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Fonte: http://resistir.info
Transcriçãoe HTML: Fernando Araújo.
As primeiras medidas legislativas de álvaro Uribe abriram um enorme rombo no que restava da fachada democrática do Estado Colombiano. Através dele é já visível o rosto medonho do fascismo.
O decreto que instituiu «o estado de comoção nacional» é, pela inspiração, conteúdo e objectivos, o prólogo de uma era de terror policial.
O presidente e os seus ministros anunciam uma «guerra integral contra o terrorismo». Mas o eufemismo que esconde o estado de sitio sob a palavra comoção, e as leis de excepção já promulgadas iluminam uma realidade: o inicio de uma guerra total contra o povo.
O «Plano de Segurança» imposto logo após a posse de Uribe preparado com muita antecedência faz lembrar o que no género existiu no III Reich nazi. Oficializa a possibilidade da contratação de um milhão de informadores que terão um vinculo directo com organismos do Ministério do Interior. Esses bufos sapos na linguagem do povo terão direito a usar armas fornecidas pelo Governo e até receber um vencimento mensal equivalente ao salário mínimo.
Na opinião do alcaide de Bogotá o bombardeamento do Palácio Presidencial somente foi possível porque os moradores das residências donde os morteiros artesanais foram disparados não «cumpriram o dever cívico» de denunciar qualquer movimento suspeito na área. Na ética de Uribe a delação torna-se virtude.
A denuncia é pelo novo presidente apresentada como exigência da «nova cultura da cidadania», como acto patriótico.
Na Procuradoria da Republica realizou-se uma reunião de que ficará memória. O Procurador geral debateu com os ministros do Interior, da Justiça e da Defesa e com o general responsável pelos serviços de Inteligência as principais «medidas de segurança». Posteriormente, o ministro do Interior, Fernando Londoño manteve um encontro reservado com a embaixadora dos Estados Unidos, Anne Petterson.
Segundo informações oficiais, o tema principal da discussão foi a operacionalidade do controlo dos telefones celulares. Directores das principais empresas de telefonia participaram no encontro e prometeram a sua colaboração. Segundo o diário pro-governamental «El Tiempo», trata-se de «entregar com agilidade a informação» aos organismos do Estado e também da rapidez na localização das chamadas .
Os ministros foram categóricos, informando que estão a ser estudadas formulas jurídicas que respondam ao espirito democrático das medidas de controlo dos celulares. Tudo se fará garantiram no respeito da lei, de modo a respeitar plenamente «o direito à intimidade dos usuários».
O humor negro dos ministros de Uribe e do Procurador da Republica parece ter contaminado o director da famosa Drug Enforcement Agency dos EUA, John Walters. Esse alto funcionário norte-americano, presente como convidado na posse de Uribe, reagiu com entusiasmo às medidas de controlo da telefonia celular adoptadas em Bogotá. «Trata-se comentou de garantir a segurança dos cidadãos e de preservar as liberdades cívicas».
Nos próximos dias serão, aliás, adoptadas medidas para «restringir a livre circulação de pessoas e veículos a determinadas horas e em certos lugares do território nacional», bem como promulgada legislação adequada a facilitar a invasão de domicílios e a prisões sem mandato judicial.
O ministro do Interior mais uma vez considerou oportuno tranquilizar a população quanto ao espirito profundamente democrático e respeitador das instituições que inspiraria o feixe de medidas de excepção.
«Os cidadãos declarou, ainda segundo «El Tiempo» não devem ter medo de que possa haver excessos, pois este governo é obsessivo no tocante ao tema do respeito, em qualquer caso e circunstancia, dos direitos humanos e do Direito Internacional Humanitário ».
Por coincidência, o subsecretário para Assuntos Políticos dos EUA, Marc Grossman, encontrava-se então, em visita de trabalho em Bogotá. Soube-se que o motivo da sua presença foi a assinatura de um acordo bilateral para proteger militares e funcionários estadunidenses residentes na Colómbia, colocando-os, em qualquer hipótese, fora da competência do Tribunal Penal Internacional criado pelas Nações Unidas. O objectivo é garantir a total impunidade dos crimes de Estado em ambos os países.
Grossman, em declarações à imprensa, prestou homenagem à secular tradição jurídico-constitucional da Colómbia...
Para finalizar as referencias ao primeiro pacote legislativo de álvaro Uribe Vélez, tem interesse informar que o novo presidente criou um imposto especial. Aproximadamente 420 mil cidadãos terão de pagar anualmente uma taxa equivalente a 1,2% do seu património liquido. A verba milionária assim obtida destina-se a ampliar e dinamizar o combate às FARC-EP.
Uma das primeiras iniciativas de Uribe foi a nomeação de uma nova cúpula militar. Para comandante supremo das forças armadas foi designado o general Jorge Mora, que deixa o comando do Exército, cargo em que se opusera sempre ao dialogo com as FARC. O seu substituto é o general Carlos Ospina, também partidário da escalada militar. Para a Força Aérea a escolha recaiu no general Fabio Velasco, partidário da política da «terra arrasada», responsável por bombardeamentos indiscriminados de áreas densamente habitadas. O chefe do Estado maior Conjunto é o general Euclides Ruiz, outro conhecido falcão.
Estes são os oficiais a quem Alvaro Uribe, em discurso pronunciado ha dias, confiou a tarefa de adoptar uma estratégia de «guerra integral». O presidente exortou o Exercito a comparecer imediatamente onde quer que as FARC ataquem uma base militar ou um quartel e não três dias depois, como costuma acontecer.
A nomeação da nova cúpula militar foi sem demora elogiada em Washington. Agradou à Casa Branca e caiu muito bem no Pentágono.
Os falcões de Bogotá afirmam, não sem arrogância, que estão criadas as condições para a vitoria na «guerra contra o terrorismo». Ao som de trombetas anunciam a próxima destruição das FARC e do ELN. O seu triunfalismo lembra o do norte-americano Westmoreland no Vietname e o do francês Salan na Argélia.
A memória de Uribe e dos seus generais parece ser fraca. Tanto o presidente como os seus guerreiros esqueceram a resposta que a Historia deu às profecias de vitoria dos colonialistas dos EUA e da França.
O discurso sobre «a guerra integral» tem desviado a atenção de uma evidencia: as medidas fascistizantes adoptadas pelo governo de álvaro Uribe atingem brutalmente o povo colombiano, principalmente nas grandes cidades, mas pouco afectam a insurgência. A criação de um exército de bufos, o estado de «comoção nacional», a censura telefónica, a supressão de direitos e garantias constitucionais não alteram minimamente a relação de forças Exército-FARC, nem a capacidade de fogo da guerrilha.
O bombardeamento do Palácio presidencial e de outros edifícios públicos no dia 7 de Agosto veio, alias, desmentir a tese oficial sobre a incapacidade de implantação da insurgência nas áreas urbanas.
Poucos duvidam agora de que as FARC contam hoje com uma ampla e eficaz rede de apoio nas principais cidades, o que pode assinalar o inicio de uma nova fase na guerra.
As FARC-EP estão conscientes de que no combate por uma Colômbia livre e democrática, a luta contra a calunia e o silencio na frente da Informação não é menos difícil do que aquela que travam na frente de batalha contra o exercito.
Uma campanha de proporções mundiais apresenta as FARC-EP como organização narco-guerrilheira, de sequestradores, assassinos e bandidos.
As cabeças do comandante Manuel Marulanda e dos principais dirigentes da guerrilha foram postas a prémio. Bush, ao incluir as FARC na sua lista de grupos terroristas, conseguiu que os seus membros sejam caçados como delinquentes pelo mundo afora.
Contribuir para a ruptura dessa cortina de mentiras é uma tarefa prioritária da solidariedade com o povo da Colómbia.
As FARC derramaram sangue inocente ao longo da sua luta de quatro décadas. é um facto. Mais de uma vez reconheceram essa realidade e assumiram a responsabilidade por erros cometidos, alguns graves, punindo inclusive os responsáveis. Mas não devemos esquecer que situações similares ocorreram com os patriotas vietnamitas e argelinos, com os combatentes sandinistas e os salvadorenhos da FMLN. Partido ou movimento algum pode sair de uma guerra de libertação com as mãos totalmente limpas.
Mas criminalizar as FARC, fazendo da excepção regra, e omitir que a responsabilidade primeira e maior pela guerra na Colômbia e pela espantosa mortandade dela resultante cabe à oligarquia, às Forças armadas e ao paramilitarismo é inverter a realidade, falsear a Historia.
A subida ao Poder de álvaro Uribe chamou uma vez mais as atenções da humanidade para a Colómbia.
Um regime que caminha para o fascismo sem máscara instalou-se na pátria de Nariño, o pais que pagou o maior tributo de sangue na luta pela libertação da América Latina no inicio do século XIX.
Esse fascismo, ainda não despojado de uma fachada institucional, conta com o apoio firme de Washington.
As FARC tornaram-se um pesadelo permanente para o sistema de poder imperial que aspira ao domínio perpétuo e total sobre a humanidade. Isso porque elas Resistem, porque demonstram há muitos anos que é possível Resistir, inclusive pelas armas, em certas circunstancias e lugares, a uma oligarquia sustentada pela mais poderosa potência do planeta.
Daí a necessidade para a esquerda revolucionária de ampliar a solidariedade com o partido-guerrilha de Manuel Marulanda. As FARC batem-se, afinal, por todos nos, pela humanidade.