MIA > Arquivos Temáticos > Imprensa Proletária > Revista Problemas nº 29 > Novidades
SAÚDO calorosamente aos dois milhões de seres humanos que em nossa terra já subscreveram o grande documento de nossa época que é o APELO DE ESTOCOLMO, Apelo do Comitê Permanente do Congresso de Partidários da Paz, que exige a interdição absoluta da arma atômica,reclama o controle internacional dessa medida e considera criminoso de guerra o governo que primeiro utilizar, não importa contra que país, essa arma do extermínio em massa de populações. Na situação em que me encontro, de perseguido político da ditadura e do imperialismo ianque, é emocionante e confortador tomar conhecimento de tão impressionante plebiscito, saber que dois milhões de compatriotas, de pessoas de todas as classes sociais, das mais diversas crenças religiosas e de todas as tendências políticas, votam assim abertamente contra a guerra, contra a política sanguinária dos governantes que ameaçam os povos com o extermínio em massa por meio das armas atômicas.
Evidentemente, a nós, comunistas, que vivemos junto ao povo, que conhecemos os sentimentos mais profundos das grandes massas trabalhadoras, que constituem a maioria da população de nossa terra, esse total de dois milhões de assinaturas apostas ao APELO DE ESTOCOLMO, não nos causa surpresa. Sabemos que contra qualquer guerra de agressão, contra todas as guerras de conquista, sempre esteve e está a maioria esmagadora da nação. Não são dois milhões apenas, mas dezenas de milhões. Nas erudições brasileiras, no entanto, na vastidão de nosso território onde milhões de brasileiros vivem segregados do mundo, sem vias de comunicações, se» jornais ou rádio, instrumentos de divulgação que mesmo nas grandes cidades são quase que monopólio de exploradores sanguinários, nas condições brasileiras de terror policial crescente contra o povo, em que qualquer atividade educadora e esclarecedora de sua consciência política é sistematicamente perseguida como subversiva, constitui, sem dúvida, um sucesso encorajador e estimulante esse total de dois milhões de assinaturas colocadas pela nossa gente ao pé do APELO DE ESTOCOLMO.
É UM acontecimento novo e de significação precisa. Diz aos patriotas e democratas, às pessoas mais esclarecidas, que podem confiar no povo, na sua clarividência, nos seus sentimentos humanitários, na sua coragem e desprendimento. Diz particularmente a nós, comunistas, que o povo está conosco a favor da paz, contra a política de guerra do atual governo, e que depende fundamentalmente de nós, da nossa atividade, da nossa capacidade de trabalho, da nossa persistência, da nossa coragem e audácia, a mobilização das grandes massas trabalhadoras para a luta pela paz, contra a política totalitária e guerreira do Departamento de Estado norte-americano e de seus lacaios brasileiros. Mas diz também aos governantes, à minoria de exploradores e opressores que ainda dominam a nação, que vendem nossa terra aos monopólios anglo-americanos e cumprem servilmente as ordens de Truman, que o povo não está com eles, que o governo deles é um poder precário e sem base de massas, um governo cujas decisões criminosas só poderão ser realizadas pela força que, por sua vez, nada vale quando for lançada contra o povo, já que no fundamental será sempre constituída de filhos do próprio povo.
PARA os assassinos que hoje governam o país a advertência é clara. Apesar de todas as perseguições, do terror criado no país inteiro contra os partidários da paz, das violências diariamente praticadas contra os ativistas da campanha de assinaturas no APELO DE ESTOCOLMO, os dois milhões já alcançados dizem muito. Assinar o APELO DE ESTOCOLMO é votar contra a guerra atômica, quer dizer, a guerra moderna como a pretendem fazer aqueles que ainda sonham com o domínio do mundo e a escravização de todos os povos. Assinar o APELO DE ESTOCOLMO é evidentemente votar contra a política totalitária e guerreira de Departamento de Estado norte-americano, é votar contra Truman e a sua política de agressão contra os povos que lutam pela independência nacional e pelo progresso social. Assinar o APELO DE ESTOCOLMO é também votar contra o governo Dutra de traição nacional, contra a política externa do sr. Raul Fernandes de alienação total da soberania nacional, contra a política de entrega das riquezas naturais do país aos monopólios norte-americanos, contra a política de preparação para a guerra, de terror policial crescente contra o povo, de carestia, de inflação, de miséria e fome para as grandes massas trabalhadoras.
Essa a significação política mais profunda da campanha de assinaturas para o APELO DE ESTOCOLMO, significação que precisa ser bem compreendida e avaliada pelo que realmente vale por todos os patriotas e democratas esclarecidos, particularmente pelos comunistas, afim de que se lancem com energias redobradas à tarefa patriótica de alcançar e sobrepassar, como é realizável, o total de quatro milhões de assinaturas que os partidários da paz no Brasil querem e podem obter para o APELO DE ESTOCOLMO.
O perigo de guerra, guerra mundial, em que se verão envolvidos todos os povos, é cada dia maior e mais iminente. A ameaça à paz e à segurança, à vida enfim de todos os povos cresce diariamente. Quanto mais se debilita o campo imperialista mais aventureira e perigosa se torna a política de seus dirigentes. Só a força unificada das grandes massas, de povos inteiros, será capaz ainda de sustar o braço assassino dos fautores guerra, dos governantes imperialistas que ameaçam a humanidade com a hecatombe de uma guerra atômica, de fazer tremer e vacilar seus lacaios dos governos de traição nacional, como Dutra, serviçais dos monopólios ianques e submissos ao governo de Truman.
Só essa união, materializada nos quatrocentos milhões de assinaturas já colocadas no APELO DE ESTOCOLMO em todo o mundo, e o gigantesco movimento de solidariedade que se levanta no mundo inteiro ao povo coreano puderam impedir até agora que Truman e Mac Arthur fizessem uso da arma atômica no seu assalto de bandidos contra a Coréia. E no Brasil é igualmente o movimento dos partidários da paz, são os dois milhões de assinaturas no APELO DE ESTOCOLMO que obrigam a Dutra e seus ministros a serem prudentes, a se negarem ainda ao envio de tropas brasileiras para a Coréia, como exige o patrão imperialista.
Nessas condições, é um verdadeiro crime subestimarmos agora o perigo de guerra e cegueira nefasta não compreender a significação que terá cm nossa terra, no ulterior desenvolvimento das lutas de nosso povo pela liberdade e a independência, a rápida obtenção dos quatro milhões de assinaturas para o APELO DE ESTOCOLMO. Tudo depende de nós, da atividade, da abnegação, do sentimento de responsabilidade, do patriotismo e da consciência de cada partidário da paz, de cada pessoa honesta que não queira ser conivente com o crime hediondo que significará uma guerra atômica. E, à frente de todos os lutadores pela paz é um dever de honra que se coloquem, sem qualquer vacilação e dispostos a todos os sacrifícios, os comunistas brasileiros. Hoje, não é admissível ser comunista sem que se ocupe um posto de destaque na luta pela paz e no gigantesco esforço de esclarecimento, de unificação e de organização de massas feito era torno do APELO DE ESTOCOLMO e através da campanha de assinaturas pela interdição da arma atômica.
Saibamos utilizar a grande experiência adquirida na obtenção dos dois milhões de assinaturas para intensificarmos nosso trabalho e dobrarmos rapidamente esse número, alcançando e sobrepassando os objetivos colimados. São imensas e cada dia maiores as possibilidades do campo da paz e da democracia no mundo inteiro e no Brasil em particular.
A AGRESSÃO norte-americana á Coréia é o fato novo que serviu para despertar grandes massas que ainda não sentiam a iminência do perigo de guerra. O bombardeio bestial de populações indefesas, a destruição de cidades e aldeias a centenas de quilômetros da linha de frente, o massacre de velhos, mulheres e crianças pelos aviadores assassinos de Truman e Mac Arthur levanta uma onda de indignação e de protesto no mundo inteiro. Nosso povo que já sofre a brutalidade da exploração pelos, monopólios ianques, que vê nossa terra cada dia mais escravizada aos senhores do dólar e o governo de Dutra reduzido a fantoche de Truman, compreende com facilidade que a luta heróica do povo coreano contra os bandidos armados que o assaltaram é parte integrante de nossa própria luta pela emancipação nacional do jugo imperialista. Nessas condições, é através da mobilização e da organização de massas em apoio ao povo coreano, contra a guerra criminosa de Truman, que podemos mais facilmente despertar as grandes massas para a luta pela paz e em apoio ao APELO DE ESTOCOLMO.
Nesse sentido, é urgente intensificar a luta contra a remessa de soldados brasileiros para a Coréia, que ameaça a vida e o futuro de nossa juventude. Não nos deixemos enganar, pois, se bem que insistentemente negada pelo ministro da Guerra e outros porta-vozes do governo a participação do Brasil com vinte mil soldados na guerra de Truman contra a Coréia, a verdade é que a ameaça existe e cresce, e que medidas práticas vão sendo tomadas nesse sentido sob a pressão do governo norte-americano e de seus agentes no país, muito especialmente do lacaio Raul Fernandes que segundo tudo indica é hoje no governo o maior partidário do sacrifício sangrento de nossa juventude nas aventuras militares do imperialismo ianque. Precisamos protestar vigorosamente a fim de impedir por todos os meios que seja aprovado pelo Parlamento o crédito de 50 milhões de cruzeiros com que o governo do sr. Dutra pretende ajudar a custa de nosso povo o financiamento da aventura criminosa de Truman na Coréia. É indispensável barrar imediatamente com a força das massas populares esse primeiro passo da ditadura no caminho de sua participação ativa na guerra para evitarmos que outros mais sérios e perigosos sejam dados no mesmo caminho. Protestemos ainda energicamente contra a política indigna e vergonhosa do Itamaraty e de seus representantes na ONU que fazem os bonecos adestrados nas mãos do Departamento de Estado norte-americano a serviço do qual agem, votam e falam para humilhação de nosso povo. É indispensável exercer pressão de massas sobre o Parlamento, sobre Dutra e Raul Fernandes, exigindo que a representação brasileira na ONU abandone essa infame e humilhante posição de serviçal de Truman. Exijamos uma política de paz, a imediata cessação da agressão norte-americana na Coréia, especialmente do bombardeio criminoso de populações indefesas, exijamos ainda a imediata admissão na ONU da República Popular da China, que a delegação do Brasil na ONU se coloque enfim de acordo com os sentimentos e a vontade de paz de nosso povo.
Simultaneamente, precisamos intensificar a luta de massas contra as despesas militares que se tornam cada vez maiores no país, apesar dos déficits orçamentários que atingem cifras nunca vistas de bilhões de cruzeiros, determinam a inflação crescente (no corrente ano já foram emitidos mais de 3,2 bilhões de cruzeiros) e a carestia da vida que agrava cada vez mais a situação das grandes massas trabalhadoras cuja miséria aumenta rapidamente. A luta contra as despesas militares da ditadura pode e deve ser ligada com a luta grevista pelo aumento geral de salários para todas as categorias de trabalhadores, o que ampliará rapidamente a luta pela paz e facilitará a penetração da campanha de assinaturas para o APELO DE ESTOCOLMO nas mais amplas camadas do proletariado das cidades e do campo, condição indispensável ao seu triunfo.
PRECISAMOS ainda dedicar especial atenção, em ligação com a luta geral pela paz e a obtenção de assinaturas para o APELO DE ESTOCOLMO, ao desmascaramento sistemático da propaganda de guerra em nosso país. Não basta lutar pela paz, é indispensável desfazer, quebrar, desmascarar a obra sinistra de todos aqueles que se empenham hoje na tarefa imunda de envenenar a consciência popular e fazer a preparação ideológica para a guerra. Em março de 1939, nas vésperas da 2.ª guerra mundial, tratando da situação internacional, já nos ensinava o camarada Stálin:
"Em nosso tempo, não é tão fácil romper de um golpe os obstáculos e lançar-se diretamente à guerra, sem ter em conta os tratados de toda espécie, sem ter em conta a opinião pública. Os políticos burgueses sabem disso perfeitamente. Disso sabem também os dirigentes fascistas. Por isso, antes de lançar-se à guerra, decidiram preparar, de certa maneira, a opinião pública, isto é, induzi-la ao erro, enganá-la".
Essa preparação é hoje mais necessária e mais intensa do que nunca. É claro, no entanto, que a atual preparação ideológica para a guerra, para que possa ter sucesso, não é a simples repetição daquela que foi empregada pelos nazistas e seus quinta-colunas no mundo inteiro. Agora, para arrastar os povos à guerra, Truman e seus lacaios procuram se cobrir com a bandeira da ONU e tratam de apresentar todos os movimentos de libertação nacional, todo desenvolvimento das forças democráticas, todas as lutas populares por uma paz sólida e durável, como uma agressão do "comunismo internacional". Quer dizer, sob a bandeira da ONU os agressores atômicos do imperialismo ianque procuram enganar as massas populares, separá-las dos comunistas e colocá-las contra a URSS para mais facilmente arrastá-las à carnificina de uma terceira guerra mundial.
O desmascaramento sistemático de todos os que assumam tal posição é hoje tarefa precípua dos lutadores pela paz em estreita ligação com luta pelos quatro milhões de assinaturas para o APELO DE ESTOCOLMO. Exijamos a interdição de todas as formas de propaganda favorecendo a guerra e desmascaremos a todos os propagandistas de guerra em nosso país. Mostremos insistentemente ao nosso povo que quando assumir maiores proporções sua luta pela independência nacional, quando, amanhã, ele se levantar para libertar o Brasil do jugo imperialista, os senhores das classes dominantes com Dutra ou Getúlio à frente, com Brigadeiro ou Cristiano, apelarão logo para a ajuda dos generais ianques que já mandam hoje no país e comandam de fato nossas forças militares e que esses gangsteres fardados do imperialismo não vacilarão em mandar massacrar a mulheres e crianças a pretexto de "salvar" o Brasil da agressão do "comunismo internacional". Não é isto o que dizem hoje os Chateaubriand, os Julio de Mesquita Filho e seus semelhantes nos jornais que dirigem, quando ainda pretendem cinicamente convencer a nosso povo de que os soldados de Truman foram à Coréia, a dez mil quilômetros do território dos Estados Unidos, para "defender-se" da agressão do "comunismo internacional"?
São tais farsante que precisamos infatigavelmente desmascarar, apontando-os ao povo como propagandistas de guerra e arrancando-lhes impiedosamente a máscara para mostrar os sórdidos interesses que defendem ao preço do sangue de nossa juventude que pretendem arrastar como carne de canhão para as aventuras criminosas dos monopólios anglo-americanos.
INTENSIFIQUEMOS, pois, a campanha pela obtenção dos quatro milhões de assinaturas para o APELO DE ESTOCOLMO e, de acordo com as decisões tomadas pelo Bureau do Comitê Permanente do Congresso de Partidários da Paz em sua recente reunião ampliada de Praga, tratemos de ampliá-la ainda mais, por meio da luta simultânea pela redução geral e controlada dos armamentos de qualquer natureza, pela interdição de todas as formas de propaganda favorecendo a guerra, em qualquer país que seja, e pela denúncia da agressão onde quer que ela se produza e a condenação da intervenção armada do estrangeiro nos assuntos internos dos povos.
É nestas bases que devemos nós, comunistas, fazer os maiores esforços a frente dos milhões de partidários da paz em nossa terra para tornarmos vitoriosa o mais rapidamente possível a grande campanha pelos quatro milhões de assinaturas para o APELO DE ESTOCOLMO e para obtermos o mais decidido apoio de massas no país inteiro para o Congresso Nacional dos Partidários da Paz que escolherá a delegação brasileira capaz de representar em Londres no II Congresso Mundial dos Partidários da Paz a imensa vontade de paz de nosso povo.
E junto com isso intensifiquemos no país inteiro a grande luta de nosso povo pela independência nacional do jugo imperialista e pela conquista da democracia popular, unindo-o e organizando-o, através das lutas de massas, em torno do programa revolucionário da FRENTE DEMOCRÁTICA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL. Nas condições brasileiras, está justamente na intensificação da luta revolucionária pela independência nacional e a conquista da democracia popular a contribuição decisiva de nosso povo na luta mundial contra a guerra imperialista e por uma paz sólida e durável. Não permitamos que os bandidos do imperialismo ianque façam de nosso solo base militar para suas aventuras criminosas, que se utilizem com o mesmo fim das riquezas naturais do país e do fruto de nosso trabalho, nem, muito menos, que arrastem nossos irmãos e nossos filhos como soldados para atacar outros povos. É um dever de honra apoiarmos os povos que lutam pela independência nacional contra a escravidão colonial. O imperialismo ianque pretende fazer de toda a América Latina e muito particularmente de nossa pátria uma reserva tranqüila, um ponto de apoio importante para seus planos estratégicos. Levantemo-nos contra semelhante humilhação e expulsemos de nosso solo os mercenários de Truman. Ataquemos pela retaguarda os ferozes inimigos da humanidade, os exploradores norte-americanos, libertando nosso povo da opressão colonial e proclamando a independência da Pátria.
Nota MIA: no índice da Revista este artigo é intitulado: "Um plebiscito impressionante" (retornar ao texto)
"A filosofia marxista, diversamente dos anteriores sistemas filosóficos, não se apresenta como ciência acima das outras ciências, mas é um instrumento de investigação científica, um método, que torna mais penetrante todas as ciências sobre a natureza e a sociedade e que se enriquece ao mesmo tempo com as conquistas dessas ciências no desenrolar de seu desenvolvimento".
A. JDANOV
Inclusão | 17/09/2009 |
Última alteração | 15/12/2010 |