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Primeira Edição: Em Marcha, 24 de Novembro de 1982
Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
“O I Congresso da União dos Sindicatos de Lisboa foi, antes de mais, uma grande demonstração da força, da vitalidade e da capacidade realizadora do Movimento Sindical Unitário e das suas estruturas”. Assim começa o editorial do “Diário” de dia 16. O começo é bom. Mas o melhor vem a seguir.
Julgam vocês que a “força” a que se refere o sr. Urbano Rodrigues tem alguma coisa a ver com a ocupação da Lisnave ou a luta na Cometna? Julgam que a “capacidade realizadora” é a dos piquetes de greve? Julgam que a “vitalidade” é a da revolta operária contra o capital?
Nada disso! O que o “Diário” concluiu do congresso da USL foi que os operários não são movidos pela “busca egoísta de mais e mais regalias”. Não senhor! A luta pela bucha seria demasiado baixa e egoísta. Os operários perdem dias de salário, arriscam-se ao despedimento e às matracadas da polícia e dos gorilas, apenas porque gostam de se empenhar em “batalhas patrióticas”, porque desejam ser altruistas na defesa de “interesses que dizem respeito a todas as camadas da população”.
E os governos? Julgam que o “Diário” os critica por serem agências de fornecimento de mão-de-obra barata ao patronato? Nada disso! Os governos têm errado, segundo o “Diário”, por não saberem aproveitar convenientemente “toda esta energia, criatividade e capacidade de sacrifício dos trabalhadores portugueses”, “esse inestimável potencial de progresso”, por fazerem uma “contenção da capacidade criativa dos trabalhadores”.
De facto! Como é possível não compreenderem os governos que os operários são como vacas leiteiras, ansiosas por ser ordenhadas? Como é possível que não aproveitem capazmente essa riqueza nacional à espera de ser explorada, como o minério de Aljustrel?
E, já agora, querem saber porque é que 0s governos não aproveitam a boa-vontade operária? Pois é porque pretendem “restaurar um regime baseado na exploração do homem pelo homem”! Assim mesmo: “restaurar a exploração”. Quer dizer que ela não existe.
Estas palmadinhas nas costas, este orgulho “patriótico” na força dos operários, estes violinos sobre o “espírito de sacrifício”... Onde é que eu já ouvi isto? Ah, já sei! Foi a um engenheiro “democrata”, daqueles que sabem levar os operários às boas.
Obrigado pelo seu editorial, sr. Miguel Urbano Rodrigues. Ensinou-me alguma coisa sobre o PCP.
Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária.
Inclusão | 06/02/2019 |