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“Última Hora”, jornal carioca, andou perguntando, durante uns poucos dias, a governantes e a pessoas do povo, se deve ou não o Brasil enviar a sua mocidade para ser morta e estropiada na chamada guerra da Coreia.
Como homem do povo, pai e patriota, senti-me na obrigação de enviar ao jornal a minha espontânea resposta. Infelizmente, a “enquete” não durou senão uns 5 dias, encerrada que foi precipitadamente.
Aproveito a resposta que então redigi para publicá-la aqui, à guisa de prefácio e como contribuição, modesta embora, para a campanha de esclarecimento contra a guerra.
Os círculos dirigentes trairão os supremos interesses do Brasil se o levarem a participar da guerra na Coreia; despertarão no coração dos pais brasileiros o mais profundo ódio se pretenderem mandar os seus filhos morrer e se estropiar nessa guerra inglória; justificarão a rebeldia da nossa mocidade que não quer transformar-se em carne para canhão.
Essa minha opinião resulta do seguinte:
1 – Desde 1898, quando os Estados Unidos declararam guerra à Espanha para a conquista das Antilhas espanholas, das Filipinas e outras ilhas no Atlântico e Pacífico, sob o mentiroso pretexto de “libertá-las” do jugo espanhol, tanto que as transformou, para logo, em colônias norte-americanas, as múltiplas guerras seguintes também têm sido imperialistas, guerras que custaram milhões de mortes, milhões de estropiados, principalmente da mocidade mais sadia e capaz de todos os povos, bem como destruições materiais incalculáveis, mas, em compensação, renderam fabulosos e incalculáveis lucros aos multimilionários norte-americanos e sobras para os seus associados dominantes nos demais países do mundo.
2 — A guerra imperialista dos Estados Unidos contra o México, “Foi uma guerra de conquista... um injusto ataque de uma nação poderosa contra uma fraca”, na qual correu copioso o sangue das mocidades ianque e mexicana, mas em compensação os multimilionários norte-americanos tiveram imensos lucros e roubaram ao bravo povo mexicano extensos territórios.
3 — Estimulado, o senador ianque G. Brocon traduzia a fome de lucros insaciáveis dos multimilionários norte-americanos, dizendo, em 1913, em pleno Senado dos Estados Unidos: “Temos interesses em possuir Nicarágua. Temos manifesta necessidade de tomar conta da América Central: e se temos essa necessidade, o melhor é irmos já, como senhores, àquelas terras. Se seus habitantes quiserem ter um governo bom, muito bem e tanto melhor; se não quiserem, que vão para aquela parte... Dir-me-ão que há Tratados: MAS QUE IMPORTAM OS TRATADOS! se temos necessidade da América Central?” E os tratados, como “farrapos de papel”, foram jogados à lata do lixo e os países da América Central são hoje verdadeiras colônias norte-americanas.
... os tratados mais solenes costumam ser considerados “farrapos de papel”, quando contrariam interesses das grandes potências.
(Artur Bernardes — da sua conferência no Clube Militar, em 27-6-1951 — in “Jornal de Debates” — 20-7-1951 – Pág. 10 — Brasil).
4 — Na guerra imperialista de 1914-1918, em que dois grupos de multimilionários faziam os seus países lutar por uma nova divisão do mundo, para mais colônias e países dependentes e semicoloniais poderem explorar, com exclusividade, os multimilionários ianques, a oligarquia financeira norte-americana, que em todo o transcorrer da luta se havia limitado a fornecer para a manutenção e prolongamento da lucrativa guerra, obriga o Estado americano a nela também entrar, no final, para participar da melhor parte do “botim” de guerra. De tal forma lucraram na guerra de 1914-1918 os multimilionários ianques, que os Estados Unidos de nação devedora passou a ser credora! O preço pago pelos povos para o maior enriquecimento dos multimilionários ianques e de seus associados pelo mundo foi entretanto muitíssimo elevado, pavoroso! Afora as destruições de cidades inteiras, de riquezas materiais e artísticas incalculáveis, atente-se no que custou para os homens do povo, para os que só padecem nas guerras:
Mortos — número oficial | 9.998.771 |
Feridos graves | 6.295.512 |
Feridos em geral | 14.002.039 |
Prisioneiros e desaparecidos | 5.983.600 |
Mortos por doenças devidas da guerra | 10.000.000 |
Total | 46.279.922 |
5 — O preço pago pela fina-flor da mocidade mundial, de velhos, mulheres e crianças, somente com o seu sacrifício físico individual, para que mais fabulosamente rica ficasse a oligarquia financeira norte-americana, com sobras para os seus associados, atingiu a cifra incrível de quase 50 milhões de criaturas humanas.
A mesma história se repetiu na guerra de 1939-1945, apenas em proporções fantasticamente maiores. As destruições materiais e artísticas, as perdas humanas, seja por morte, estropiamento e extravio, ainda não foram traduzidas em números, certamente porque os beneficiários das guerras temem que os homens de todos os quadrantes da terra se levantem como um só homem e os punam como merecem. Todavia, se tal macabro balanço ainda não foi dado, já sabemos, porém, que os Estados Unidos foram o único país que ganhou com a guerra de 1939-1945 centenas de bilhões de dólares, que serviram para mais enriquecer os multi- -bilionários norte-americanos, donos hoje de quase metade do mundo, excluídos os países socialistas.
6 — Ameaçados em seus superlucros, à custa do sangue, miséria e liberdade dos povos, os multibilionários norte-americanos preparam a nova guerra, ganhando, desde logo, nos preparativos em 1949-1950, quase quatro vezes mais do que lucraram no ano de 1943, ano de apogeu nos lucros de guerra.
7 — A Coreia, simples episódio na política guerreira dos multibilionários ianques, tem servido para que eles mais fantasticamente ricos fiquem, ao mesmo tempo que é fase preparatória do negócio maior que ainda farão, se conseguirem desencadear nova guerra contra os povos socialistas. Quem duvidar desses lucros fabulosos, que examine as estatísticas publicadas pela ONU.
8 — pessoas de boa fé e simples desconhecem, com demasiada frequência, a dura e cruel realidade da guerra imperialista.. Essa cruel realidade, porém, ri-se e diverte-se macabramente de todas as ingenuidades e boa-fé.
9 — Enquanto os multibilionários norte-americanos mais se enriqueceram e poderosos ficaram, ao ponto de dominarem todos os povos, com exceção dos socialistas, que aconteceu para a nossa Pátria?
Além do sangue generoso dos nossos filhos, derramado nos campos de batalha na Itália — “As despesas da guerra, os créditos concedidos aos aliados e os donativos à UNRRA, no valor aproximado de UM BILHÃO de dólares, comprometeram nossas finanças, sem compensação material de qualquer espécie (Trecho da famosa carta do ex-Ministro da Fazenda, Pedro Luiz Corrêa e Castro).
10 — Novamente os multibilionários norte-americanos, por intermédio dos seus serviçais entre nós, exigem que o sangue dos nossos filhos seja derramado.
Para que? ,
Para que Mac Arthur, ao olhar para os cadáveres dos nossos filhos, possa repetir novamente o que disse a Ray Macartney, enviado especial da
Reuter, em 17 de setembro de 1950, diante de 4 cadáveres de jovens coreanos, conforme toda a imprensa publicou:
É UM BELO ESPETÁCULO PARA OS MEUS VELHOS OLHOS!
Para que o Brasil mais se empobreça e ostensivamente seja uma colônia norte-americana?
Para que os multibilionários norte-americanos transformem o mundo num imenso campo de concentração de trabalho forçado, a fim de que eles e os seus filhos gozem de todas as delícias do mundo?
NÃO, NUNCA!
Meu filho, para criá-lo e educá-lo custou-me toda uma vida de lutas, angústias e sacrifícios, como custam os filhos de todos os pais brasileiros.
NÃO! Meu filho, tal como eu, ontem, hoje e amanhã, daremos ao nosso Brasil, à nossa Pátria, tudo quanto ela necessitar para se tornar livre e independente, econômica e politicamente. Jamais lhe regatearemos um só sacrifício.
Jamais, todavia, seremos instrumentos da sua escravização para que multibilionários estrangeiros possam sugar o sangue da nossa gente, convertendo-o em dólares!
De acordo com a nossa tradição e a nossa Constituição, jamais participaremos de uma guerra que não seja para a defesa dos supremos interesses da nossa Pátria, que não seja para a libertação do nosso povo!
CALVINO FILHO
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