Telegrama a «La Razon»

Luiz Carlos Prestes

21 de Agosto de 1942


Primeira Edição: ........
Fonte: Problemas Atuais da Democracia, Editorial Vitória, 1947, pág: 43-44.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, Abril 2008.
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La Razon, Montevidéu.

O atentado nazista contra a navegação brasileira, pela acintosa brutalidade de que se revestiu, deve ser fria e percucientemente examinado, em suas causas e fins, pelo povo brasileiro e todos os povos vizinhos.

Recordemos que o terror, o assassinato de mulheres e crianças, foi sempre, desde os massacres da Abissínia, o bombardeio de cidades indefesas, o metralhar de retirantes na Bélgica e na França, etc, a arma predileta do nazismo para alcançar a capitulação rápida de governos vacilantes, pusilânimes e divorciados dos povos que oprimem. Na estratégia nazista era o Brasil a posição-chave com que contava Hitler para dominar a América do Sul e fixar ao norte do Amazonas as forças do povo norte-americano; e Hitler deve ter boas razões para supor não ser ainda impossível a capitulação do governo do Brasil, onde não faltam candidatos a Pétain e Laval que dispõem de «uma respeitável quinta-coluna enquistada em todo o aparelho estatal. O agente da Gestapo Filinto Müller é expulso da Polícia para ser carinhosamente acolhido no seio do gabinete do Ministro da Guerra. O povo brasileiro, porém, demonstrou mais uma vez o seu ódio ao fascismo e volta-se para o Sr. Getúlio Vargas na esperança de que o antigo chefe do movimento popular de 1930 queira guiá-lo sem vacilações na luta de morte contra a barbárie fascista. Mas para isso é necessário agir como Stálin, Churchill, Roosevelt e Chiang-Kai-Shek: confiar no povo. É necessário abrir as prisões onde se encontram os mais conseqüentes lutadores antifascistas, porque só assim, consolidada a união nacional, será possível esmagar a quinta-coluna e desmascarar os agentes do inimigo que se escondem nas posições mais elevadas do aparelho estatal.    Convém ainda não esquecer o que há de trágico no atraso industrial dos países sul-americanos e que, nestas condições, não hão de ser pequenos exércitos mal armados e precariamente municiados as principais armas de defesa, mas a vontade inquebrantável das massas populares — homens, mulheres e crianças, livre e espontâneamente mobilizados para a luta de morte até o total esmágamento do nazismo no mundo inteiro.

Os povos da América só exigem liberdade para participar com consciência e orgulho da luta mundial pelo progresso.

Rio, 21 de agosto de 1942.


Inclusão 20/05/2008