Imperialismo e Terceiro Mundo

Francisco Martins Rodrigues

2007


Primeira Edição: Inédito, incompleto, possivelmente de 2007

Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Voltando ao problema dos “erros” de Marx, Ellen Meiksins Wood nota que o traço característico do Capital é analisar o capitalismo como se fosse um sistema fechado, e nessa base traçar a sua lógica interna, ao passo que hoje se tornou um sistema universal, com as distorções que isso acarreta (Monthly Review, 2/49, pp. 2-3). Se recordarmos que no tempo em que o Capital foi escrito o capitalismo era um fenómeno localizado à Europa e à América do Norte — e mesmo na Europa a situação ainda levava Marx a avisar os alemães que algum dia teriam que seguir as pisadas da Inglaterra —, teremos uma noção da profundidade da mudança ocorrida desde então.

Se se encara as regiões do 3o mundo como meros destacamentos atrasados no sistema capitalista e não como apêndices do capitalismo avançado, desmembrados e digeridos por este, não se percebe nada do imperialismo e da luta de classes mundial na alvorada do século XXI.

Hegemonia do proletariado. O problema dos aliados do proletariado para a revolução: com o campesinato pobre em vias de extinção e o contínuo alargamento da nova pequena burguesia assalariada, não é com os esquemas de aliança leninistas que nos podemos governar. Alianças com outros partidos da pequena burguesia.

O facto é que o ponto de vista da putrefacção social nos países imperialistas, demarcar da aristocracia operária, garantir a hegemonia do proletariado sobre a pequena burguesia, etc., conduzem ao abstencionismo sistemático, a um pretenso purismo ideológico que deixa o terreno à disposição da burguesia e do reformismo. Não é casual o apoio da direita ao radicalismo de esquerda com cunho abstencionista.

Nota-se um renovo do interesse pelo marxismo como reacção à brutalidade da ofensiva neoliberal. Isto é bom, sem dúvida, mas desde que não parta de ilações erradas quanto às origens do fracasso do movimento comunista no século XX; se assim for, a nova corrente comunista entrará nos carris do velho reformismo. E o que acontece, a meu ver, quando se aceita como indiscutível que “o socialismo falhou por não se aplicar uma verdadeira democracia socialista”, ou quando —

As afinações de Gramsci completando a noção de ditadura de classe com a do consenso foram aplaudidas pela pequena burguesia reformista porque vinham dar uma base séria ao reformismo com a sua teoria da construção da contra-hegemonia, da lenta ocupação de pontos fortes.

Reler Bordiga, Panekoek, Mattik.

Podemos marcar três etapas e meia na história dos partido marxistas: houve a época da Iª Internacional [...]; depois veio a época dos partidos social-democratas que tiveram o seu papel na luta pelos direitos sindicais e políticos do proletariado nos países capitalistas avançados; afundaram-se no oportunismo e no chauvinismo em 1914; depois de breve [...] iniciou-se a terceira época, a dos partidos comunistas, inspirados na façanha de Outubro, agrupados em torno da fortaleza; descambaram no parlamentarismo ....; deram dois ramos: primeiro, o ramo trotskista, que proclamou a IV Internacional mas que [...] e por último, nos anos 60, iniciou-se aquilo que pretendia ser uma quarta etapa, a da corrente M-L, equívoco de prolongar a política da IC sob Staline, combinada com um pouco de  maoísmo; ainda mexe, mas não tem futuro

A aplicação “criadora” cunhalista do marxismo, autêntico reformismo pequeno-burguês de fachada socialista, deu os frutos esperados.


Inclusão 16/11/2018