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Alhos Vedros, 25 de Maio de 1973
O «rigoroso sigilo» da Polícia Judiciária manteve-se. As investigações não progrediram em resultados. Assim os «bandidos» continuaram «à solta», constituindo «permanente ameaça»... Essa ameaça fez-se sentir muitas outras vezes sobre outros Bancos. A maior parte deles manteve-se desconhecida. Apenas os de Alhos Vedros, por motivos não directamente ligadas ao assalto, vieram a ser conhecidos: Um dos pontos de apoio onde o dinheiro foi guardado veio mais tarde a ser denunciado, quando o dinheiro já lá não estava. Mas essa indicação ligou definitivamente os assaltos do Banco de Alhes Vedros às Brigadas Revolucionárias.
As Brigadas Revolucionárias, o PRP, como qualquer organização necessitavam de dinheiro para existir. Dinheiro para pagar rendas de casa, para pagar materiais, armas, transportes; para pagar maquinas de tipografia, papel para propaganda. E como nunca tiveram um tostão de ajuda de qualquer organização ou país estrangeiro (o que significou nalguns casos não estarem dispostas a vender a sua independência) ou a serem uma colónia de estratégia doutros países), viram-se obrigadas a ir buscar o dinheiro onde ele estava — aos Bancos.
Para fazer a luta revolucionária foram assim recuperar um pouco da mais valia deixada pelos trabalhadores nas mãos dos seus patrões.
Mas entenderam as Brigadas Revolucionárias que nunca deviam reivindicar as acções de recuperação de dinheiro. Embora políticas, eram acções ditadas sobretudo pelas necessidades de organização; e não as reivindicando contribuiam para a confusão da polícia, não lhe fornecendo elementos: desse modo também não atraíam sobre si a atenção conjunta da Pide e da Polícia Judiciária.
Muitos foram os assaltos das Brigadas Revolucionárias: durante os últimos anos. À maior parte permanece uma incógnita. Nem a Pide nem a Polícia Judiciária lograram identificar os assaltos ou prender qualquer dos assaltantes. Hoje estes assaltos estão todos amnistiados. Os militantes tratados de «bandidos» por alguns jornais estão agora na luta política de organização, construindo um partido diferente do clandestino, adaptado às novas condições. Alguns deles encontram-se entre os dirigentes mais responsáveis do PRP - BR.
Ontem, recuperando dinheiro para fazer luta armada, hoje organizando e apoiando greves, a posição revolucionária mantem-se contra o inimigo que permanece — o capitalismo.
Seis minutos, nem mais nem menos, foi o espaço de tempo suficiente para cerca de mil contos «abandonarem» o cofre-forte e a «caixa» da agência do Banco Português do Atlântico em Alhos Vedros, sob a acção de seis assaltantes mascarados e armados (entre os quais uma rapariga), que, a título de pagamento, deixaram nas instalações daquele estabelecimento bancário uma embalagem de aspecto perigoso e com as alarmantes iniciais TNT... toscamente desenhadas à mão. O assalto, executado ontem entre as 11 e 55 e as 12 e 1, no já conhecido «Banco de Alhos Vedros», não foi inédito. A maioria da população daquela localidade da outra banda ainda recorda o «hold-up» levado a cabo, no mesmo estabelecimento, a 6 de Novembro de 1972, por quatro indivíduos não identificados até agora, e cujo montante ascendeu a dois mil e quinhentos contos.
O «golpe» de ontem foi presenciado por numerosas testemunhas, contidas em respeito na via pública pela ameaça das armas empunhadas pelos assaltantes. Momentos depois, enquanto cada qual contava a «sua» participação involuntária no acontecimento, uma criança de nove anos, que assistiu aos dois assaltos, comentava na sua ingenuidade: «Gostei mais deste do que do outro. Ora, ao menos esta vez, havia uma menina bonita como nos filmes ...»
Capital, 25 de Maio 1973
— Faça favor de abrir o cofre! — Revólver em punho, um dos assaltantes de ontem da dependência do Banco Português do Atlântico em Alhos Vedros dirigiu-se desta forma ao tesoureiro que, sob à ameaça das armas, executou prontamente a ordem. Instantes depois, cerca de mil contos em notas usadas eram metidos num saco pela jovem de mini-saia que participou no assalto. Tal como há pouco mais de seis meses, e no mesmo estabelecimento bancário, Oo «golpe» resultou em pleno para os assaltantes, que logragram pôr-se em fuga sem que ninguém os conseguisse deter e desaparecer em direcção de Coina.
— A repetição do assalto em tão curto espaço de tempo provocou uma reacção curiosa nos habitantes de Alhos Vedros: referindo-se ao acontecimento, as pessoas falavam daquilo que observaram ou ouviram contar com a maior das naturalidades... como se o assalto ao «seu» banco — pois que é o único estabelecimento do tipo na localidade — fizesse já parte do quotidiano, constituísse um hábito, em suma. Houve mesmo quem perante nós se lamentasse de tanto por ocasião do primeiro assalto como agora nada tivesse presenciado, apesar de trabalhar num estabelecimento da mesma artéria.
Efectivamente, muita gente pensa ter tido oportunamente de ver os assaltantes, inclusivamente na véspera, quando estes teriam rondado o estabelecimento.
D. Olívia Maria Alfaia é pasteleira. Faz os seus bolos em casa e nos intervalos gosta de vir dar uma espreitadela à rua, a mesma na qual se situa a agência do banco. Como «não param por ali muitas caras que ela não conheça», estranhou na véspera do assalto a presença na rua de uma jovem vestindo mini-saia azul e camisola encarnada, sobre a qual envergava um casaco de malha da mesma cor.
— Era uma rapariga franzina, como a visse andar para cima e para baixo pensei que viesse à procura de bolos. Fiquei a ver e dei conta de parado um pouco abaixo do banco, um carro. Ao volante estava um senhor. Estive por ali uns minutos. Depois, a rapariga meteu-se no carro, que arrancou. Tinha uma matrícula em papel ou coisa parecida, Digo isto porque já tive uma dessas quando o nosso carro deu uma «panada».
O mesmo automóvel foi notado na rua pela pasteleira cerca das dez horas, de ontem. A jovem esteve parada perto da sua casa, tendo-se depois encostado à porta do carro falando com o «senhor» do volante, o mesmo da véspera. No momento, Olívia pensou em tudo menos no assalto.
Um pouco antes, também uma outra moradora na rua, D. Maria da Natividade, ao dirigir-se do lado da farmácia em direcção ao banco, observou um indivíduo a sair de um automóvel.
— Era um homem com tipo de «cigano». O ar dele despertou-me a atenção, e mais ainda quando ele, ao chegar à porta do banco, ajeitou o casaco e, depois de olhar para dentro, fez um sinal de avançar para os dois homens que tinham ficado no carro. Indivíduos que conversavam. Nessa altura o do volante fez até menção de arrancar com o carro. Mas depois desistiu. Como vi um deles entrar no banco e nada mais acontecer, segui e não mais no assunto. Mas pode crer que de início lembrei-me do assalto do ano passado!
A relação destes três indivíduos com o grupo armado é, todavia, mera hipótese. Depois do que sucedeu, todas as pessoas que foram vistas nas imediações poderão ter tido atitudes naturais que depois assumem ar suspeito... O que já não sucede no que se refere à jovem da mini-saia: um pouço depois das dez da manhã, esteve no banco a trocar francos (acompanhada por um jovem franzino de fato escuro) usando no momento um lênço amarelado na cabeça. A sua presença foi notada pelos presentes, devido ao facto de lhes ser desconhecida e a sua aparência física bastante agradável despertar a atenção.
O momento do assalto verificar-se-ia, porém, ao fim da manhã.
Cerca das 11 e 50, a referida D. Olívia atendia à porta de casa o indivíduo que lhe fornece a margarina para os pastéis.
— Reparei, depois de o ter atendido, carro que já tinha visto na véspera e de manhã estacionava outros dois carros. Reconheci ao volante o mesmo homem. Lá de dentro, mal parou o carro, saiu um senhor, veio direito a mim e disse-me: «Por favor meta-se para dentro! ». Eu fiquei admirada e disse-lhe que ninguém me dava ordens. Ele tornou a repetir «Meta-se para dentro». E eu voltei a responder: «Isso é que não meto!» Do outro lado da rua estava um velhote e o senhor gritou para ele «ala daqui», ao que o velho repondem: «Não tenho nada a ver com isso». E prosseguiu.
— Nessa altura ele puxou de una pistola a sério e apontoa-ma. No momento, pensei qie ele queria matar alguém e girei pela minha empregada, que veio à porta. O homem desandou e eu vi então já perto da porta do banco, dois outros. Como vi que um deles enfiava qualquer coisa na cabeça, antes de entrar, suspeitei de repente de um assalto, porque me lembrei do que houve o ano passado. Corri então para o telefone avisar a Polícia.
— Mãos ao ar, foi a primeira frase que um dos jovens armados pronunciou após a entrada da grupo no banco, o que provocou a atenção e o susto de todos quantos estavam presentes: 13 empregados e dois clientes. A porta continuou aberta e as persianas estavam parcialmente corridas, o que impossibilitaria qie qualquer transeunte pudesse presenciar a cena. Este ambiente de segredo foi proporcionado pelo dia de intenso calor pois, de contrário, os empregados teriam subido totalmente as persianas.
Dois dos jovens armados estavam mascarados com uma meia e outro disfarçava os traços fisionómicos com a gola da camisola levantada, que segurava com os dentes. A moça, de mini-saia, franzina e de voz suave, apresentava a cara nua, sem qualquer máscara.
Empregados e clientes puderam verificar e concluir que a pistola metralhadora que um do grupo empunhava, era mesmo verdadeira e que, as restantes três armas, eram revólveres porque tinham tambor.
— Armas de ferro, não restavam dúvidas, disse-nos um dos clientes presentes, o sr. Fernando Serrado.
— Façam favor de se encostar àquele canto, foi a segunda frase pronunciada pelo porta-voz do grupo à qual os clientes, entrando dentro do balcão, e os empregados que já lá estavam, obedeceram prontamente. Todos ficaram encostados ao canto direito, de mãos levantadas, mas de frente para a porta, presenciando, portanto, os acontecimentos.
A seguir dois dos jovens armados entraram para dentro do balcão e, um deles, procedeu, acto continuo, ao corte de fios telefónicos que se encontravam no gabinete, situado do lado direito. Ele voltou e disse aos companheiros: «Está tudo em ordem, podemos trabalhar à vontade».
Então foi ordenado ao tesoureiro, nos termos atrás referidos, que abrisse o cofre.
Foi a rapariga que retirou o dinheiro e o meteu no saco. Foi ainda à mesma jovem que procedeu à recolha de uns dinheiros que se encontravam sobre uma secretária, mas um dos empregados disse-lhe: «Olhe que esse dinheiro é meu» ao que ela retorquiu: «Então se é teu toma-o lá», e devolveu-lho. Esse dinheiro fora trocado pelo empregado, a pedido de um amigo.
Ensacado o dinheiro, o grupo armado começou a recuar em direcção à porta ao mesmo tempo que aconselhava empregados e clientes a não fazerem qualquer gesto e a ficarem na mesma posição até algum tempo depois da sua saída.
Assomando à porta do seu estabelecimento, após ter sido alertado pela mulher, o talhante estabelecido na mesma artéria viu sair do banco o último dos assaltantes ainda com a pistola metralhadora na mão. Algo de insólito então aconteceu: o jovem deixou cair o casaco dos ombros e calmamente voltou atrás e apanhou-o. Meteu-se então no carro onde já estavam os companheiros.
— O tipo trazia ainda uma coisa metida na cabeça, e assim que o carro arrancou disse adeus para toda a gente.
Entretanto, a pasteleira que regressara do telefonema que fizera à Polícia, viu também os assaltantes saindo do banco.
— Vinham a caminhar calmamente, muito descontraídos. Sorriram e acenaram para as pessoas que entretanto tinham parado ano vê-los de armas na mão. À rapariga, acenando um adeus, disse qualquer coisa que me pareceu «já cá canta» ou coisa parecida.
O carro arrancou em velocidade na direcção de Coina. Mas logo, após iniciar a marcha, quase esbarrou com um outro que vinha em sentido contrário e um pouco fora de mão, devido às obras a decorrer em parte do pavimento. O condutor, porém, guinou o carro para a direita e subindo um pouco o passeio conseguiu evitar o choque prosseguindo a marcha. Ao fundo da avenida, em lugar de cortar para a esquerda, o automóvel virou inesperadamente para a direita, apesar do sinal de proibição naquele sentido, seguindo em direcção à passagem de nível, que atravessou.
Nessa altura, um jeep com o cabo da GNR da Moita, estava já a chegar à Avenida Bela Rosa, não se tendo cruzado com o carro do grupo por diferença de segundos.
Entretanto, no interior do banco, seguira-se um silêncio sepulcral, após a saída dos assaltantes. Passados alguns momentos e dado que todos começaram a reparar que o grupo tinha deixado em cima do balcão uma caixa de plástico, azul e branca, alguém terá dito: Fujamos para a rua que aquilo pode ser uma bomba! E todos sairam.
Verificou-se depois que a caixa, normalmente usada para guardar detergentes, tinha de facto inscritas as letras TNT, sigla por que é conhecido um explosivo. A caixa, segundo fomos mais tarde informados, nada continha, tendo sido levada pela Polícia Judiciária, que para ali fez deslocar numa brigada, tal como à D.G.S.
No dia 6 de Novembro de 1972, cerca do meio-dia, sensivelmente à mesma hora do assalto de ontem, quatro jovens assaltavam à delegação do Banco Português do Atlântico, em Alhos Vedros, enquanto um quinto elemento os esperava do lado de fora, num carro de cor vermelha. Levaram mais de dois mil contos.
Sabe-se agora que a Polícia Judiciária julga conhecer a identidade dos autores do primeiro assalto que ainda não foram presos.
O percurso seguido para à saída de Alhos Vedros há seis meses «teria sido o que foi ontem utilizado, só que, desta vez, não encontraram a cancela fechada o que naturalmente, teria facilitado a fuga. Os carros então utilizados foram encontrados na estrada de Lisboa: Setúbal. no lugar de Cabanas, concelho de Palmela.
Em declarações ao nosso jornal, o dr. Lourenço Martins disse atribuir grande importância à localização do carro, ou carros, de que os assaltantes se serviram.
«Há a hipótese de se tratar de viaturas roubadas» — explicou —. «No caso concreto do «Fiat 127» ou «128» em que o grupo fugiu, acho que deve ter muito interesse qualquer informação prestada por pessoas a quem tenham roubado ultimamente carros desses modelos. Importante também: a cor, porque as listas de carros roubados que à P.S.P. fornece regularmente nao incluem tal discriminação.»
O mesmo inspector afirmou-nos que a matrícula do automóvel usado para o transporte e fuga do grupo é a de uma camioneta. Por aí nada a investigar.
Características do grupo? Seria — admite o dr. Lourenço Martins — formado por gente com conhecimentos técnicos e psicológicos. O corte dos fios do telefone e, por outro lado, o nítido à vontade com que foi repetido, a menos de seis meses de distância, um assalto no mesmo local e com o mesmo esquema, querem dizer precisamente isso.
«O que acho inacreditável» — acrescentou — «é o facto de o Banco não ter montado um alarme depois do assalto de 6 de Novembro. Na América já nem são multados os Bancos que não possuem alarme, porque têm todos de tê-lo, mas os Bancos que não têm o alarme a funcionar convenientemente».
Republica, 26 de Maio
Segundo a Polícia Judiciária, «alguns minutos antes das 12 horas de ontem, um grupo armado, constituído por seis elementos, assaltou uma agência bancária em Alhos Vedros, concelho da Moita.
«Enquanto dois dos assaltantes permaneciam no exterior, os quatro restantes imobilizaram pelas armas os funcionários da agência, retirando a importância de cerca de mil contos.
«Do grupo faz parte uma rapariga, com a idade aparente de 17 anos, cerca de um metro e sessenta de altura, elegante, de cabelo curto e escuro, com modos descontraídos.
«Os três outros que actuaram no interior foram descritos da seguinte maneira : a) um, com a idade aparente de 40 anos, um metro e sessenta e cinco ou um metro e setenta de altura, de rosto cheio, testa pequena e cabelo curto, entroncado, com pronúncia estrangeira e figura de cadastrado ; b) outro, com a idade aparente de 24 ou 25 anos, cerca de um metro e sessenta e cinco de altura, de bigode, cabelo preto e curto, baixo e magro; c) um outro, também, novo e com cerca de um metro e sessenta e cinco de altura, «gorducho», cabelo preto e um pouco comprido.
«Os que actuavam na cobertura exterior, eram relativamente jovens. Faziam-se transportar num veículo automóvel de marca «Fiat», modelo 127 cu 128, de cor verde, com matrícula HI-71-44.»
A Polícia Judiciária de Lisboa solicita a colaboração do público no sentido da localização dos assaltantes. Qualquer informação útil moderá ser transmitida ao piquete, telefone 53 5380, ou, em caso de urgência, à autoridade policial mais próxima.
O Século, (26 de Maio 1973)
A D. Otília desce aos por menores, mostra-nos um papelinho onde a filha anotou a matrícula do carro que conduziu o grupo armado, fixa que um dos assaltantes usa uma camisa «Lacoste», que uma das camisolas de um deles era de plástico e conta alegre e desinibidamente como foi ameaçada:
O rapaz, que era novo e tinha uma cara que nunca mais esquecerei, mandou-me entrar em casa. Tinha uma mão atrás das costas. Eu não entrei e fui teimando com ele. Depois de uns momentos de discussão puxou da pistola e apontou-me.
Os gestos dizem mais do que as palavras.
Eu gritei claro. Não por medo da pistola, que até era verdadeira. Pensei no momento que o rapaz queria matar um velho que estava do outro lado da rua e que ele tinha mandado retirar. Veio depois a minha empregada. Foi então que eu reparei que dois senhores entravam no banco. À soleira da porta vi-os enfiarem qualquer coisa na cabeça. Pensei nessa altura que era um assalto.
A nossa interlocutora refer-se sempre aos assaltantes, que viu à distância, como senhores.
Tinham bom aspecto e estavam bem vestidos. O que me ameaçou devia ser o mais novo assim como a rapariga. O rapaz que esteve ao pé de mim era aloirado e bonito e tinha os cabelos um pouco compridos. E olhe que não era cabeleira postiça. Dizem para aí que eles traziam cabeleira, mas este não.
E com certa admiração que ela refere o grupo:
Estavam sorridentes, bem dispostos, quando sé meteram no carro antes de fugirem. Acenaram, disseram adeus. E veja lá que não levaram o dinheiro todo... até deixiram o dos depósitas que lá se estiveram à fazer na altura...
Não foram ainda encontrados rastos do automóvel de tom verde, um carro de marca italiana 127 ou 128 c.o., utilizado pelos autores do assalto á agência bancária de Alhos Vedros e no qual fugiram após a malfeitoria, afastando-se do local, seguindo a estrada em sentido proibido, até á passagem de nível, que atingiram antes da aproximação do comboio, prestes a passar naquela localidade. As corporações policiais e a GNR da Moita e as brigadas da Divisão de Transito têm procurado encontrar a pista do veiculo, presumindo-se que este tenha sido abandonado pelos bandoleiros. Entretanto, a Polícia Judiciária a quem compete as investigações (confiadas ao subinspector Machado e agentes Lucas Pereira e Sousa Martins, sob a superior orientação do inspector dr. Lourenco Martins) desenvolve diligências para descobrir os assaltantes — que, aliás, parece terem deixado no local boas «chancelas». Segundo o testemunho das várias pessoas, funcionários da agência, clientes e vizinhos, os assaltantes, em numero de seis, incluindo uma jovem, têm o seguinte aspecto:
A aludida jovem — que teve acção directa no assalto, empunhando uma pistola e sendo ela mesmo quem forçou o caixa a abrir o cofre e a transferir o dinheiro para um saco de plástico de que ia munida — que aparenta ter 17 anos, com 1,60 de altura, elegante, de cabelo escuro, curto, que demonstrou ser dotada de grande desenvoltura e agir com a maior descontracção.
Um homem, de cerca de 40 anos, de estatura regular, entre 1,685 e 1,10 de altura, rosto cheio, testa pequena e cabelo curto, entroncado, com pronuncia estrangeira (e figura de cadastrado, diz a nota fornecida pela Polícia); e mais dois outros indivíduos, ambos jovens, com idades aparentes entre 24 e 25 anos, um com cerca de 1,65 de altura, magro, de cabeio preto e curto e usando bigode, outro sensivelmente da mesma altura, nutrido, de cabelo preto e um pouco comprido. Estes e mais a jovem actuaram dentro da agência, havendo mais dois, um aloirado e quase imberbe, que esteve de vigia e pretendeu impedir a passagem do capataz de calceteiros, a que ontem nos referimos, e o «motorista», que pouco mais mostrou do que a cara, o qual permaneceu ao volante do automóvel, com o motor a trabalhar, pronto — como o fez — a arrancar imediata e velozmente com os cumplices. O carro, como se disse, tinha a matrícula HI-711-44, falsa, como já foi verificado. Há, todavia, quem afirme que aquela matrícula estava sobreposta á verdadeira, admitindo-se que uma vez afastados do local, os assaltantes hajam posto a descoberto o verdadeiro registo da viatura, no convencimento de que avançariam sem grandes incómodos...
A Polícia Judiciária apela para o publico à fim de que este lhe dê a colaboração necessária para dar caça aos bandidos, que á solta constituem permanente ameaça, Nesta conformidade, solicita a quem puder fornecer indicações sobre os aludidos indivíduos ou o veículo, que o façam à mais próxima autoridade ou pelo telefone 535380 ao piquete da corporação.
Alguns dos empregados da agência, incluindo o próprio «Caixa», e até uma vizinha do estabelecimento, julgam reconhecer em alguns dos ladrões os mesmos indivíduos que participaram no assalto verificado há seis meses ao mesmo estabelecimento bancário. Efectivamente notam-se muitas semelhanças na técnica empregada pelos ladrões nos dois casos.
Julga-se que os investigadores estão progredindo nas diligências efectuadas, mas á volta do caso guarda a Polícia Judiciária o mais rigoroso sigilo.
Diario de Notícias
Inclusão | 17/06/2019 |