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No dia 25 de Abril, juntou-se um grupo de pescadores para impedir que fosse descarregado peixe que vinha de fora. O patrão, como queria o pessoal a trabalhar, disse ao mestre que telefonasse à PIDE, e o mestre é que lhe disse que a PIDE estava escondida porque tinha havido um golpe. Já ninguém trabalhou. Depois de vir para casa vejo um grande alvoroço no liceu, algazarra e barulheira com altifalantes, fiquei completamente eufórica. Foi organizada uma grande manifestação que partiu do liceu, passou pelas fábricas, pelo largo da Câmara até Ferragudo.
Logo depois começámos a luta por um horário fixo, já que antes do 25 de Abril nós não tínhamos horário semanal e tanto trabalhávamos 2 ou 3 horas como dias e noites seguidas. Peixe congelado era só o que vinha do Norte, o resto era na altura e enquanto estava fresco. Era bem duro.
O ponto alto da luta foi no final de 1974, quando estivemos paradas mais de 30 dias, com piquetes dia e noite para impedir a entrada de peixe e a saída das conservas. Foram noites seguidas à volta das fogueiras. Mas conseguimos. Deixámos de fazer serões, acabámos com os prémios e os registos do peixe trabalhado. Obrigámos os patrões a montar câmaras frigoríficas nas fábricas para podermos ter peixe para se trabalhar e lutámos pelas 32 horas de trabalho fixo por semana. Também conseguimos luvas de borracha para quem trabalhava o peixe. Ainda em 1974 entrei no PCP e depois, em 1975, fui eleita para o sindicato, onde estive até 1985.
★★★
A Luta das Conserveiras
Muita gente nesta terra
Nos fala em socialismo
São cantigas p’ra esconder
O avanço do fascismo
E as operárias conserveiras
com o apoio do povo
travam uma justa luta
p’ra ter um contrato novo.
Refrão:
Ó patrão arruma as botas
que a gente não vergará
nós estamos vigilantes
a conserva não sairá
Trinta dias já passaram
Daqui não vamos embora
Nós qu 'remos ver d’uma vez
O contrato cá p’ra fora
Camaradas conserveiras
Não podemos desarmar
Continuemos na luta
Que o patrão vai arrear.
Refrão
Andam uns certos senhores
Em bailes e diversões
Enquanto os trabalhadores
Estão de pé contra os patrões
Há quem passe por aqui
P’ra ver como as coisas vão
Qu’é p’ra no dia seguinte
Meter no cu do patrão
Refrão
Continuemos na luta
Para ter melhores salários
Não há patrão que resista
à força dos operários
A luta pelo contrato
É a luta contra o fascismo
Não queremos mais roubalheira
Em nome do socialismo.
Refrão
Inclusão | 23/11/2018 |