do atlântico norte entre os países do Oeste europeu, os Estados Unidos e o Canadá. Foi mencionada na Câmara dos Comuns, a este respeito, uma declaração do governador geral da Nova Zelândia que, por seu lado, se pronunciou favorável a uma «aliança defensiva mais estreita entre a Nova Zelândia, a Inglaterra e a Europa Ocidental». À semelhança de Hitler, que admitiu os japoneses ns seio da raça ariana, seus continuadores americanos estão dispostos a situar a Nova Zelândia no norte do Atlântico, Realmente a carne de canhão não tem cheiro!
Tal é o programa do fascista americano Fish em ação. E ninguém se espantará de ver os pseudo-socialistas do tipo Bevin e Leon Blum trabalharem com maior zelo na realização desse programa.
Enquanto se realizam conversações «não oficiais» em Washington, na Europa procura-se um «dirigente militar único» para as forças reunidas do bloco ocidental ou do pacto do atlântico norte. A 6 de julho, o jornal «Le Monde» publicou uma carta de Paul Reynaud, um dos que antes traíram a França. Considero, escreve Reynaud nessa carta, que a partir de hoje, se deve designar um dirigente supremo único para, em caso de necessidade, dirigir a batalha na Europa. Deve ser designado antecipadamente no plano inter-aliado, da mesma forma como os comandantes gerais da aviação, dos exércitos de terra e mar, que lhe serão subordinados e dirigirão as forças ocidentais.
Mais adiante, Paul Reynaud fixa sua posição, ao declarar que este dirigente militar único se preocupará em estudar e preparar a futura guerra, em pedir os meios necessários ao comitê dos delegados dos estados-maiores; esse dirigente entrará antecipadamente em contacto com as formações que serão colocadas sob seu comando em caso de guerra (por exemplo com as tropas de ocupação da Alemanha).
Os debates sobre estes assuntos, animados na imprensa oficiosa francesa, coincidiram com a chegada a Paris de Montgomery. Assim, Reynaud, traidor da França, tornou-se intermediário a favor de Montgomery. De seu lado, pretende, ao que parece, o posto de governador geral da França junto ao «dirigente militar ocidental». Todo este episódio mostra até onde vão os preparativos militares do bloco ocidental. Como sempre acontece nas combinações imperialistas deste gênero, as mesmas ameaçam principalmente a independência e os interesses vitais dos próprios participantes do bloco. Assim sucedeu no bloco hitlerista, e assim sucede no bloco atual do dólar.
Obrigando um certo número de países a tomarem parte na agressiva União Ocidental, o plano Marshall impõe aos povos da Europa Ocidental enorme encargo sob o aspecto de armamentos. Não é por acaso que na hora presente, três anos após a guerra, os orçamentos militares dos países da Europa Ocidental aumentam rapidamente. O peso das despesas militares consome uma economia já esgotada, privando-a de todos os meios de reerguimento e desenvolvimento real. Constata-se o aumento do efetivo dos exércitos, o que retira do trabalho produtivo uma parte importante da população válida.
Sob a aparência da estandardização dos armamentos, os tutores americanos obtiveram um novo meio de explorar de modo cada vez mais intenso os países da Europa, de se imiscuírem em sua vida econômica, de privá-los em definitivo de sua independência. A indústria de guerra destes países torna-se de fato uma filial da economia de guerra americana. Por outro lado, os «protetores» americanos revendem aos seus clientes por preços exorbitantes o material de guerra antiquado.
A tensão internacional criada e mantida artificialmente pela diplomacia de Marshall constitui um fator considerável de acentuação da catástrofe econômica nos países do Oeste europeu.
Os países da Europa são obrigados a pôr à disposição dos expansionistas americanos bases militares em seu próprio território e no das suas colônias.
É sabido que as bases navais e de aviação americanas estão espalhadas pelo mundo inteiro, a milhares de quilômetros dos Estados Unidos. Seu papel, com vistas à agressão, é incontestável. Estas bases estão nas paragens árticas e na Itália, na Grécia e na Turquia, no Japão e na China, na Áustria e na Alemanha Ocidental, no Egito e no Irã. Também foram criadas bases na África do Norte e na Arábia Saudita.
Desde o início de 1948 a imprensa comunicava que o governo americano, em troca de sua «ajuda» na base do plano Marshall, exige, entre outras coisas, a revisão do tratado anglo-americano de 2 de setembro de 1940, que conferia aos americanos o direito de construção e utilização, durante um período de 99 anos, de uma base naval e de aviação na Guiana Inglesa. Era comunicado em seguida que os americanos propunham à Inglaterra lhes vender as colônias que tivessem preciosas jazidas de bauxitas, tais como a Jamaica. Querem igualmente comprar à França, a Guadalupe e a Martinica, e à Holanda, a Guiana Holandesa e Curaçao. A Dinamarca é objeto de uma continuada pressão, cujo fim é se apoderarem da Groelândia.
É de notar, como especialmente importante, o papel realmente sinistro reservado no plano Marshallà Alemanha Ocidental. A indústria pesada do Rhur foi duas vezes, no espaço de um quarto de século, o arsenal da agressão alemã. Hoje os imperialistas americanos visam restabelecer este arsenal que é, segundo a expressão ilustrada por John Foster Dulles, o «coração econômico da Europa». A reconstituição do arsenal do Rhur sob o controle americano é o elemento principal de todo o plano Marshal.
O Rhur é, talvez, a única região do Oeste europeu que os monopolistas da América têm realmente a intenção de reerguer. Têm necessidade de carvão e do metal do Rhur para dominar economicamente a Europa Ocidental. Têm necessidade do Rhur como forja de armamentos para seus empreendimentos de guerra. Têm necessidade da Alemanha Ocidental como fonte de carne para canhão.
A política americana, na Alemanha, visa dividir, desmembrar esse país, visa transformar sua parte ocidental em feudo das forças reanimadas da reação e do militarismo alemães, a serviço do dólar. A diplomacia do dólar rasgou sem pejo os acordos de Ialta e de Potsdam referentes à Alemanha, acordos a que apenas se refere de tempos a tempos para encobrir as manobras tenebrosas. Com seus sócios anglo-franceses esta diplomacia sabotou a desmilitarização e a desnazificação na Alemanha Ocidental. Passou por cima das decisões dos aliados a respeito da destruição do potencial de guerra alemão e sobre o recebimento das reparações. Depois da Conferência unilateral de Londres, as três potências ocidentais liquidaram por sua própria iniciativa a administração quadripartite da Alemanha. O sentido real de todos estes atos surgirá bem claro se os apreciarmos em sua ligação indissolúvel com o plano Marshall, plano de aventuras de guerra na Europa.
A própria vida revelou o estreito laço que existe entre esse plano e a intervenção americana nos negócios internos dos países europeus. Determina-se a estes países que vivam segundo as normas americanas, que assimilem a famosa maneira de pensar americana, que significa poder absoluto dos monopólios, sem precedente na Europa, obscurantismo em todos os domínios da vida cultural e ideológica, volta ao estado mais primitivo no setor da vida espiritual, miséria intelectual enfim. Os «protetores» americanos determinam aos países da Europa Ocidental que adotem uma legislação reacionária dirigida contra a classe operária e contra todas as forças democráticas, que se juntem à histeria anti-comunista que deve, à semelhança da Alemanha hitlerista, servir de cortina à fascistização do aparelho do Estado, ao esmagamento das liberdades democráticas e dos direitos da população, e, para a preparação de uma guerra agressiva.
Os dirigentes americanos declararam por mais de uma vez que a «ajuda» sob o plano Marshall não será concedida aos países onde os comunistas tomam parte no governo. Após estas declarações os representantes dos grandes Partidos Comunistas da França e da Itália foram afastados ilegalmente da participação do poder. Hoje, os políticos americanos declaram que a «ajuda» do plano Marshall não será dada também aos países que não tenham estabelecido internamente leis anti-comunistas do tipo americano. É fato conhecido que o governo trabalhista britânico se comprometeu, já há muitos meses, neste vergonhoso caminho.
Por ocasião dos debates sobre o acordo bipartite a respeito do plano Marshall, o republicano De Vita na Câmara italiana, como primeiro orador, pronunciou-se pela ratificação do acordo, declarando que o plano Marshallé — não um instrumento de guerra, mas um instrumento de luta contra o comunismo. Poderia repetir-se neste sentido, depois de Jean Hus, «O canta simplicitas!», se nas condições atuais, não fosse mais provável que o republicano esconda neste caso o fascista de ontem, que sabe muito bem por experiência hiterista e mussoliniana, que a «luta contra o comunismo» é uma cortina de fumaça que esconde os preparativos de uma guerra criminosa. Alguns dias após o discurso do republicano De Vita, deu-se o criminoso atentado contra Palmiro Togliatti, dirigente dos trabalhadores italianos. Não será isto prova do papel real do plano Marshall e dos inspiradores e defensores deste plano?
Desta forma, se nota que sob a capa de frases hipócritas a respeito do programa de reerguimento econômico da Europa, a respeito da segurança e defesa do hemisfério ocidental, os atuais pretendentes ao domínio mundial se esforçam por subjugar o Oeste europeu e transformá-lo numa só base da economia de guerra e na base estratégica objetivando novas atividades belicistas.
Este o objetivo final e essencial do plano Marshall.
Inclusão | 28/03/2008 |