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O Conselho de Desempregados não apenas organizou refeitórios, forneceu alimento, emprestou dinheiro para o pagamento de alugueis e de resgates em lojas de penhores, mas gastou todo o tempo dos meses de Abril e Maio na preparação de empregos públicos, e manteve a pressão na comissão de desemprego, no Conselheiro Kedrin e na Duma Municipal, para que eles acelerassem a organização desses empregos. Mas a Duma Municipal começou a mudar sua atitude em relação aos desempregados. Os Cadetes e as Centenas Negras, que pareciam tão ansiosos em ajudar no dia 12 de Abril, começaram a obstruir o início dos empregos públicos o máximo possível. Eles superaram o medo sentido quando nós invadimos o Conselho Municipal, e agora queriam limitar o auxílio aos 500 mil rublos que foram votados. Kedrin, o astuto advogado, estava transmitindo as instruções dos capitalistas para guiar os trabalhadores pelo nariz e adiar a decisão na questão principal da organização dos empregos públicos. A polícia e a polícia secreta começaram a interferir consideravelmente com as organizações de desempregados. Consequentemente, havia conflitos quase toda semana entre a comissão e o Conselho de Desempregados. Finalmente, o Conselho de Desempregados apresentou a seguinte resolução para a comissão, em nome dos desempregados de São Petersburgo:
"A atividade da Duma nas últimas duas semanas não está de acordo com as promessas dadas no dia 12 de Abril. Todo seu esforço é para inventar atrasos e pretextos para evitar suas obrigações, assumidas por si mesma. Enquanto isso, nem o desemprego, ou a fome, ou a impaciência dos desempregados diminuiu. Os desempregados enxergam armadilhas e trapaças nas ações da Duma. Portanto, os representantes dos trabalhadores perguntam aos conselheiros: vocês pretendem cumprir suas promessas ou não? Vocês pretendem arrastar essa questão indefinidamente, ou, finalmente, tocar seu negócio? E principalmente, a Duma pretende organizar os empregos públicos? Se os conselheiros da Duma continuarem a adiar seu trabalho e se esquivar de suas promessas, que não tenham esperança de que os representantes dos trabalhadores irão apoiar essa traição. Os representantes dos trabalhadores têm as mãos livres para tomarem qualquer ação que julgarem apropriada.”
Essa declaração levantou a indignação dos conselheiros municipais. Eles se irritaram, e nos chamaram de ingratos. A maioria ameaçou deixar a comissão. Mas logo a tempestade acalmou e eles voltaram ao trabalho. Entretanto, muito pouco foi feito. Foi proposto que o Conselho de Desempregados deixasse a comissão como um protesto por esse atraso, mas essa sugestão não foi apoiada. Então, o Comitê Executivo foi comissionado para notificar a Duma Municipal que a comissão não estava tratando a questão dos empregos públicos como deveria. O Comitê Executivo adotou a seguinte resolução sobre essa questão no dia 9 de Maio de 1905:
“O Comitê Executivo insiste fortemente que a organização dos empregos públicos deve ser tratada imediatamente e de maneira enérgica. O Comitê Executivo avisa à Duma do conflito inevitável que irá ocorrer no caso desses empregos não serem organizados. E o Comitê Executivo não pode assumir responsabilidade por isso.”
Essa resolução foi enviada à Duma Municipal, mas teve pouco efeito. Kedrin não fez nada para acelerar o trabalho. Finalmente, o Conselho de Desempregados informou Kedrin e a Duma, em uma resolução especial, que considerava a presença de Kedrin na comissão nociva para a organização dos empregos públicos de maneira apropriada, e que, portanto, Kedrin deveria ser removido da presidência da Comissão. Durante este período, houve um número de outros conflitos envolvendo Kedrin e ele foi forçado a deixar a presidência da Comissão.
A primeira comissão de desemprego era formada por importantes servos do capital — Advogados: Shnitnikov, Planson, Kedrin, alguns engenheiros e um professor, Falbruk. Essas eram pessoas que se consideravam defensoras dos interesses das massas. E se nós, sentados à mesa com eles, não tivéssemos tido o aprendizado revolucionário Bolchevique, mas apenas tivéssemos assistido e ouvido eles de boca aberta, ao invés de lutar contra eles, eles teriam, sem dúvidas, nos hipnotizado desde o começo e o trabalho de organização dos empregos públicos estaria arruinado. Portanto, quando o mais ilustre advogado capitalista, Eugene Ivanovich Kedrin, entendeu que era impossível nos enganar, e abertamente atrasou a organização dos empregos púbicos, ele foi expulso da comissão e publicamente repreendido. E nós continuamos a seguir a linha Bolchevique de exigir empregos públicos. Com a ajuda dos técnicos no sindicato dos engenheiros que simpatizaram conosco e tinham conexões com a Duma Municipal, nós encontramos os projetos de obras que a Duma havia feito nos arquivos técnicos da Duma.
Nós mesmos descobrimos projetos nos arquivos da Duma Municipal que somavam juntos 5 milhões e 600 mil rublos. Encontramos nove projetos completos para novas pontes em São Petersburgo, com estrutura para bondes elétricos. Essas pontes eram: Mikhailovsky, Silin, Viedensky, Kamenno-ostrovsky, Panteleimonovsky, Kharpovistky, Rizhsky, Alarchin, Varshavsky. Nós encontramos projetos para a construção de três novos mercados nos arquivos: Sitnikovsky, Lotsmansky, e Arsenal, e também projetos completos para a construção de um matadouro, para o sistema de águas de Novoderevensky, um projeto para o porto de Harlena, do aquecimento da estação de bondes, a construção de trens, motores, sistema de telegramas, etc. Alguns desses projetos não poderiam ser realizados pelos desempregados, mas resolvemos usar a maioria deles, pois os desempregados poderiam lidar com este trabalho. Havia muitos trabalhadores habilidosos entre nós — mecânicos, caldeireiros, marceneiros, carpinteiros, torneiros, etc.
O trabalho que tínhamos em mente iria precisar de 6 mil pessoas, e além disso, havia o trabalho do porto de Halerna que iria durar um tempo considerável. Quando começamos a trabalhar com a comissão sobre a forma que esses empregos teriam, nos encontramos contra a resistência obstinada da comissão, particularmente nos conselheiros que seguiam uma linha partidária social-revolucionária ou nacional-socialista. Estes conselheiros socialistas insistiam, e toda comissão os apoiava, que os empregos deveriam assumir a forma de cooperativas(1), que nós organizássemos todos os desempregados em cooperativas de acordo com suas especialidades, e, após receber o número adequado de técnicos e engenheiros do sindicato dos engenheiros, começássemos a trabalhar na empreitada. Eles insistiram que de outra forma a Duma não poderia consentir, porque alguma pessoa jurídica deveria ser responsável por trabalhos envolvendo somas tão grandes. Os conselheiros argumentaram que era impossível simplesmente dar o emprego a alguém sem entrar em uma relação contratual. Em uma frase, os advogados, os membros da comissão, os capitalistas, apesar de dizer que tinham inclinações socialistas, tomavam postura de representantes da burguesia e propunham formas de empregos que melhor serviriam aos seus interesses. Planson foi o principal articulador desta ideia de cooperativas. Ele preparou todos os formulários para esse tipo de emprego, introduziu uma corte para julgar disputas, as formas de pagamento, etc.
Alguns membros do Conselho de Desempregados, que foram influenciados pelos Mencheviques e Sociais-Revolucionários, eram a favor de aceitar essa forma de emprego. Mas o Conselho como um todo e seu Comitê Executivo entenderam que os empregos dessa forma seriam um grande infortúnio para os desempregados, e, talvez, resultaria até mesmo no colapso de todos os empregos públicos, promessa conseguida com muito esforço pelo proletariado de São Petersburgo.
Em primeiro lugar, seria necessário organizar os desempregados em cooperativas competentes e legalizadas. No tempo gasto para conseguir isso, os empregos já teriam escapado de nossas mãos. Também há a questão de que os trabalhadores tendo todo peso e responsabilidade sobre essas cooperativas poderiam não conseguir iniciar os trabalhos imediatamente e poderiam prejudicar algumas empreitadas, e isso daria à comissão de desemprego e aos conselheiros municipais pretextos para encerrar todos os empregos públicos. Portanto, discutimos amplamente em todos os lugares como os empregos deveriam ser; nós discutimos nos conselhos distritais, nas fábricas e nas usinas. Foi somente após considerar muito sobre essa questão que nós levamos nossa decisão ao Conselho de Desempregados. O Conselho de Desempregados se opôs a proposta de que os desempregados fizessem os trabalhos públicos baseados em cooperativas. No dia 7 de Maio, foi decidido exigir que a Duma Municipal tome total responsabilidade pelos empregos.
O Conselho então aprovou algumas resoluções sobre as condições que os empregos públicos deveriam ser organizados. Após discutir cuidadosamente a proposta da Duma, e como fazer o melhor uso dos desempregados, o Conselho decidiu que os empregos públicos propostos eram uma parte insignificante do que a cidade precisava fazer para melhorar o saneamento básico e o bem estar da cidade. O Conselho renunciou toda responsabilidade sobre questões financeiras, administrativas e técnicas dos empregos propostos, rejeitos a forma de emprego via cooperativas, e exigiu que a Duma organizasse empregos públicos imediatamente seguindo as seguintes condições:
A rejeição do Conselho de Desempregados da forma de emprego por cooperativas irritou a Duma Municipal. Os conselheiros municipais insistiram na questão das cooperativas e até mesmo ameaçaram não organizar emprego algum caso não concordássemos com a forma de emprego via cooperativa.
Notas de rodapé:
(1) Na edição em inglês: "artels". [Nota da edição em Inglês]: Um grupo de trabalhadores trabalhando juntos. Essa proposta iria converter os desempregados em empreiteiros particulares. ("A group of workers working together. This proposal would have converted the unemployed into particular contractors") (retornar ao texto)