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O relatório político poderia consistir na enumeração das medidas tomadas pelo CC, mas para o momento actual o essencial não é um tal relatório mas um esboço da nossa revolução no seu conjunto; só ele pode dar a única fundamentação marxista de todas as nossas decisões. Devemos examinar todo o curso precedente do desenvol-vimento da revolução e esclarecer porque se modificou o seu desenvolvimento. Na nossa revolução temos viragens que terão uma enorme importância para a revolução internacional, designadamente a Revolução de Outubro.
Os primeiros êxitos da Revolução de Fevereiro foram determinados pelo facto de que o proletariado foi seguido não só pela massa rural mas também pela burguesia. Daí a facilidade da vitória sobre o tsarismo, que não conseguimos alcançar em 1905. A criação espontânea, por iniciativa própria, dos Sovietes de deputados operários na Revolução de Fevereiro, repetiu a experiência de 1905 - vimo-nos obrigados a proclamar o princípio do Poder Soviético. As massas aprenderam as tarefas da revolução com a sua própria experiência da luta. Os acontecimentos de 20-21 de Abril são uma combinação peculiar de uma manifestação com uma espécie de insurreição armada. Foi o bastante para que caísse o governo burguês. Começou uma prolongada política de conciliação decorrente da própria natureza do governo pequeno-burguês instalado no poder. Os acontecimentos de Julho não podiam realizar ainda a ditadura do proletariado - as massas ainda não estavam preparadas. Por isso, nenhuma das organizações responsáveis apelou para isto. Mas no sentido de um reconhecimento no campo dos inimigos, os acontecimentos de Julho tiveram uma grande importância. A kornilovada e os acontecimentos seguintes, como lições práticas, tornaram possível a vitória de Outubro. O erro daqueles que também queriam partilhar o poder em Outubro(N260) consiste em que não ligaram a vitória de Outubro com as jornadas de Julho, a ofensiva, a kornilovada, etc, etc, que conduziram as massas de milhões de pessoas à consciência de que o Poder Soviético se tornara inevitável. Depois segue-se a nossa marcha triunfal por toda a Rússia, acompanhada pela aspiração de todos à paz. Sabemos que com uma renúncia unilateral à guerra não obteremos a paz. Isto já o tínhamos acentuado na Conferência de Abril(1*). Na época de Abril a Outubro, os soldados compreenderam claramente que a política de conciliação não fazia mais do que prolongar a guerra, conduzia a tentativas selvagens e absurdas dos imperialistas de realizar uma ofensiva, de se envolverem mais ainda numa guerra que duraria anos. Foi com base nisto que foi preciso passar a todo o custo, o mais rapidamente possível, a uma política activa de paz, que foi preciso que os Sovietes tomassem o poder nas suas mãos e varrer até ao fim a propriedade latifundiária da terra. Vós sabeis que ela era apoiada não só por Kérenski mas também por Avxéntiev, indo mesmo à prisão de membros dos comités agrários. E foi esta política e esta palavra de ordem do «poder aos Sovietes», incutida por nós na consciência das mais amplas massas populares, que nos deu a possibilidade de em Outubro vencer com tanta facilidade em Petersburgo, que transformaram os últimos meses da revolução russa numa marcha triunfal ininterrupta.
A guerra civil tornou-se um facto. O que nós predizíamos no começo da revolução e mesmo no começo da guerra, e que então uma parte significativa dos círculos socialistas tratava com desconfiança ou mesmo com ironia, isto é, a transformação da guerra imperialista em guerra civil, em 25 de Outubro de 1917 tornou-se um facto para um dos maiores e mais atrasados países participantes na guerra. Nesta guerra civil, a maioria esmagadora da população encontrou-se a nosso lado e, como resultado, a vitória foi-nos extraordinariamente fácil.
As tropas que abandonavam a frente traziam dali para onde quer que fossem o máximo de decisão revolucionária de acabar com a política de conciliação, e os elementos conciliadores, a guarda branca, os filhinhos dos latifundiários encontraram-se privados de qualquer apoio na população. Com a passagem para o lado dos bolcheviques das amplas massas e das unidades militares que avançavam contra nós, a guerra contra eles converteu-se gradualmente numa vitoriosa marcha triunfal da revolução. Vimos isto em Petrogrado, na frente da Gátchína, onde vacilaram os cossacos que Kérenski e Krasnov tentavam lançar contra a capital vermelha, vimos isto mais tarde em Moscovo, em Orenburgo, na Ucrânia. Por toda a Rússia se levantava a vaga da guerra civil e em todo o lado triunfávamos com extraordinária facilidade precisamente porque o fruto estava maduro, porque as massas já tinham passado por toda a experiência da política de conciliação com a burguesia. A nossa palavra de ordem «Todo o poder aos Sovietes», comprovada praticamente pelas massas com uma longa experiência histórica, tornou-se a sua carne e o seu sangue.
Esta é a razão por que os primeiros meses da revolução russa depois de 25 de Outubro de 1917 foram uma marcha ininterrupta. Esta marcha triunfal ininterrupta fazia esquecer, relegava para segundo plano as dificuldades com que a revolução socialista deparou imediatamente e com as quais não podia deixar de deparar. Uma das diferenças fundamentais entre a revolução burguesa e a socialista consiste em que para a revolução burguesa, que nasce do feudalismo, se criam gradualmente, no seio do velho regime, novas organizações económicas que modificam gradualmente todos os aspectos da sociedade feudal. A revolução burguesa tinha uma única tarefa — varrer, afastar, destruir todas as peias da sociedade anterior. Cumprindo esta tarefa, qualquer revolução burguesa cumpre quanto dela se exige: intensifica o crescimento do capitalismo.
Completamente diferente é a situação em que se encontra a revolução socialista. Quanto mais atrasado é o país que, em virtude dos ziguezagues da história, teve de começar a revolução socialista, mais difícil é para ele passar das velhas relações capitalistas para as socialistas. Aqui, às tarefas destrutivas juntam-se tarefas novas, de inaudita dificuldade - as tarefas de organização. Se a iniciativa criadora popular da revolução russa, que passou pela grande experiência de 1905, não tivesse criado os Sovietes já em Fevereiro de 1917, eles de modo algum teriam podido tomar o poder em Outubro, pois o êxito apenas dependia da existência de formas organizativas já prontas de um movimento que abrangia milhões de homens. Esta forma já pronta foram os Sovietes, e por isso no terreno político nos esperavam tão brilhantes êxitos e uma marcha triunfal ininterrupta como a que vivemos, pois a nova forma do poder político estava pronta e só nos restava transformar mediante alguns decretos o Poder dos Sovietes, do estado embrionário em que se encontrava nos primeiros meses da revolução, em forma legalmente reconhecida e confirmada no Estado russo - na República Soviética da Rússia. Esta nasceu de repente, nasceu tão facilmente, porque em Fevereiro de 1917 as massas criaram os Sovietes antes mesmo de qualquer partido ter tido sequer tempo de lançar esta palavra de ordem. Foi a mais profunda criatividade do povo que, depois de ter passado pela experiência amarga de 1905, ensinada por ela, criou esta forma de poder proletário. A tarefa de vencer o inimigo interno foi uma tarefa extremamente fácil. A tarefa da criação do poder político foi extremamente fácil, pois as massas deram-nos o esqueleto, a base, deste poder. A República dos Sovietes nasceu de repente. Mas restavam ainda duas tarefas de uma dificuldade gigantesca, cuja solução não podia ser de modo algum a marcha triunfal pela qual a nossa revolução avançou nos primeiros meses — não tínhamos nem podíamos ter dúvidas de que posteriormente a revolução socialista depararia com tarefas de uma dificuldade gigantesca.
Em primeiro lugar, eram as tarefas de organização interna, que se colocam perante qualquer revolução socialista. A diferença entre a revolução socialista e a burguesa consiste precisamente em que no segundo caso existem formas prontas de relações capitalistas, e o Poder Soviético — proletário — não recebe estas relações prontas, se não se tiver em conta as formas mais desenvolvidas do capitalismo, que no fundo abarcam os sectores superiores da indústria e tocaram ainda muito pouco a agricultura. A organização do registo, o controlo sobre as maiores empresas, a transformação de todo o mecanismo económico do Estado numa única grande máquina, num organismo económico que trabalhe de modo que centenas de milhões de pessoas sejam dirigidas por um único plano - eis a gigantesca tarefa de organização que recaiu sobre os nossos ombros. Nas actuais condições de trabalho, ela não admitia de modo nenhum ser resolvida «com vivas», como conseguíamos resolver as tarefas da guerra civil. A própria essência do assunto não permitia esta solução. Se vencemos tão facilmente os nossos kaledinistas e criámos a República Soviética com uma resistência que nem sequer merecia uma atenção séria, tal curso dos acontecimentos estava predeterminado por todo o desenvolvimento objectivo precedente, de tal modo que só faltava dizer a última palavra, mudar o rótulo, em vez de «o Soviete existe como uma organização profissional» escrever «o Soviere é a única forma de poder de Estado» — as coisas não se colocaram assim em relação às tarefas de organização. Aqui encontrámos dificuldades gigantescas. Aqui imediatamente se tornou claro para quem quisesse tratar de modo reflectido as tarefas da nossa revolução que a decomposição que a guerra trouxera à sociedade capitalista só podia ser vencida pela via longa e dura da autodisciplina, só por uma via extraordinariamente dura, longa e tenaz poderemos superar esta decomposição e vencer os elementos que a agravaram, que viram a revolução como um meio de se desembaraçarem das antigas peias, colhendo dela todo o possível. O aparecimento em grande número destes elementos era inevitável num país de pequenos camponeses num momento de incrível ruína, e espera-nos uma luta contra eles cem vezes mais difícil, que não promete nenhumas posições espectaculares, uma luta que apenas iniciámos. Encontramo-nos no primeiro degrau desta luta. Aqui esperam-nos duras provações. Aqui, dada a situação objectiva, não poderemos limitar-nos em caso nenhum a marchar triunfalmente de bandeiras desfraldadas, como marchámos contra os kaledinistas. Todo aquele que tente transferir este método de luta para as tarefas de organização que se erguem no caminho da revolução acabaria numa completa bancarrota como político, como socialista e como dirigente da revolução socialista.
E o mesmo esperavam alguns dos nossos jovens camaradas, que se entusiasmaram com a inicial marcha triunfal da revolução, quando perante esta se ergueu concretamente a segunda dificuldade gigantesca que recaía sobre os seus ombros — a questão internacional. Se pudemos acabar tão facilmente com os bandos de Kérenski, se criámos tão facilmente um poder no nosso país, se conseguimos sem a menor dificuldade os decretos sobre a socialização da terra, sobre o controlo operário, se obtivemos tão facilmente tudo isto, é apenas porque as condições favoráveis criadas durante um curto momento nos protegeram contra o imperialismo internacional. O imperialismo internacional, com todo o poderio do seu capital, com a sua técnica militar altamente organizada, que representa a verdadeira força, a verdadeira fortaleza do capital internacional, não podia em caso nenhum e em nenhumas condições entender-se com a República Soviética, tanto pela sua situação objectiva como pelos interesses económicos da classe capitalista que ele encarnava — não podia, em virtude dos laços comerciais, das relações financeiras internacionais. Aqui o conflito é inevitável. Aqui reside a maior dificuldade da revolução russa, o seu maior problema histórico: a necessidade de resolver as tarefas internacionais, a necessidade de provocar a revolução internacional, de realizar a passagem da nossa revolução, como revolução estritamente nacional, a mundial. Esta tarefa levantou-se perante nós em toda a sua incrível dificuldade. Repito que muitos dos nossos jovens amigos, que se consideram de esquerda, começaram a esquecer o mais importante, a saber: porque é que durante semanas e meses de grande triunfo depois de Outubro tivemos a possibilidade de avançar tão facilmente de triunfo em triunfo. E entretanto isto foi assim apenas porque a especial conjuntura internacional que se criou nos protegeu temporariamente do imperialismo. Outras coisas o preocupavam mais do que nós. Também a nós nos pareceu que outras coisas nos preocupavam mais do que o imperialismo. E determinados imperialistas preocupavam-se mais com outras coisas do que connosco, apenas porque toda a enorme força político-social e militar do imperialismo mundial actual estava nesse momento dividida em dois grupos por uma guerra intestina. Implicados nesta luta, os abutres imperialistas chegaram a extremos incríveis, à luta de morte, até um ponto tal que nenhum destes grupos pôde concentrar forças minimamente sérias contra a revolução russa. Em Outubro, coincidimos precisamente com esse momento: a nossa revolução coincidiu precisamente — isto é paradoxal, mas é justo— com o feliz momento em que inauditas calamidades caíram sobre a enorme maioria dos países imperialistas sob a forma da destruição de milhões de pessoas, em que a guerra esgotava os povos com calamidades inauditas, em que, no quarto ano de guerra, os países beligerantes tinham chegado a um beco sem saída, a uma encruzilhada, em que se colocou objectivamente a questão: poderão continuar a lutar povos levados a semelhante situação? Só graças ao facto de a nossa revolução ter coincidido com este feliz momento em que nenhum dos dois gigantescos grupos de abutres podia lançar-se imediatamente um contra o outro nem unir-se contra nós; à nossa revolução só podia aproveitar, e aproveitou, este momento das relações políticas e económicas internacionais, para realizar esta sua brilhante marcha triunfal na Rússia europeia, passar à Finlândia, começar a conquistar o Cáucaso, a Roménia. Só assim pode explicar-se que entre nós, nos círculos avançados do nosso partido, aparecessem funcionários intelectuais-super-homens que se deixaram arrastar por esta marcha triunfal, que disseram: nós venceremos o imperialismo internacional; também ali será uma marcha triunfal, ali não existem verdadeiras dificuldades. Isto diverge da situação objectiva da revolução russa, que aproveitou apenas dificuldades temporárias do imperialismo internacional, pois deteve-se temporariamente a máquina que devia lançar-se contra nós tal como um comboio se lança contra um carrinho de mão e o esmaga — e a máquina deteve-se porque os dois grupos de abutres se tinham chocado um contra o outro. Tanto ali como aqui crescia o movimento revolucionário, mas em todos os países imperialistas sem excepção ele encontrava-se ainda, na maioria dos casos, num estado inicial. O seu ritmo de desenvolvimento não era de modo nenhum o nosso. Para aquele que reflectisse nas premissas económicas da revolução socialista na Europa não podia deixar de ser claro que na Europa é incomensuravelmente mais difícil começar a revolução, e na Rússia é incomensuravelmente mais fácil começá-la, mas será mais difícil continuá-la do que ali. Esta situação objectiva fez com que tivéssemos de atravessar uma viragem na história extraordinariamente dura e brusca. Da ininterrupta marcha triunfal em Outubro, Novembro e Dezembro na nossa frente interna, contra a nossa contra-revolução, contra os inimigos do Poder Soviético, tivemos de passar ao combate com o verdadeiro imperialismo internacional na sua verdadeira atitude de hostilidade para connosco. Do período da marcha triunfal tivemos de passar a um período de uma situação extraordinariamente difícil e dura e da qual, naturalmente, era impossível sair com palavras, com brilhantes palavras de ordem — por muito agradável que fosse -, pois no nosso desorganizado país tínhamos massas terrivelmente cansadas e que tinham chegado a uma situação tal em que era impossível continuar a lutar, que estavam a tal ponto extenuados por três anos de guerra cruel que tinham chegado a um estado de completa inutilidade militar. Já antes da Revolução de Outubro vimos representantes das massas de soldados não pertencentes ao partido bolchevique, que não se constrangiam em dizer perante toda a burguesia a verdade de que o exército russo não combateria. Esta situação no exército criou uma crise gigantesca. O país, composto por pequenos camponeses, desorganizado pela guerra, conduzido por ela a um estado inaudito, foi colocado numa situação extraordinariamente dura: não temos exército, mas temos de continuar a viver ao lado de um abutre que está armado até aos dentes, que até agora foi e continua a ser um abutre e a quem, naturalmente, era impossível impressionar com a agitação acerca da paz sem anexações nem contribuições. Um manso animal doméstico estava deitado ao lado de um tigre e tentava convencê-lo de que a paz fosse sem anexações e sem contribuições, mas esta só se poderia conseguir atacando o tigre. As cúpulas do nosso partido — a intelectualidade e uma parte das organizações operárias — tentavam escapar a esta perspectiva sobretudo mediante frases e pretextos: não deve ser assim. Esta paz constituía uma perspectiva demasiado inverosímil para que nós, que até agora tínhamos ido para um combate aberto de bandeiras desfraldadas e que com gritos tínhamos derrotado todos os inimigos, pudéssemos ceder, aceitar condições humilhantes. Nunca! Somos revolucionários demasiado orgulhosos, declaramos acima de tudo: «O alemão não poderá atacar.»(N261)
Tal era o primeiro pretexto com que esta gente se consolava. A história colocou-nos agora numa situação extraordinariamente difícil; realizando um trabalho de organização inauditamente difícil, temos de passar por uma série de cruéis derrotas. Se se observar a uma escala histórico-mundial, não há a menor dúvida de que a vitória final da nossa revolução, se ela permanecesse sozinha, se não existisse um movimento revolucionário noutros países, seria sem esperança. Se nós, o partido bolchevique, tomámos tudo nas mãos, fizemo-lo convencidos de que a revolução amadurece em todos os países, e que no fim dos fins — e não no princípio dos princípios — quaisquer que fossem as dificuldades que atravessássemos, quaisquer que fossem as derrotas a que estivéssemos condenados, a revolução socialista internacional viria - pois já vem; amadureceria — pois já amadurece, e amadurecerá por completo. A nossa salvação de todas estas dificuldades - repito - está na revolução europeia. Partindo desta verdade, verdade completamente abstracta, e guiando-nos por ela, devemos velar por que ela não se converta com o tempo numa frase, pois qualquer verdade abstracta, se a aplicardes sem qualquer análise, converte-se numa frase. Se dizeis que cada greve encerra a hidra da revolução e que quem não o compreende não é socialista, isso é verdade. Sim, cada greve encerra a revolução socialista. Mas se dizeis que cada greve dada é um passo directo para a revolução socialista, dizeis uma frase vazia. Ouvimos e fartámo-nos de ouvir isto «cada dia que Deus dá, neste mesmo lugar», até ao ponto de os operários terem rejeitado todas estas frases anarquistas, pois se é indubitável que cada greve encerra a hidra da revolução socialista é igualmente claro que a afirmação de que de cada greve se pode passar à revolução constitui um absurdo. É tão absolutamente indiscutível que todas as dificuldades da nossa revolução só poderão ser superadas quando amadurecer a revolução socialista mundial, que amadurece em toda a parte, como é absolutamente absurda a afirmação de que devemos esconder cada dificuldade determinada concreta actual da nossa revolução, dizendo: «Jogo tudo no movimento socialista internacional - posso fazer toda a espécie de tolices.» «Liebknecht nos ajudará, porque ele vencerá de qualquer modo.» Criará uma organização tão magnífica, planeará tudo de antemão de tal modo que nós tomaremos as formas prontas, tal como tomámos a doutrina marxista pronta na Europa Ocidental — e graças ao que ela venceu no nosso país talvez em alguns meses, enquanto a sua vitória na Europa Ocidental exigiu dezenas de anos. Assim, é uma aventura absolutamente inútil a transposição do velho método de resolução da questão da luta por meio de uma marcha triunfal para o novo período histórico, que já começou, que colocou perante nós não a podridão de Kérenski e Kornílov, mas colocou um abutre internacional, o imperialismo da Alemanha, onde a revolução apenas começou a amadurecer, mas evidentemente não amadureceu completamente. A afirmação de que o inimigo não se decidiria a atacar a revolução era uma aventura deste tipo. As negociações de Brest não representavam ainda o momento em que devíamos aceitar quaisquer condições de paz. A correlação objectiva de forças correspondia a uma situação em que a obtenção de tréguas era pouco. As negociações de Brest deviam mostrar que os alemães iam atacar, que a sociedade alemã não estava tão prenhe de revolução que esta pudesse rebentar agora, e que é impossível culpar os imperialistas alemães de não terem preparado ainda com a sua conduta esta explosão ou, como dizem os nossos jovens amigos que se consideram de esquerda, uma situação em que o alemão não pode atacar. Quando lhes dizem que não temos exército, que nos vimos obrigados a desmobilizá-lo - e vimo-nos obrigados, apesar de que nem por um momento esquecemos que ao lado do nosso manso animal doméstico está deitado um tigre -, eles não querem compreender. Se nos vimos obrigados a desmobilizar o exército, de modo algum esquecemos que não é possível pôr fim à guerra por meio da ordem unilateral de cravar a baioneta na terra.
Como foi que, em geral, nenhuma corrente, nenhuma orientação, nenhuma organização do nosso partido foi contra esta desmobilização? Acaso todos nós nos teríamos tornado completamente loucos? De modo nenhum. Oficiais não bolcheviques diziam já antes de Outubro que o exército não podia lutar, que não havia possibilidade de o reter na frente algumas semanas. Depois de Outubro, isto tornou-se evidente para quem quisesse ver os factos, a realidade amarga, desagradável, e não esconder-se ou enterrar o chapéu até aos olhos, escapando-se com frases orgulhosas. Não há exército, é impossível retê-lo. O melhor que se pode fazer é desmobilizá-lo o mais depressa possível. É a parte doente de um organismo, é a parte que suportou sofrimentos inauditos, que foi martirizada pelas privações de uma guerra em que entrou não preparada tecnicamente e saiu num tal estado que perante cada ofensiva se entrega ao pânico. Não podemos culpar disto homens que sofreram padecimentos tão inauditos. Os soldados disseram com toda a sinceridade em centenas de resoluções, mesmo durante o primeiro período da revolução russa: «afogámo-nos em sangue, não podemos combater.» Podia-se ter adiado artificialmente o final da guerra, podia-se ter praticado a falcatrua de Kérenski, podia-se adiar o final algumas semanas, mas a realidade objectiva abria caminho. O exército é uma parte doente do organismo estatal russo, que não pode continuar a suportar o peso desta guerra. Quanto mais depressa o desmobilizarmos tanto mais depressa será absorvida pelas partes que ainda não estão tão doentes, tanto mais depressa poderá o país estar preparado para novas e duras provações. Eis o que sentíamos quando, unanimemente, sem o menor protesto, tomámos esta decisão, absurda do ponto de vista dos acontecimentos externos - desmobilizar o exército. Foi um passo correcto. Nós dizíamos que tentar deter o exército era uma ilusão leviana. Quanto mais depressa desmobilizarmos o exército tanto mais depressa começará a cura de todo o organismo social no seu conjunto. Eis porque foi um erro tão profundo e uma sobrestimação tão amarga dos acontecimentos a frase revolucionária: «O alemão não pode atacar», da qual deriva outra: «Podemos proclamar o fim do estado de guerra. Nem guerra nem assinar a paz»(N262). Mas se o alemão atacar? «Não, ele não poderá atacar.» Mas tendes direito não de jogar no destino da revolução internacional, mas de colocar a questão concreta: não acabareis por ser cúmplices do imperialismo alemão quando chegar este momento? Mas nós, que desde Outubro de 1917 nos tornámos todos defensistas, que reconhecemos a defesa da pátria, todos sabemos que rompemos com os imperialistas não em palavras, mas de facto: anulámos os tratados secretos(N263), vencemos a burguesia no nosso país e propusemos abertamente uma paz honrosa de modo que todos os povos puderam ver nos factos todas as nossas intenções. Como puderam pessoas que adoptam seriamente o ponto de vista da defesa da República Soviética ir para esta aventura, que já deu os seus frutos? E isto é um facto, pois a dura crise que o nosso partido atravessa, ligada à formação nele de uma oposição «de esquerda», é uma das maiores crises que a revolução russa atravessou.
Esta crise será superada. Nem o nosso partido nem a nossa revolução partirão de modo nenhum o pescoço nela, ainda que num dado momento isto tenha estado muito próximo, tenha sido muito possível. A garantia de que não quebraremos o pescoço nesta questão reside em que em vez do velho método de resolver as divergências de fracções, do velho método que consiste numa quantidade extraordinária de literatura e de discussões, num bom número de cisões — em vez deste velho método, os acontecimentos trouxeram às pessoas um novo método de aprender. Este método consiste em tudo confrontar com os factos, os acontecimentos e as lições da história mundial. Dizeis que o alemão não pode atacar. Da vossa táctica decorre que é possível declarar o fim do estado de guerra. A história deu-vos uma lição, refutou esta ilusão. Sim, a revolução alemã vai crescer, mas não como quereríamos, não com a rapidez que seria do agrado dos intelectuais russos, não com o ritmo estabelecido em Outubro pela nossa história, quando chegávamos a qualquer cidade, proclamávamos o Poder Soviético e, em poucos dias, nove décimos dos operários juntavam-se a nós. A revolução alemã tem a infelicidade de não avançar com tanta rapidez. Mas quem deve contar com quem: nós com ela ou ela connosco? Vós quisestes que ela contasse convosco, mas a história deu-vos uma lição. É uma lição porque é uma verdade absoluta o facto de que sem a revolução alemã estávamos perdidos - talvez não em Petrogrado nem em Moscovo, mas em Vladivostoque, em lugares ainda mais distantes para onde talvez tenhamos de passar, e dos quais nos separa uma distância talvez ainda maior do que a distância de Petrogrado a Moscovo. Mas de qualquer modo e com todas as peripécias possíveis e imagináveis, se a revolução alemã não começa, nós pereceremos. Contudo, isto não faz vacilar nem por um instante a nossa convicção de que devemos saber suportar as situações mais difíceis sem fanfarronices.
A revolução não chegará tão depressa como esperávamos. A história demonstrou-o e temos de o saber aceitar como um facto, temos de saber ter em conta que a revolução socialista mundial nos países avançados não pode começar tão facilmente como começou a revolução na Rússia, país de Nicolau e de Raspútine, e quando para grande parte da população era completamente indiferente saber que povos vivem na periferia e o que por lá acontece. Num tal país, começar a revolução foi fácil, foi como levantar uma pena.
Mas começar sem preparação a revolução num país onde o capitalismo se desenvolveu e deu uma cultura democrática, uma organização que atingem até ao último homem, é um erro, é um absurdo. Aqui apenas abordamos o penoso período do começo das revoluções socialistas. Isto é um facto. Nós não sabemos, ninguém sabe, talvez — isto é plenamente possível - ela vença dentro de poucas semanas, mesmo dentro de alguns dias, mas não se pode jogar tudo nisso. É preciso estarmos preparados para dificuldades extraordinárias, para derrotas extraordinariamente duras que são inevitáveis, porque na Europa a revolução ainda não começou, ainda que possa começar amanhã, e, quando começar, naturalmente, as nossas dúvidas não nos atormentarão, não haverá questões sobre a guerra revolucionária, e haverá apenas uma marcha triunfal ininterrupta. Isto acontecerá, isto acontecerá inevitavelmente, mas não aconteceu ainda. Este é um facto simples que a história nos ensinou, é um facto com que ela nos atingiu dolorosamente — e um homem prevenido vale por dois. Por isso, considero que depois de a história nos ter atingido muito dolorosamente a propósito desta esperança - de que o alemão não poderá atacar e de que podemos conseguir tudo «com vivas» - esta lição, graças às nossas organizações soviéticas, chegará à consciência das massas de toda a Rússia Soviética muito depressa. Elas agitam-se, reúnem-se, preparam-se para o congresso, aprovam resoluções, meditam sobre tudo o que se passou. Entre nós decorrem não as velhas discussões de antes da revolução, que permaneciam dentro de estreitos círculos partidários, mas todas as decisões são submetidas à discussão das massas que reclamam a sua comprovação pela experiência, pelos factos, que nunca se deixam arrastar por discursos fáceis, nunca se deixam desviar do caminho traçado pelo curso objectivo dos acontecimentos. Naturalmente, pode-se evitar com pretextos as dificuldades que se levantam diante de nós, se se trata de um intelectual ou de um bolchevique de esquerda: ele, naturalmente, pode evitar com pretextos questões tais como a de que não há exército, de que a revolução não começa na Alemanha. As massas de milhões — e a política começa onde existem milhões; a política séria só começa onde existem não milhares mas milhões —, os milhões sabem o que é o exército, viram os soldados que voltavam da frente. Sabem — se se tomar não uma pessoa isolada mas a verdadeira massa — que não podemos lutar, que todo o homem sofreu na frente tudo o que se pode imaginar. A massa compreendeu a verdade de que se não há exército, e ao nosso lado está um abutre, teremos de assinar um tratado de paz muito duro e humilhante. Isto é inevitável enquanto não nascer a revolução, enquanto não curarmos o nosso exército, enquanto não o enviarmos para casa. Enquanto não fizermos isto, o doente não se curará. Não venceremos o abutre alemão «com vivas», não o derrubaremos como derrubámos Kérenski e Kornílov. Eis a lição que as massas tiraram sem as ressalvas que tentaram oferecer-lhes certas pessoas desejosas de eludir a amarga realidade.
No começo, em Outubro e Novembro, uma marcha triunfal ininterrupta — depois, de repente, a revolução russa é derrotada em algumas semanas pelo abutre alemão, a revolução russa está disposta a aceitar as condições de um tratado de rapina. Sim, as viragens da história são muito duras - e no nosso país todas estas viragens são duras. Quando em 1907 assinámos um tratado interno inauditamente vergonhoso com Stolípine, quando fomos obrigados a passar pela pocilga da Duma stolípiniana, assumimos um compromisso ao assinar os papeluchos monárquicos(N264), vivemos, ainda que em menor escala, o mesmo que estamos hoje a viver. Então pessoas pertencentes à melhor vanguarda da revolução diziam (e também não tinham sombra de dúvida de que tinham razão): «Nós somos revolucionários orgulhosos, acreditamos na revolução russa e nunca entraremos nas instituições legais stolipinianas.» Entrareis. A vida das massas, a história, são mais fortes que as vossas afirmações. E se não entrais, a história vos obrigará. Eram elementos muito de esquerda, dos quais, à primeira viragem da história, não ficou nada como fracção senão fumo. Se nós soubemos então permanecer revolucionários, trabalhar em condições penosas e novamente sair dessa situação, também agora saberemos sair, porque não é um capricho nosso, porque é uma necessidade objectiva que se criou num país arruinado até ao último grau, porque, apesar dos nossos desejos, a revolução europeia atreveu-se a atrasar-se, e o imperialismo alemão, apesar dos nossos desejos, atreveu-se a atacar.
Aqui é preciso saber recuar. Não esconder a si próprio a realidade, incrivelmente amarga e triste, com frases; é preciso dizer: Deus nos permita recuar em semiboa ordem. Não podemos recuar em boa ordem — Deus nos permita recuar em semiboa ordem, ganhar um pequeno intervalo de tempo para que a parte doente do nosso organismo possa ser minimamente absorvida. O organismo no seu conjunto é são: ele vencerá a doença. Mas não podemos exigir-lhe que a vença de repente, instantaneamente, não é possível deter um exército que foge. Quando eu disse a um dos nossos jovens amigos que queria ser de esquerda: camarada, dirija-se para a frente e observe o que lá acontece no exército — isto foi tomada como uma proposta ofensiva: «querem-nos desterrar para que não façamos aqui agitação a favor dos grandes princípios da guerra revolucionária.» Ao propor isto eu não tinha verdadeiramente a intenção de desterrar os nossos inimigos fraccionistas: era a proposta de que observassem como o exército iniciara uma debandada inaudita. E sabíamos isto antes e já antes era impossível fechar os olhos a que a decomposição tinha chegado a factos inauditos, à venda dos nossos canhões aos alemães por uma miséria. Sabíamos isto como sabíamos também que não se pode reter um exército na frente, e o pretexto de que o alemão não atacaria era a maior das aventuras. Se a revolução europeia se atrasou no seu nascimento, esperam-nos as derrotas mais duras, porque não temos exército, porque não temos organização, porque não podemos resolver agora estas duas tarefas. Se não sabeis adaptar-vos, se não estais dispostos a andar de rastos de barriga na lama, então não sois revolucionários mas charlatães, e não proponho que andemos assim porque isso me agrade, mas porque não há outro caminho, porque a história não foi tão agradável que a revolução amadurecesse ao mesmo tempo em todo o lado.
As coisas acontecem de tal modo que a guerra civil começou como uma tentativa de choque com o imperialismo, que demonstrou que o imperialismo se decompôs por completo e que dentro de cada exército se erguem os elementos proletários. Sim, veremos a revolução internacional mundial, mas por enquanto isto é um conto muito belo, um conto muito bonito. Compreendo perfeitamente que as crianças gostem de contos bonitos. Mas pergunto: é próprio de um revolucionário sério acreditar em contos? Em todo o conto há elementos de realidade: se oferecêsseis às crianças um conto em que o galo e o gato não falassem uma língua humana, elas não se interessariam por ele. Da mesma maneira, se disserdes ao povo que a guerra civil na Alemanha chegará, e ao mesmo tempo garantísseis que em vez do choque com o imperialismo virá uma revolução internacional nos campos de batalha(8«N265), o povo dirá que o enganais. Deste modo, só na vossa imaginação e nos vossos desejos passais pelas dificuldades que a história oferece. Óptimo se o proletariado alemão estiver em condições de se sublevar. Mas calculaste-lo, encontrastes um. instrumento para determinar que a revolução alemã vai nascer em certo dia? Não, não o sabeis, nós também não sabemos. Quereis jogar tudo numa cartada. Se a revolução nasce, tudo está salvo. Naturalmente! Mas se ela não acontece como nós queremos, se acontece não triunfar amanhã — então o quê? Então as massas dir-vos-ão: actuastes como aventureiros — jogastes tudo nesse feliz curso dos acontecimentos que não se deu, revelaste-vos inaptos na situação que se criou em vez da revolução internacional, que chegará inevitavelmente, mas que ainda não amadureceu.
Começou um período de derrotas duríssimas infligidas por um imperialismo armado até aos dentes a um país que desmobilizou o seu exército, que teve de desmobilizar-se. O que eu predizia sucedeu plenamente: em vez da paz de Brest obtivemos uma paz muito mais humilhante, por culpa daqueles que não a aceitaram. Nós sabíamos que por culpa do exército concluíamos a paz com o imperialismo. Sentávamo-nos à mesa ao lado de Hoffmann e não de Liebknecht. E com isso ajudámos a revolução alemã. Mas agora ajudais o imperialismo alemão, porque entregastes as nossas riquezas de milhões de rublos — canhões, obuses — e isto tinha de o predizer quem quer que visse o estado incrível do exército. A menor ofensiva dos alemães pereceremos inevitável e fatalmente — dizia-o qualquer pessoa honesta vinda da frente. Em poucos dias convertemo-nos em presa do adversário.
Tendo recebido esta lição, nós, por muito dura que seja esta doença, superaremos a nossa cisão, a nossa crise, porque em nossa ajuda virá um aliado incomensuravelmente mais fiel: a revolução mundial. Quando nos falam da ractificação desta paz de Tilsit(N266), desta paz inaudita, mais humilhante e de rapina que a de Brest, eu respondo: incondicionalmente - sim. Devemos fazê-lo, pois observamos as coisas do ponto de vista das massas. A tentativa de transferir a táctica de Outubro-Novembro de dentro de um único país, deste período triunfal da revolução, de a transferir com a ajuda da nossa fantasia para o curso dos acontecimentos da revolução mundial - esta tentativa está condenada ao fracasso. Quando se diz que as tréguas são uma fantasia, quando o jornal que se chama Kommunist(N267) — de comuna, deve ser — quando este jornal enche colunas e colunas tentando refutar a teoria da trégua, então eu digo: passei por muitos choques entre fracções, cisões, e tenho assim uma grande prática, mas devo dizer que vejo claramente que esta doença não se curará pelo velho método — o das cisões fraccionárias do partido -, porque a vida a curará antes. A vida dá passos muito rapidamente. E neste aspecto ela age maravilhosamente. A história faz correr tão rapidamente a sua locomotiva que antes da redacção do Kommunist ter tempo de publicar o seu número seguinte, a maioria dos operários de Petrogrado começará a desiludir-se das suas ideias, porque a vida mostra que a trégua é um facto. Agora assinamos a paz, temos uma trégua, aproveitamo-la para melhor defender a pátria, porque se tivéssemos a guerra, teríamos um exército que fugia de pânico, que seria preciso deter e que os nossos camaradas não podem nem puderam deter porque a guerra é mais forte do que as prédicas e do que dez mil raciocínios. Se não compreenderam a situação objectiva, não podem deter o exército, não o deteriam. Este exército doente contaminou todo o organismo, e sofremos uma nova derrota inaudita, um novo golpe do imperialismo alemão na revolução - um golpe duro, pois levianamente nos expusemos sem metralhadoras aos golpes do imperialismo. Entretanto, nós aproveitaremos esta trégua para convencer o povo a unir-se, a lutar, para dizer aos operários e aos camponeses russos: «Criai uma autodisciplina, uma disciplina rigorosa, pois de outro modo ficareis sob o tacão da bota alemã, tal como vos encontrais agora, como inevitavelmente vos encontrareis enquanto o povo não aprender a lutar, a criar um exército que seja capaz não de fugir mas de suportar inauditos sofrimentos.» Isto é inevitável, porque a revolução alemã ainda não nasceu e é impossível garantir que chegue amanhã.
Eis por que a teoria da trégua, que é completamente rejeitada por uma torrente de artigos do Kommunist, é colocada pela própria vida. Todos vêem que a trégua existe, que todos dela tiramos proveito. Nós supúnhamos que Petrogrado seria perdida por nós em alguns dias, quando as tropas alemãs que se aproximavam de nós se encontravam a uma distância de alguns dias de marcha de Petrogrado, e os melhores marinheiros e putilovistas(2*), apesar de todo o seu grande entusiasmo, se encontravam sozinhos, quando se verificava um caos inaudito, um pânico que forçava as tropas a fugir até Gátchina, quando recuperávamos o que não tínhamos entregado, coisa que consistia em que um telegrafista chegava a uma estação, sentava-se diante do aparelho e telegrafava: «Não há um único alemão. A estação foi ocupada por nós.» Algumas horas depois uma chamada telefónica comunicava-me do Comissariado das Vias de Comunicações: «Foi ocupada a estação seguinte, aproximamo-nos de Iamburgo. Não há um único alemão. O telegrafista ocupa o seu lugar.» Eis o que vivemos. Eis a história real da guerra de onze dias(N268). Ela foi-nos descrita pelos marinheiros e pelos putilovistas, que temos de levar ao congresso dos Sovietes. Que eles contem a verdade, é uma verdade terrivelmente amarga, penosa, dolorosa, humilhante, mas é cem vezes mais útil, ela é compreendida pelo povo russo.
Admito que vos entusiasmeis pela revolução internacional nos campos de batalha, porque ela começará. Tudo chegará no seu tempo, mas agora dedicai-vos à autodisciplina, submetei-vos a todo o custo, para que haja uma ordem exemplar, para que os operários, ainda que seja apenas uma hora por dia, aprendam a lutar. Isto é um pouco mais difícil do que contar um bonito conto. E esta a situação agora, com isto ajudareis a revolução alemã, a revolução internacional. Não sabemos quantos dias nos deram de trégua - não sabemos, mas deram. É preciso desmobilizar o exército rapidamente, porque é um órgão doente, e entretanto ajudaremos a revolução finlandesa.
Sim, naturalmente, nós violámos o tratado, já o violámos trinta ou quarenta vezes. Só crianças podem deixar de compreender que numa época em que se inicia um período longo e penoso de libertação, que acaba de criar o Poder Soviético e de o elevar três degraus do seu desenvolvimento - só crianças podem deixar de compreender que aqui haverá uma luta prolongada e prudente. Um tratado de paz vergonhoso provoca a insurreição, mas quando os camaradas do Kommunist discutem sobre a guerra, eles apelam para o sentimento, esquecendo-se de que os homens apertavam os punhos e cerravam os dentes de raiva. O que dizem eles? «Nunca um revolucionário consciente poderá sobreviver a isto, nunca aceitará tal vergonha.» O seu jornal tem o título de Kommunist, mas devia ter o título Szlachcic(3*), pois vê as coisas do ponto de vista do szlachcic que dizia, ao morrer numa bela pose com a espada na mão: «A paz é a vergonha, a guerra é a honra." Eles discutem do ponto de vista do szlachcic, e eu do ponto de vista do camponês.
Se eu aceito a paz quando o exército foge, não pode deixar de fugir para não perder milhares de homens, aceito-a para não ser pior. Acaso é vergonhoso o tratado? Qualquer camponês e operário sensato me dará razão, porque eles compreendem que a paz é um meio para acumular forças. A história conhece - já me referi a isto mais de uma vez - a história conhece a libertação dos alemães de Napoleão depois da paz de Tilsit; chamei intencionalmente à paz uma paz de Tilsit, ainda que nós não tenhamos assinado o que havia nela: a obrigação de ajudar o conquistador com as nossas tropas para a conquista de outros povos; mas a história chegou a isto, e a isto chegarão as coisas também entre nós se apenas esperarmos pela revolução internacional nos campos de batalha. Tende cuidado, não vos conduza a história também a esta forma de escravatura militar. E enquanto a revolução socialista não tiver vencido em todos os países, a República Soviética pode cair na escravidão. Em Tilsit Napoleão forçou os alemães a condições de paz inauditamente vergonhosas. Ali as coisas passaram-se de tal modo que a paz foi concluída várias vezes. O Hoffmann de então - Napoleão - apanhava os alemães na violação da paz, e Hoffmann nos apanhará no mesmo. Porém procuraremos que não nos apanhe depressa.
A última guerra deu ao povo russo uma lição amarga e penosa, mas séria - organizar-se, disciplinar-se, submeter-se, criar uma disciplina que seja exemplar. Aprendei com os alemães a sua disciplina, de outro modo somos um povo perdido e ficaremos eternamente na escravidão.
Este e só este foi o curso da história. A história ensina-nos que a paz é uma trégua para a guerra e que a guerra é um meio para obter uma paz melhor ou pior. A correlação de forças em Brest correspondia a uma paz imposta ao vencido, mas não humilhante. A correlação de forças em Pskov correspondia a uma paz vergonhosa, mais humilhante, e em Petrogrado e em Moscovo, na etapa seguinte, ditar-nos-iam uma paz quatro vezes mais humilhante. Nós não diremos que o Poder Soviético é apenas forma, como nos disseram os jovens amigos moscovitas(N270), nós não diremos que em prol destes ou daqueles princípios revolucionários se pode sacrificar o conteúdo, mas diremos: que o povo russo compreenda que deve disciplinar-se, organizar-se, e então poderá suportar todas as pazes de Tilsit. Toda a história das guerras de libertação nos mostra que se estas guerras abrangiam amplas massas, a libertação começava rapidamente. Nós dizemos: se tal é o curso da história, teremos de pôr de lado a paz e voltar à guerra - e isto talvez aconteça nos próximos dias. Cada homem deve estar pronto. Para mim não existe sombra de dúvida de que os alemães se prepararam para além de Narva, se é verdade que não foi tomada, como se diz em todos os jornais; se não é em Narva é nas proximidades de Narva; se não é em Pskov é nas proximidades de Pskov que os alemães concentram o seu exército regular, preparam os seus caminhos-de-ferro para com o próximo salto conquistarem Petrogrado. Esta fera salta bem. Já o mostrou. Saltará mais uma vez. Sobre isto não há sombra de dúvida. Por isso, é preciso estar pronto, é preciso saber não dizer fanfarronadas, mas aproveitar até um dia de tréguas, pois até um dia poderemos aproveitar para evacuar Petrogrado, cuja tomada custaria inauditos tormentos para centenas de milhares dos nossos proletários. Mais uma vez digo que estou pronto a assinar e considerarei uma obrigação assinar um acordo vinte vezes, cem vezes mais humilhante para obter apenas alguns dias para evacuar Petrogrado, pois alivio com isto os tormentos dos operários que, de outro modo, podem cair sob o jugo dos alemães; facilito a saída de Petrogrado de materiais, pólvora, etc, que nos são necessários, porque sou um defensista, porque sou partidário da preparação do exército - ainda que seja na retaguarda mais afastada, onde se cura o exército doente agora desmobilizado.
Não sabemos quanto durará a trégua - procuraremos aproveitar o momento. Talvez a trégua seja maior, e talvez só dure uns quantos dias. Tudo pode acontecer, ninguém o sabe nem pode saber porque todas as grandes potências estão atadas, limitadas, obrigadas a lutar em várias frentes. A conduta de Hoffmann é determinada, por um lado, pela necessidade de esmagar a República Soviética, e, por outro lado, pelo facto de que tem a guerra em toda uma série de frentes e, por um terceiro lado, porque na Alemanha a revolução amadurece, cresce, e Hoffmann sabe-o, não pode, como se afirma, tomar imediatamente Petrogrado e Moscovo. Mas pode fazê-lo amanhã, isto é plenamente possível. Repito, num momento em que a doença do exército é um facto, quando aproveitamos cada instante, custe o que custar, ainda que seja apenas para um dia de tréguas, dizemos que qualquer revolucionário sério ligado às massas, que saiba o que é a guerra, o que é a massa, deve discipliná-la, deve curá-la, procurar levantá-la para uma nova guerra - qualquer revolucionário deste tipo nos dará razão e reconhecerá como acertado qualquer tratado vergonhoso, pois este último seria no interesse da revolução proletária e da renovação da Rússia, no interesse da sua libertação de um órgão doente. Como compreende qualquer pessoa sensata, assinando esta paz não interrompemos a nossa revolução operária; todos compreendem que ao assinar a paz com os alemães nós não interrompemos a nossa ajuda militar: enviamos armas aos finlandeses, mas não destacamentos que se revelam inservíveis.
Talvez venhamos a aceitar a guerra. Talvez amanhã entreguemos também Moscovo, mas depois passaremos à ofensiva: lançaremos o nosso exército contra o exército inimigo, se se produzir no estado de espírito das massas a viragem que está a amadurecer, para o que talvez seja necessário muito tempo, mas que começará quando as amplas massas não disserem o que dizem agora. Sou obrigado a aceitar mesmo a paz mais dura, porque agora não posso dizer a mim mesmo que esse momento chegou. Quando chegar o momento da renovação, todos o sentirão e verão que o russo não é tolo, ele vê, ele compreenderá que é preciso conter-se, que é preciso aplicar esta palavra de ordem - nisto reside a tarefa principal do nosso congresso do partido e do congresso dos Sovietes.
É preciso saber trabalhar no novo caminho. É incomensuravelmente mais duro, mas não de modo algum sem esperanças. De modo algum fará fracassar o Poder Soviético, se nós próprios não o fizermos fracassar com uma aventura estúpida. Chegará um momento em que o povo dirá: não permito que me martirizem mais. Mas isso só acontecerá se não cairmos nessa aventura e aprendermos a trabalhar em condições duras e com um tratado inauditamente humilhante que assinámos há dias, pois uma tal crise histórica não se resolve com uma só guerra, com um só tratado de paz. O povo alemão foi atado pela sua organização monárquica em 1807, quando assinou a sua paz de Tilsit, depois de várias pazes humilhantes, que se convertiam em tréguas a que se seguia nova humilhação e nova violação. A organização soviética das massas facilitará a nossa tarefa.
A nossa palavra de ordem deve ser só uma — aprender verdadeiramente a arte militar, estabelecer a ordem nos caminhos-de-ferro. Uma guerra revolucionária socialista sem caminhos-de-ferro é a pior das traições. E preciso criar a ordem e é preciso criar toda a energia, todo o poder que criarão o melhor que a revolução tem.
Agarrai a trégua, ainda que seja por uma hora, uma vez que vo-la deram, para manter contacto com a retaguarda distante, para ali criar novos exércitos. Abandonai as ilusões pelas quais a vida vos castigou e ainda vos castigará mais. Perante nós desenha-se uma época de derrotas muito duras, ela está aqui, há que aprender a tê-la em conta, é preciso estarmos preparados para um trabalho tenaz em condições ilegais, em condições de uma evidente escravidão pelos alemães: não há que embelezar isto; é uma autêntica paz de Tilsit. Se soubermos agir deste modo, então, apesar das derrotas, podemos dizer com absoluta certeza que venceremos. (Aplausos.)
Um curto relato jornalístico foi publicado a 9 de Março (24 de Fevereiro) de 1918 no n.° 45 do Pravda.
Camaradas, permiti-me que comece por observações relativamente pequenas, pelo fim. O camarada Bukhárine, no fim do seu discurso, foi ao ponto de nos comparar com Petliura. Se considera que é assim, como pode continuar no mesmo partido connosco? Não é isto uma frase? Naturalmente, se assim fosse na realidade, não estaríamos no mesmo partido. O facto de estarmos juntos demonstra que estamos de acordo com Bukhárine em nove décimos. É certo que acrescentou algumas frases revolucionárias dizendo que queríamos trair a Ucrânia. Estou convencido de que não vale a pena falar de bagatelas tão evidentes. Voltarei ao camarada Riazánov e quero assinalar aqui que, da mesma maneira que uma excepção registada uma vez em dez anos apenas confirma a regra, também lhe aconteceu dizer sem querer uma frase sensata. (Aplausos.) Disse que Lénine cede espaço para ganhar tempo. É um raciocínio quase filosófico. Aconteceu desta vez que o camarada Riazánov pronunciou uma frase - é verdade que só uma frase - absolutamente séria, que encerra toda a essência: eu quero ceder espaço ao vencedor de facto para ganhar tempo. Nisto reside toda a essência, e só nisto. Tudo o mais é só conversa: necessidade de guerra revolucionária, ascenso do campesinato, etc. Quando o camarada Bukhárine apresenta as coisas como se não pudesse haver duas opiniões acerca da possibilidade da guerra e diz: «perguntai a qualquer militar» (anotei as suas palavras), uma vez que ele coloca assim a questão, que se pergunte a qualquer militar, eu responder-lhe-ei: esse qualquer militar foi um oficial francês com o qual tive ocasião de conversar(N271). Este oficial francês olhando-me, naturalmente, com olhos zangados — pois eu vendi a Rússia aos alemães — disse: «Sou realista, sou partidário da monarquia também em França, partidário da derrota da Alemanha, não pense que sou partidário do Poder Soviético - como pensá-lo, se é monárquico — mas fui favorável a que assinásseis o tratado de Brest, porque isso é necessário.» Aí tem o «perguntai a qualquer militar». Qualquer militar tinha de dizer o que eu disse: era preciso assinar o tratado em Brest. Se agora do discurso de Bukhárine se deduz que as nossas divergências diminuíram muito, é porque os seus partidários ocultaram o ponto principal das divergências.
Quando agora Bukhárine nos fulmina porque desmoralizámos as massas, tem absoluta razão, só que se fulmina a si próprio e não a nós. Quem trouxe essa embrulhada para o CC? - Você, camarada Bukhárine. (Risos.) Por muito que grite «não», a verdade virá ao de cima: estamos na nossa família de camaradas, estamos no nosso próprio congresso, nada há a ocultar e é preciso dizer a verdade. E a verdade consiste em que no CC havia três correntes. Em 17 de Fevereiro Lómov e Bukhárine não votaram. Pedi que se reproduzissem os resultados da votação, que se tirassem cópias, qualquer membro do partido, se o desejar, pode ir ao secretariado e ver a votação — a histórica votação de 21 de Janeiro, a qual mostra que foram eles que vacilaram, e nós não vacilámos absolutamente nada, nós dissemos: «aceitemos a paz em Brest - não obtereis outra melhor - para preparar a guerra revolucionária.» Agora já ganhámos cinco dias para evacuar Petrogrado. Agora foi publicado o apelo de Krilenko e Podvóiski(N272), que não pertenciam ao número dos esquerdas e que Bukhárine tratou de alto dizendo que «empurram para a frente» Krilenko, como se nós tivéssemos inventado aquilo que Krilenko relatou. Com isso estamos absolutamente de acordo; as coisas passam-se assim, esses militares demonstraram aquilo que eu dizia, enquanto vós pretextais que o alemão não atacará. Acaso se poderá comparar esta situação com a de Outubro, quando não se tratava da técnica? Não, se quereis ter em conta os factos, tende em conta que as divergências se referiam a que é impossível começar a guerra quando ela é evidentemente desvantajosa. Quando o camarada Bukhárine começou o seu discurso de encerramento com a tonitruante pergunta: «é possível a guerra num futuro imediato?», ele surpreendeu-me muito. Respondo sem vacilar: é possível, mas agora é preciso aceitar a paz. Aqui não há qualquer contradição.
Depois destas curtas observações, passo a responder pormenorizadamente aos oradores precedentes. Devo fazer uma excepção com Rádek. Mas houve outra intervenção, a do camarada Urítski. O que havia nela além de Canossa(N273), «traição», «recuamos», «adaptamo-nos»? Mas o que é isso? Não retirou a sua crítica do jornal socialista-revolucionário de esquerda? O camarada Búbnov leu-nos uma declaração apresentada ao CC por membros do CC que se consideram muito de esquerda e que deram um completo exemplo de uma manifestação perante todo o mundo: «a conduta do CC vibra um golpe no proletariado internacional.» Acaso não é isto uma frase? «Demonstrar a impotência perante todo o mundo!» Com que o demonstramos? Com a proposta de paz? Com a fuga do exército? Acaso não demonstrámos que começar a guerra contra a Alemanha agora, sem aceitar a paz de Brest, significa mostrar ao mundo que o nosso exército está doente, que não deseja marchar para o combate? É completamente vazia a afirmação de Búbnov de que essa vacilação foi criada inteiramente por nós. Isso aconteceu porque o nosso exército está doente. Era preciso dar-lhe uma trégua, fosse quando fosse. Se tivésseis seguido uma estratégia correcta, teríamos um mês de tréguas, mas como seguistes uma estratégia incorrecta, temos apenas cinco dias de tréguas — e mesmo isso é bom. A história da guerra mostra que para deter um exército que foge em pânico por vezes chegam mesmo uns dias. Quem não aceita, não assina agora a paz diabólica, é um homem da frase e não da estratégia. Eis onde está o mal. Quando membros do CC me escrevem: «demonstração de impotência», «traição», isso é uma frase pueril, vazia, prejudicial. Demonstrámos impotência tentando combater quando era impossível fazer demonstrações, quando a ofensiva contra nós era inevitável. No que se refere aos camponeses de Pskov, leva-los-emos ao congresso dos Sovietes para que contem como os alemães se comportam, para que criem uma psicologia que faça com que o soldado que sofre da doença de fugir em pânico comece a curar-se e diga: «Sim, agora compreendi que esta não é a guerra que os bolcheviques tinham prometido acabar — esta é uma nova guerra que os alemães fazem contra o Poder Soviético.» Então começará a cura. Mas vós colocais uma questão que é impossível resolver. Ninguém sabe qual a duração da trégua.
Seguidamente devo referir-me à posição do camarada Trótski. É preciso distinguir dois aspectos na sua actividade: quando começou as negociações de Brest, aproveitando-as magnificamente para a agitação, todos estivemos de acordo com o camarada Trótski. Ele citou uma parte da conversa que teve comigo, mas eu acrescentarei que tínhamos combinado que nos manteríamos até ao ultimato dos alemães e que depois do ultimato capitularíamos. O alemão enganou-nos: de sete dias roubou-nos cinco(N274). A táctica de Trótski era justa na medida em que visava protelar as coisas: tornou-se injusta quando se declarou o fim do estado de guerra e não se assinou a paz. Eu propus de modo absolutamente definido que se assinasse a paz. Não podíamos conseguir uma paz melhor que a de Brest. Está claro para todos que a trégua teria sido de um mês, que não teríamos ficado a perder. Na medida em que a história varreu isto, não vale a pena recordá-lo, mas é ridículo que Bukhárine diga: «a vida mostrará que tínhamos razão.» Eu tinha razão, porque escrevi sobre isto já em 1915: «Temos de nos preparar para fazer a guerra, ela é inevitável, ela vem, chegará.»(4*) Mas era preciso aceitar a paz e não fanfarronar em vão. E era tanto mais necessário aceitar a paz quanto a guerra chegará, e agora, pelo menos, facilitamos a evacuação de Petrogrado, facilitámo-la. Isto é um facto. Quando o camarada Trótski apresenta novas exigências: «prometei que não assinareis a paz com Vinnitchenko», eu digo que em caso algum contrairei esse compromisso(N275). Se o congresso contraísse esse compromisso, ninguém, nem eu nem nenhum dos que pensam como eu, ninguém tomaria sobre si a responsabilidade disso. Isso significaria amarrar-se novamente com uma resolução formal em vez de aplicar uma linha clara de manobra — ao recuar, atacar por vezes quando seja possível. Na guerra nunca é possível amarrarmo-nos a considerações formais. É ridículo não conhecer a história militar, não saber que um tratado é um meio para reunir forças: aludi já à história prussiana. Alguns pensam precisamente como crianças: assinar um tratado significa vender-se a Satanás, ir para o inferno. Isto é simplesmente ridículo, quando a história militar diz com perfeita clareza que a assinatura de um tratado em caso de derrota é um meio para reunir forças. Na história houve casos em que as guerras se sucederam umas às outras, nós esquecemos tudo isso, vemoa que a velha guerra se transforma em ... (5*) Se vos agrada amarrai-vos com considerações formais para sempre e entregai então os postos de responsabilidade aos socialistas-revolucionários de esquerda. Nós não tomaremos a responsabilidade disso. Aqui não há sombra de desejo de cisão. Estou convencido que a vida vos ensinará. Em 12 de Março — não está muito longe — obtereis abundante material(N276).
O camarada Trótski diz que isso será uma traição no pleno sentido da palavra. Eu afirmo que este ponto de vista é absolutamente errado. Para o mostrar concretamente, tomarei um exemplo: dois homens seguem juntos, são atacados por dez homens, um luta e o outro foge — isto é uma traição; mas se forem dois exércitos de cem mil homens cada um, e tiverem contra eles cinco exércitos; um exército é cercado por duzentos mil homens, o outro deve ir em sua ajuda, mas sabe que trezentos mil homens estão dispostos de maneira a armar uma cilada: pode prestar ajuda? Não, não é possível. Isto não é uma traição, não é cobardia: o simples aumento do número modificou todos os conceitos, cada militar o sabe — não se trata de um conceito pessoal: ao proceder assim, eu conservo o meu exército, que façam o outro prisioneiro, renovarei o meu exército, tenho aliados, esperarei, os aliados chegarão. Só assim se pode raciocinar; mas quando às considerações militares se misturam outras, nada mais há do que frases. Assim não se pode fazer política.
Fizemos tudo o que podia fazer-se. Com a assinatura do tratado conservámos Petrogrado, ainda que seja apenas por alguns quantos dias. (Que os secretários e estenógrafos não se lembrem de escrever isto.) No tratado ordenam-nos que retiremos as tropas da Finlândia, tropas evidentemente inservíveis, mas não nos proíbem de introduzir armas na Finlândia. Se Petrogrado tivesse caído há alguns dias, o pânico ter-se-ia apoderado de Petrogrado, e nada teríamos retirado, mas nestes cinco dias ajudámos os nossos camaradas finlandeses — não direi quanto, eles próprios o sabem.
A afirmação de que traímos a Finlândia é uma frase perfeitamente pueril. Ajudámos precisamente ao retirar a tempo diante dos alemães. A Rússia nunca perecerá se perder Petrogrado, aqui tem mil vezes razão o camarada Bukhárine, mas se manobrarmos à maneira de Bukhárine então pode-se deitar a perder uma boa revolução. (Risos.)
Não traímos nem a Finlândia nem a Ucrânia. Nenhum operário consciente nos acusará disso. Ajudamos com o que podemos. Não retirámos nem retiraremos das nossas tropas um único homem capaz. Se disserdes que Hoffmann nos apanhará e nos capturará - naturalmente ele pode, não duvido disso, mas dentro de quantos dias o fará, ele não sabe e ninguém sabe. Além disso, as vossas considerações de que nos apanhará e capturará são considerações sobre a correlação política das forças, de que falarei mais adiante.
Depois de explicar por que não posso de modo algum aceitar a proposta de Trótski - assim não se pode fazer política -, devo dizer que Rádek deu um exemplo de quanto os camaradas se afastaram no nosso congresso da frase, que de facto continua a existir em Urítski. Não posso de modo nenhum acusá-lo de fraseologia por esta intervenção. Ele disse: «Não existe nem sombra de traição nem de vergonha porque é evidente que recuastes perante uma força militar esmagadora.» É uma apreciação que destrói toda a posição de Trótski. Quando Rádek disse: «Tem de se preparar forças, cerrar os dentes», tinha razão, eu subscrevo isto inteiramente: não fanfarronadas, mas cerrar os dentes, preparar-se.
Cerrar os dentes, sem fanfarronadas, mas preparar forças. A guerra revolucionária chegará, nisso não existem divergências entre nós; as divergências referem-se à paz de Tilsit — assiná-la ou não? O pior de tudo é o exército doente, sim, e por isso no CC deve existir uma única linha firme, e não divergências ou uma linha intermédia que também o camarada Bukhárine apoiou. Não estou a pintar a trégua de cor-de-rosa; ninguém sabe quanto durará e também eu não sei. São ridículos os esforços que querem arrancar-me quanto durará a trégua. Graças à conservação das principais linhas ferroviárias ajudamos a Ucrânia e a Finlândia. Aproveitamos a trégua, manobrando, recuando.
Ao operário alemão já não se pode dizer que os russos são caprichosos, pois está agora claro que o imperialismo germano-nipónico avança, e isto ficará claro para todos e cada um; além do desejo de estrangular os bolcheviques, o alemão também tem o desejo de estrangular no Ocidente, tudo se embrulhou, e nesta nova guerra também se terá de manobrar e será necessário saber manobrar.
Referindo-me ao discurso do camarada Bukhárine, assinalo que, quando não lhe bastam os argumentos, lança algo de Urítski e diz: «O tratado desonra-nos.» Aqui não são precisos argumentos: se fomos desonrados deveríamos ter recolhido os papéis e começado a fugir, mas, apesar de estarmos «desonrados», não penso que as nossas posições tenham vacilado. O camarada Bukhárine tentou analisar a base de classe das nossas posições, mas em vez disso contou-nos uma anedota sobre um falecido economista moscovita. Quando se descobriu na sua táctica uma ligação com a especulação — meu Deus, isso é ridículo — esqueceu-se que a atitude da classe no seu conjunto, da classe e não dos especuladores, nos mostra que a burguesia russa e todos os seus lacaios - os delonarodistas e os novojiznistas - nos arrastam para essa guerra com todas as forças. E vós não sublinhais este facto de classe. Declarar agora a guerra à Alemanha significa cair na provocação da burguesia russa. Isto não é novo, pois representa o caminho mais seguro — eu não digo absolutamente seguro, não há nada absolutamente seguro - para nos derrubarem agora. Quando o camarada Bukhárine dizia: a vida é por nós, tudo acabará em que reconheceremos a guerra revolucionária, festejava uma vitória fácil, pois a inevitabilidade da guerra revolucionaria foi prognosticada por nós já em 1915. As nossas divergências consistiam em saber o que faria o alemão: se atacaria ou não; em que devíamos declarar terminado o estado de guerra; em que, no interesse da guerra revolucionária, devíamos recuar fisicamente, entregando território, para ganhar tempo. A estratégia e a política prescrevem o tratado de paz mais infame. As nossas divergências desaparecerão todas uma vez que tenhamos reconhecido esta táctica.
Publicado um resumo a 19(6) Março 1918 no jornal Rabotche-Krestiánski Nijegoródski Listok, n.° 54.
O congresso considera necessário ratificar o duríssimo e humilhantíssimo tratado de paz assinado pelo Poder Soviético com a Alemanha tendo em vista que não temos exército, tendo em vista o estado extremamente doentio das unidades desmoralizadas da frente, tendo em vista que é necessário aproveitar qualquer possibilidade de trégua, por pequena que seja, antes da ofensiva do imperialismo contra a república socialista soviética.
São historicamente inevitáveis no actual período da era que já começou da revolução socialista as repetidas ofensivas militares dos Estados imperialistas (tanto do Ocidente como do Oriente) contra a Rússia Soviética. A inevitabilidade histórica de tais ofensivas, dada a actual exacerbação extrema de todas as relações intra-estatais, de classe, e igualmente internacionais, pode a qualquer momento, mesmo no mais imediato, mesmo dentro de alguns dias, conduzir a novas guerras ofensivas imperialistas contra o movimento socialista em geral, contra a República Socialista Soviética da Rússia, em particular.
Por isso, o congresso declara que considera como tarefa primordial e fundamental tanto do nosso partido, como de toda a vanguarda do proletariado consciente, como do Poder Soviético adoptar as medidas mais enérgicas, implacavelmente resolutas e draconianas para elevar a autodisciplina e a disciplina dos operários e camponeses da Rússia, para esclarecer a inevitabilidade da aproximação histórica da Rússia duma guerra libertadora, patriótica, socialista, para criar por toda a parte organizações de massas rigorosamente ligadas e cimentadas por uma férrea unidade de vontade, organizações capazes de uma acção coesa e abnegada tanto na vida quotidiana como, em particular, nos momentos críticos da vida do povo e, finalmente, para instruir de forma multilateral, sistemática e geral toda a população adulta, sem distinção de sexo, na arte militar e nas operações militares.
O congresso vê a garantia mais segura da consolidação da revolução socialista vitoriosa na Rússia apenas na sua transformação em revolução operária internacional.
O congresso está convencido de que, do ponto de vista dos interesses da revolução internacional, o passo dado pelo Poder Soviético, tendo em conta a actual correlação de forças na arena mundial, era inevitável e necessário.
Na convicção de que a revolução operária amadurece constantemente em todos os países beligerantes, preparando a derrota inevitável e total de imperialismo, o congresso declara que o proletariado socialista da Rússia apoiará com todas as suas forças e por todos os meios ao seu alcance e movimento revolucionário irmão do proletariado de todos os países.
Peço a palavra para uma adenda à resolução:
O congresso considera necessário não publicar a resolução aprovada e obriga todos os membros do partido a manter esta resolução em segredo(N277). Na imprensa comunicar-se-á unicamente - e não hoje, mas por indicação do CC — que o congresso é pela ratificação.
Além disso, o congresso sublinha especialmente que se concedem plenos poderes ao CC para romper em qualquer momento todos os tratados de paz com os Estados imperialistas e burgueses, bem como para lhes declarar a guerra.
Camaradas, como sabeis, desde Abril de 1917 desenvolveu-se no partido uma discussão bastante circunstanciada sobre a questão da mudança de nome do partido, e por isso no Comité Central se conseguiu chegar imediatamente a uma decisão que não suscita, segundo parece, grandes discussões e, talvez, quase nenhuma, a saber: o Comité Central propõe-vos que se mude o nome do nosso partido, chamando-o Partido Comunista da Rússia e, entre parêntesis, bolchevique. Todos nós consideramos necessário este acrescento, porque a palavra «bolchevique» adquiriu direito de cidadania não só na vida política da Rússia mas também em toda a imprensa estrangeira, que segue em traços gerais o desenvolvimento dos acontecimentos na Rússia. Na nossa imprensa explicou-se já também que o nome «partido social-democrata» é cientificamente incorrecto. Quando os operários criaram o seu próprio Estado, fizeram com que o velho conceito de democratismo — o democratismo burguês - se encontrasse superado no processo de desenvolvimento da nossa revolução. Chegámos a um tipo de democracia que não existiu na Europa Ocidental em parte alguma. Teve o seu protótipo unicamente na Comuna de Paris, e acerca da Comuna de Paris Engels disse que a Comuna não era um Estado no sentido próprio da palavra(N279). Numa palavra, na medida em que as próprias massas trabalhadoras tomam nas suas mãos a administração do Estado e a criação da força armada que apoia a ordem estatal dada, nessa medida desaparece o aparelho especial de administração, desaparece o aparelho especial de uma determinada violência estatal e, por conseguinte, não podemos ser pela democracia na sua velha forma.
Por outro lado, ao começarmos as transformações socialistas, devemos colocar claramente a nós próprios o objectivo que visam, no fim de contas, estas transformações, a saber: o objectivo da construção da sociedade comunista, que não se limita à expropriação das fábricas, da terra e dos meios de produção, que não se limita a um registo e a um controlo rigorosos da produção e da distribuição dos produtos, mas que vai mais longe no sentido da realização do princípio: de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades. Eis porque o nome de partido comunista é o único cientificamente correcto. No Comité Central foi imediatamente rejeitada a objecção de que ele pode dar motivo a que nos confundam com os anarquistas, pois os anarquistas nunca se chamam a si próprios simplesmente comunistas, mas com determinados acrescentos. Neste sentido, existem muitas variedades de socialismo, contudo, elas não conduzem a que se confunda os sociais-democratas com os sociais-reformistas e com os socialistas-nacionais e outros partidos semelhantes.
Por outro lado, um argumento importantíssimo a favor da mudança do nome do partido é que, até agora, os velhos partidos socialistas oficiais de todos os países avançados da Europa não se afastaram da embriaguez do social-chauvinismo e do social-patriotismo, que conduziu durante a presente guerra à completa bancarrota do socialismo europeu oficial, de tal modo que até agora quase todos os partidos socialistas oficiais foram um verdadeiro travão para o movimento socialista operário revolucionário, um verdadeiro obstáculo para ele. E o nosso partido, que no actual momento goza, sem dúvida alguma, de simpatias extraordinariamente grandes entre as massas trabalhadoras de todos os países, o nosso partido tem o dever de fazer uma declaração o mais decidida, nítida, clara e inequívoca possível sobre o facto de que rompe as suas relações com este velho socialismo oficial, e para isto a mudança do nome do partido será o meio mais adequado para atingir o objectivo.
Em seguida, camaradas, uma questão muito mais difícil foi a questão da parte teórica do programa, da sua parte prática e política. No que se refere à parte teórica do programa, dispomos de alguns materiais, a saber: foram publicadas compilações, uma em Moscovo e outra em Petersburgo, sobre a revisão do programa do partido(N280); nos dois órgãos teóricos principais do nosso partido, a Prosvecktchénie, que se publica em Petersburgo, e a Spartak(N281), que se publica em Moscovo, foram publicados artigos que fundamentam uma ou outra orientação para a modificação da parte teórica do programa do nosso partido. A este respeito existe determinado material. Manifestaram-se dois pontos de vista principais, que, em minha opinião, não divergem, pelo menos radicalmente, quanto aos princípios; um ponto de vista, que eu defendi, consiste em que não há razões para excluir a velha parte teórica do nosso programa e que isso seria mesmo incorrecto. É preciso apenas completá-la com uma caracterização do imperialismo como grau supremo do desenvolvimento do capitalismo e, além disso, com uma caracterização da era da revolução socialista, partindo de que esta era da revolução socialista começou. Quaisquer que sejam os destinos da nossa revolução, do nosso destacamento do exército proletário internacional, quaisquer que sejam as ulteriores peripécias da revolução, em todo o caso a situação objectiva dos países imperialistas, que se envolveram nesta guerra e levaram os países mais avançados à fome, à ruína e ao asselvajamento, é uma situação objectivamente sem saída. E aqui é preciso dizer o que dizia Friedrich Engels há trinta anos, em 1887, ao avaliar a provável perspectiva de uma guerra europeia. Ele dizia que as coroas rolariam às dúzias na Europa e que ninguém as quereria apanhar, falava da incrível ruína a que estavam destinados os países europeus e dizia que o resultado final dos horrores de uma guerra europeia só podia ser um — ele exprimiu-se assim: «ou a vitória da classe operária, ou a criação de condições que tornam esta vitória possível e necessária.»(N282) A este respeito Engels exprimia-se com extraordinária precisão e prudência. Diferentemente daqueles que deturpam o marxismo, daqueles que oferecem as suas tardias filosofices acerca da impossibilidade do socialismo na base da ruína, Engels compreendia magnificamente que toda a guerra, mesmo em qualquer sociedade avançada, cria não só a ruína, o asselvajamento, sofrimentos e calamidades para as massas, as quais se afogarão em sangue, que não se pode garantir que isto conduza à vitória do socialismo; dizia que isso será «ou a vitória da classe operária, ou a criação de condições que tornam esta vitória possível e necessária», isto é, consequentemente, aqui é possível ainda uma série de duros graus de transição, com uma imensa destruição da cultura e dos meios de produção, mas o resultado só pode ser o ascenso da vanguarda das massas trabalhadoras, da classe operária, e a passagem a uma situação em que ela tome nas suas mãos o poder para criar a sociedade socialista. Pois por muito grandes que sejam as destruições da cultura, é impossível riscá-la da vida histórica, será difícil restaurá-la, mas nenhuma destruição conduzirá nunca a que esta cultura desapareça por completo. Numa ou outra das suas partes, nuns ou noutros dos seus restos materiais esta cultura é indestrutível, as dificuldades consistirão unicamente na sua restauração. Assim, eis um dos pontos de vista, o de que devemos conservar o velho programa, acrescentando-lhe uma caracterização do imperialismo e do começo da revolução social.
Exprimi este ponto de vista no projecto de programa publicado por mim(6*). O outro projecto foi publicado pelo camarada Sokólnikov na compilação moscovita. O outro ponto de vista foi expresso nas nossas conversações, especialmente pelo camarada Bukhárine, e na imprensa pelo camarada V. Smirnov na compilação moscovita. Este ponto de vista consistia em que era necessário ou riscar completamente ou quase eliminar a velha parte teórica do programa e substituí-la por uma nova, que caracterize não a história do desenvolvimento da produção mercantil e do capitalismo, como fazia o nosso programa, mas o estádio actual do desenvolvimento supremo do capitalismo — o imperialismo — e a transição imediata para a era da revolução social. Não penso que estes dois pontos de vista divirjam radicalmente e quanto aos princípios, mas eu defenderei o meu ponto de vista. Parece-me que é teoricamente errado riscar o velho programa, que caracteriza o desenvolvimento desde a produção mercantil até ao capitalismo. Nele nada há de falso. Assim se desenvolveram as coisas e assim se desenvolvem, pois a produção mercantil engendrou o capitalismo e este conduziu ao imperialismo. Esta é a perspectiva geral histórico-universal, e não devem esquecer-se as bases do socialismo. Quaisquer que sejam as ulteriores peripécias da luta, por muitos que sejam os ziguezagues parciais que tenhamos de superar (e serão muitíssimos — vemos na experiência as gigantescas viragens que faz a história da revolução, por agora só no nosso país; mas quando a revolução se transformar em europeia, as coisas serão mais complicadas e mais rápidas, o ritmo de desenvolvimento será mais vertiginoso e as viragens serão mais complexas), para não se extraviar nesses ziguezagues e viragens da história e conservar a perspectiva geral, para ver o fio condutor que liga todo o desenvolvimento do capitalismo e todo o caminho para o socialismo e que a nós, naturalmente, se apresenta recto, e devemos apresentá-lo como recto, para ver o começo, a continuação e o fim — na vida ele nunca será recto, será incrivelmente complicado —, para não nos extraviarmos nessas viragens, para nos períodos de passos atrás, de recuos, de derrotas temporárias ou quando a história ou o adversário nos obrigarem a retroceder não nos extraviarmos, é importante, em minha opinião, e a única coisa acertada do ponto de vista teórico, não excluir o nosso velho programa fundamental. Pois entre nós, na Rússia, encontramo-nos agora apenas no primeiro grau de transição do capitalismo para o socialismo. A história não nos deu a situação de paz que imaginávamos teoricamente para certo tempo e que é desejável para nós, que teria permitido percorrer com rapidez estes graus de transição. Vemos imediatamente como a guerra civil criou muitas dificuldades na Rússia e como esta guerra civil se entrelaça com toda uma série de guerras. Os marxistas nunca se esqueceram de que a violência acompanhará inevitavelmente a bancarrota do capitalismo em toda a sua amplitude e o nascimento da sociedade socialista. E esta violência constituirá um período histórico-universal, toda uma era de guerras com o carácter mais diverso — guerras imperialistas, guerras civis dentro dos países, entrelaçamento de umas e outras, guerras nacionais, de libertação das nacionalidades esmagadas pelos imperialistas e por diferentes combinações das potências imperialistas que participam inelutavelmente nestas ou naquelas alianças na época dos enormes trusts e consórcios capitalistas de Estado e militares. Esta época — época de gigantescas bancarrotas, de violentas soluções bélicas em massa, de crises — começou, vemo-la com clareza, é apenas o começo. Por isso não temos fundamento para excluir tudo o que se refere à caracterização da produção mercantil em geral, do capitalismo em geral. Demos apenas os primeiros passos para demolir o capitalismo por completo e iniciar a transição para o socialismo. Não sabemos nem podemos saber quantas etapas de transição para o socialismo haverá ainda. Isso depende de quando começará com verdadeira amplitude a revolução socialista europeia, da facilidade, rapidez ou lentidão com que se livre dos seus inimigos e entre no caminho aberto do desenvolvimento socialista. Não sabemos isso, mas o programa de um partido marxista deve partir de factos estabelecidos com absoluta precisão. Apenas nisto reside a força do nosso programa, que se viu confirmado através de todas as peripécias da revolução. Só nessa base podem construir os marxistas o seu programa. Devemos partir de factos estabelecidos com absoluta precisão, que consistem em que o desenvolvimento da troca e da produção mercantil em todo o mundo se tornou o fenómeno histórico predominante, conduziu ao capitalismo e o capitalismo transformou-se em imperialismo — este é um facto absolutamente indiscutível, é preciso incluí-lo em primeiro lugar no programa. Também é um facto evidente para nós, e dele devemos falar com clareza, que este imperialismo começa a era da revolução social. Constatando este facto no nosso programa, erguemos à vista de todo o mundo o facho da revolução social não só no sentido do discurso de agitação, erguemos como um novo programa, dizendo a todos os povos da Europa Ocidental: «Eis o que tiramos, juntamente convosco, da experiência do desenvolvimento capitalista. Eis o que era o capitalismo, eis como ele chegou ao imperialismo, e eis a era da revolução social, que começa e na qual nos coube a nós no tempo o primeiro papel.» Apareceremos perante todos os países civilizados com este manifesto, que não será apenas um caloroso apelo, que estará fundamentado com absoluta precisão, que se deduzirá de factos reconhecidos por todos os partidos socialistas. Tanto mais clara será a contradição entre a táctica destes partidos, que traíram agora o socialismo, e as premissas teóricas compartilhadas por todos nós, que se converteram na carne e no sangue de cada operário consciente: o desenvolvimento do capitalismo e a sua passagem ao imperialismo. Em vésperas das guerras imperialistas, os congressos em Chemnitz e em Basileia fizeram nas resoluções uma caracterização do imperialismo, e há uma contradição flagrante entre ela e a táctica actual dos sociais-traidores(N283). Devemos, por isso, repetir o que é fundamental para mostrar com maior clareza às massas trabalhadoras da Europa Ocidental aquilo de que se acusa os seus dirigentes.
Eis o fundamental, pelo qual eu considero tal estrutura do programa como a única teoricamente correcta. Do carácter histórico daquilo que acontece não decorre que devamos excluir como trastes velhos a caracterização da produção mercantil e do capitalismo, pois não fomos mais além dos primeiros graus da transição do capitalismo para o socialismo, e a nossa transição complica-se na Rússia com particularidades que não existem na maioria dos países civilizados. Por conseguinte, é não só possível mas inevitável que estes estádios de transição sejam diferentes na Europa; e por isso será teoricamente errado fixar toda a atenção nesses graus de transição especificamente nacionais, que para nós são necessários mas que na Europa podem não ser necessários. Devemos começar pela base geral do desenvolvimento da produção mercantil, da passagem ao capitalismo e da transformação do capitalismo em imperialismo. Com isso ocuparemos e reforçaremos teoricamente uma posição da qual não poderá desalojar-nos ninguém que não tenha traído o socialismo. Disto decorre uma conclusão igualmente inevitável: a era da revolução social começa.
Fazemos isto permanecendo no terreno dos factos estabelecidos incontestavelmente.
A seguir a nossa tarefa consiste numa caracterização do tipo soviético de Estado. No que se refere a esta questão, tentei expor concepções teóricas no livro O Estado e a Revolução(7*). Parece-me que a concepção marxista do Estado foi deturpada ao mais alto grau pelo socialismo oficial dominante na Europa Ocidental, o que foi confirmado com notável evidência pela experiência da revolução soviética e da criação dos Sovietes na Rússia. Nos nossos Sovietes existe ainda uma massa de coisas grosseiras e inacabadas, isto não levanta dúvidas, isto é claro para todos os que analisem o seu trabalho, mas neles o que é importante, o que tem valor histórico, o que representa um passo em frente no desenvolvimento mundial do socialismo é que aqui foi criado um novo tipo de Estado. Na Comuna de Paris isto aconteceu durante algumas semanas, numa única cidade, sem consciência do que se fazia. Não compreenderam a Comuna os que a criaram, criaram-na com a genial intuição das massas despertas, e nem uma só fracção dos socialistas franceses tinha consciência do que fazia. Nós encontramo-nos numas condições em que, graças ao facto de nos apoiarmos nos ombros da Comuna de Paris e nos longos anos de desenvolvimento da social-democracia alemã, podemos ver com clareza o que fazemos ao criar o Poder Soviético. Apesar de tudo o que existe de grosseiro e não disciplinado nos Sovietes, o que é uma sobrevivência do carácter pequeno-burguês do nosso país, apesar de tudo isto, as massas populares criaram um novo tipo de Estado. Ele existe não há semanas, mas há meses, não numa cidade, mas num país imenso, em várias nações. Este tipo de Poder Soviético já deu provas, ao estender-se a um país tão diferente em todos os aspectos como a Finlândia, onde não existem os Sovietes, mas onde o tipo de poder é também novo, proletário(N284). Isto é uma demonstração do que é teoricamente indiscutível, de que o Poder Soviético é um novo tipo de Estado sem burocracia, sem polícia, sem exército permanente, em que o democratismo burguês é substituído por uma nova democracia - uma democracia que avança para primeiro plano a vanguarda das massas trabalhadoras, fazendo delas tanto o legislador como o executor e o protector militar, e cria o aparelho que pode reeducar as massas.
Na Rússia apenas se iniciou essa obra, e iniciou-se mal. Se temos a consciência do que é mau no que iniciámos, superá-lo-emos, se a história nos der possibilidade de trabalhar este Poder Soviético durante um período mais ou menos considerável. Parece-me, por isso, que a caracterização do novo tipo de Estado deve ocupar um destacado lugar no nosso programa. Infelizmente, tivemos de trabalhar agora o programa simultaneamente com o trabalho de governo, com uma pressa tão incrível que não pudemos sequer reunir a nossa comissão, elaborar um projecto oficial de programa. Ao que se distribuiu aos camaradas delegados chamamos apenas um rascunho(33), e todos o verão claramente. Nele se dedicou um espaço bastante grande à questão do Poder Soviético, e parece-me que aqui deve manifestar-se a importância internacional do nosso programa. Parece-me que seria extremamente errado se limitássemos a importância internacional da nossa revolução a exortações, palavras de ordem, manifestações, apelos, etc. Isto é pouco. Devemos mostrar de uma maneira concreta aos operários europeus o que empreendemos, como empreendemos e como devem compreendê-lo, pois isto os levará de modo concreto à questão de como se pode alcançar o socialismo. Aqui eles devem ver: os russos empreendem uma boa obra, e se a empreendem mal, nós a faremos melhor. Para isto é preciso dar-lhes a maior quantidade possível de material concreto e dizer o que tentámos criar de novo. No Poder Soviético temos um novo tipo de Estado; esforçamo-nos por traçar as suas tarefas, a sua estrutura, esforçamo-nos por explicar por que razão é um novo tipo de democracia, no qual há tanto de caótico e de absurdo, qual é a sua alma viva — a passagem do poder para os trabalhadores, a abolição da exploração, do aparelho de repressão. O Estado é um aparelho de repressão. É preciso reprimir os exploradores, mas não se pode reprimi-los com a polícia, só pode reprimi-los a própria massa, o aparelho deve estar ligado às massas, deve representá-las como os Sovietes. Eles estão muito mais perto das massas, eles dão a possibilidade de estar mais perto delas, dão maiores possibilidades de educar esta massa. Sabemos perfeitamente que o camponês russo aspira a aprender, mas queremos que ele aprenda não dos livros, mas da sua própria experiência. O Poder Soviético é um aparelho, um aparelho destinado a que a massa comece imediatamente a aprender a administrar o Estado e a organizar a produção à escala de todo o país. Esta tarefa é de uma dificuldade gigantesca. Mas o que é historicamente importante é empreendermos o seu cumprimento, e cumprimento não só do ponto de vista apenas do nosso país, mas também apelando para o auxílio dos operários europeus. Devemos dar uma explicação concreta do nosso programa precisamente deste ponto de vista geral. Eis porque consideramos que ele é a continuação do caminho da Comuna de Paris. Eis porque estamos convencidos de que, empreendendo este caminho, os operários europeus poderão ajudar-nos. Farão melhor aquilo que nós fazemos, e além disso o centro de gravidade do ponto de vista formal transferir-se-á para as condições concretas. Se no passado era especialmente importante uma reivindicação como a garantia do direito de reunião, o nosso ponto de vista sobre o direito de reunião consiste em que ninguém pode agora impedir as reuniões, e o Poder Soviético deve assegurar apenas salas para reuniões. Para a burguesia, o importante são proclamações gerais de princípios altissonantes: «Todos os cidadãos têm o direito de se reunirem, mas de se reunirem ao ar livre — não vos daremos locais.» Mas nós dizemos: «Menos frases e mais substância.» É preciso tomarmos os palácios — e não só o de Táurida, mas também muitos outros —, mas nada dizemos do direito de reunião. E é preciso estender isto a todos os os outros pontos do programa democrático. Devemos ser nós próprios a julgar. Os cidadãos devem participar sem excepções na justiça e na administração do país. E para nós é importante chamar à administração do Estado todos os trabalhadores sem excepção. Esta tarefa é de uma dificuldade gigantesca. Mas o socialismo não pode ser implantado por uma minoria - o partido. Poderão implantá-lo dezenas de milhões de pessoas quando aprenderem a fazê-lo elas próprias. O nosso mérito vemo-lo em que nos esforçamos por ajudar a massa a empreender isto ela própria imediatamente, em vez de o aprender através de livros, de conferências. Eis porque, se expusermos estas nossas tarefas de uma maneira concreta e clara, incitamos todas as massas europeias a discutir esta questão e a colocá-la de modo prático. Talvez façamos mal o que é necessário fazer, mas incitamos as massas àquilo que elas devem fazer. Se o que a nossa revolução faz não é uma casualidade - e disto estamos profundamente convictos -, não é produto de uma decisão do nosso partido, mas produto inevitável de toda a revolução que Marx chamava popular, isto é, uma revolução criada pelas próprias massas populares com as suas próprias palavras de ordem, as suas próprias aspirações, e não com a repetição do programa da velha república burguesa — se colocarmos assim a questão, atingiremos o mais essencial. E chegamos aqui à questão de se convém anular as diferenças entre os programas máximo e mínimo. Sim e não. Eu não temo esta anulação porque o ponto de vista que existia ainda no Verão agora não deve ter lugar. Eu dizia «é cedo», quando ainda não tínhamos tomado o poder; agora, quando tomámos este poder e o experimentámos, não é cedo(8*). Devemos agora, em vez do velho programa, escrever um novo programa do Poder Soviético, sem renunciar de modo nenhum ao aproveitamento do parlamentarismo burguês. Pensar que não nos podem obrigar a retroceder é uma utopia.
Do ponto de vista histórico é impossível negar que a Rússia criou a República Soviética. Dizemos que em caso de qualquer retrocesso, sem renunciar ao aproveitamento do parlamentarismo burguês — se as forças de classe inimigas nos fizerem regressar a essa velha posição —, avançaremos para o conquistado pela experiência, para o Poder Soviético, para o tipo soviético de Estado, para um Estado do tipo da Comuna de Paris. É preciso exprimir isto no programa. Em vez de programa mínimo introduziremos o programa do Poder Soviético. A caracterização do novo tipo de Estado deve ocupar um destacado lugar no nosso programa.
E claro que não podemos elaborar agora um programa. Devemos elaborar os seus postulados fundamentais e entregá-los a uma comissão ou ao Comité Central para que elaborem as teses fundamentais. Mesmo mais facilmente: a elaboração é possível na base da resolução sobre a conferência de Brest-Litovsk, que já continha teses(9*). Na base da experiência da revolução russa deve fazer-se uma tal caracterização do Poder Soviético e depois a proposta de transformações práticas. Aqui, parece-me, na parte histórica é preciso indicar que começou a expropriação da terra e da indústria. Colocaremos aqui a tarefa concreta da organização do consumo, da universalização dos bancos, da sua transformação numa rede de instituições estatais que abranjam todo o país e nos dêem a contabilidade social, o registo e o controlo efectuados pela própria população, que estão na base dos ulteriores passos do socialismo. Penso que esta parte, a mais difícil, deve ser formulada sob a forma de exigências concretas do nosso Poder Soviético - que queremos fazer agora mesmo, que reformas tencionamos efectuar no campo da política bancária, na organização da produção, na organização da troca, do registo e do controlo, na introdução do trabalho obrigatório, etc. Quando conseguirmos, acrescentaremos que passos, passinhos e meios passinhos demos a este respeito. Aqui deve ser determinado de modo perfeitamente preciso e claro aquilo que começámos, aquilo que não acabámos. Todos sabemos perfeitamente que não está acabada uma parte imensa do que começámos. No programa devemos, sem qualquer exagero, de um modo perfeitamente objectivo, sem nos afastarmos dos factos, falar do que existe e do que nos propomos fazer. Mostraremos esta verdade ao proletariado europeu e diremos: «É preciso fazer isto», para que ele diga: «Os russos fazem mal isto ou aquilo, mas nós faremos melhor.» E quando esta aspiração arrastar as massas a revolução socialista será invencível. Realiza-se à vista de todos uma guerra imperialista, de rapina até à medula. Quando à vista de todos a guerra imperialista se puser a nu, se transformar numa guerra de todos os imperialistas contra o Poder Soviético, contra o socialismo, isso dará um novo impulso ao proletariado do Ocidente. É preciso pôr isso a nu, descrever a guerra como uma união dos imperialistas contra o movimento socialista. Tais são as considerações gerais que considero necessário compartilhar convosco e na base das quais faço a proposta prática de efectuar agora uma troca dos pontos de vista fundamentais sobre esta questão e depois elaborar, talvez, algumas teses fundamentais aqui mesmo, e agora, se se considerar que isso é agora difícil, renunciamos a isto e entregamos a questão do programa ao Comité Central ou a uma comissão especial encarregada de, na base dos materiais de que se dispõe e na base dos relatórios taquigráficos ou relatórios pormenorizados dos secretários do congresso, redigir o programa do partido, que deve mudar o seu nome agora mesmo. Parece-me que podemos realizar isto no momento actual, e penso que todos estareis de acordo em que, dada a insuficiente preparação do nosso programa no aspecto de redacção, em que os acontecimentos nos surpreenderam, não é agora possível fazer outra coisa. Estou convencido de que o poderemos fazer em algumas semanas. Em todas as correntes do nosso partido temos forças teóricas suficientes para preparar um programa em algumas semanas. Nele, naturalmente, pode haver muito de errado, sem falar já das imprecisões de redacção e de estilo, porque não dispomos de meses para efectuar esse trabalho com a tranquilidade necessária para um trabalho de redacção.
Todos estes erros os corrigiremos no processo do nosso trabalho, na plena convicção de que daremos ao Poder Soviético a possibilidade de realizar este programa. Se, pelo menos, formularmos com precisão, sem nos afastarmos da realidade, que o Poder Soviético é um novo tipo de Estado, uma forma de ditadura do proletariado, que colocámos outras tarefas à democracia, que traduzimos as tarefas do socialismo da fórmula abstracta geral «expropriação dos expropriadores» para fórmulas concretas como a nacionalização dos bancos e da terra — isto será a parte essencial do programa.
A questão agrária deverá ser transformada no sentido de que vemos aqui os primeiros passos demonstrativos de que o pequeno campesinato, que quer estar ao lado do proletariado, que quer ajudá-lo na revolução socialista, com todos os seus preconceitos, com todas as suas velhas maneiras de ver, colocou a si próprio a tarefa prática da passagem ao socialismo. Não impomos isto aos outros países, mas isto é um facto. O campesinato mostrou, não com palavras, mas com factos, que quer ajudar e ajuda o proletariado, que conquistou o poder, a realizar o socialismo. Em vão nos imputam que queremos implantar o socialismo pela violência. Repartiremos a terra de modo justo do ponto de vista, primordialmente, da pequena propriedade. Ao mesmo tempo, damos preferência às comunas e aos grandes artéis de trabalho. Apoiamos a monopolização do comércio dos cereais. Apoiamos - assim disse o campesinato — a expropriação dos bancos e das fábricas. Estamos dispostos a ajudar os operários na realização do socialismo. Penso que deve publicar-se em todas as línguas a lei fundamental da socialização da terra. Esta publicação efectuar-se-á se não se efectuou já(N285). No programa exporemos concretamente esta ideia - é preciso exprimi-la teoricamente, sem nos afastarmos nem um passo dos factos concretamente constatados. No Ocidente isto far-se-á de outra maneira. Talvez cometamos erros, mas temos a esperança de que o proletariado do Ocidente os corrigirá. E dirigimo-nos ao proletariado europeu pedindo-lhe que nos ajude no nosso trabalho.
Deste modo, podemos elaborar o nosso programa em algumas semanas, e os erros que cometamos a vida os corrigirá, os corrigiremos nós próprios. Serão leves como uma pena em comparação com os resultados positivos que serão alcançados.
Publicado um breve resumo a 20 (7) de Março de 1918 no jornal Rabótche-Krestiánski Nijegoródski Listok, n.° 55.
O congresso decide denominar daqui em diante o nosso partido (Partido Operário Social-Democrata da Rússia bolchevique) Partido Comunista da Rússia, acrescentando entre parêntesis «bolchevique».
O congresso decide modificar o programa do nosso partido, reelaborando a parte teórica ou completando-a com uma caracterização do imperialismo e da era, já iniciada, da revolução socialista internacional.
Além disso, a modificação da parte política do nosso programa deve consistir na caracterização mais precisa e circunstanciada possível do novo tipo de Estado, da República Soviética, como uma forma de ditadura do proletariado e como continuação das conquistas da revolução operária internacional que a Comuna de Paris iniciou. O programa deve indicar que o nosso partido não renunciará a utilizar também o parlamentarismo burguês se o curso da luta nos fizer retroceder durante certo tempo para esta etapa histórica, superada agora pela nossa revolução. Mas, em todo o caso e quaisquer que sejam as circunstâncias, o partido lutará pela República Soviética como tipo de Estado superior quanto ao democratismo e como forma de ditadura do proletariado, de derrubamento do jugo dos exploradores e de esmagamento da sua resistência.
Dentro do mesmo espírito e orientação deve ser reelaborada a parte económica, incluindo a agrária, bem como a parte pedagógica e outras, do nosso programa. O centro de gravidade deve consistir numa caracterização precisa das transformações económicas e outras iniciadas pelo nosso Poder Soviético, com uma exposição concreta das tarefas imediatas concretas que o Poder Soviético se coloca e decorrentes dos passos práticos já dados por nós de expropriação dos expropriadores.
O congresso encarrega uma comissão especial de redigir, com a urgência possível, na base das indicações expostas, o programa do nosso partido e de o ratificar como programa do nosso partido.
Escrito a 8 de Março de 1918.
Publicado a 9 de Março de 1918 no jornal Pravda, n.° 45.
O congresso considera que a recusa a entrar para o CC na situação actual do partido é especialmente indesejável, pois, sendo em geral inadmissível por princípio para os que desejam a unidade do partido, tal recusa ameaçaria agora duplamente a unidade do partido.
O congresso declara que não é com a saída do CC mas com a correspondente declaração que cada um pode e deve declinar a responsabilidade pelos passos do Comité Central que não compartilhe.
Por isso o congresso, com a firme esperança de que os camaradas renunciarão à sua declaração depois de consultar as organizações de massas, realiza as eleições sem ter em conta esta declaração.
Escrito a 8 de Março de 1918.
Notas de rodapé:
(N259) O VII Congresso Extraordinário do PCR (b) foi o primeiro Congresso do Partido realizado depois da Grande Revolução Socialista de Outubro. Realizou-se de 6 a 8 de Março de 1918 em Petrogrado na Palácio de Táurida. Foi convocado para resolver em definitivo a questão da conclusão do tratado de paz com a Alemanha, questão em torno da qual se travava uma aguda luta dentro no Partido. No Congresso participaram 47 delegados com voto deliberativo e 59 com voto consultivo; representavam mais de 170 000 membros do Partido, em cujo número se contam as maiores organizações do partido: de Moscovo, de Petrogrado, dos Urais, do Volga. No momento do Congresso o Partido tinha cerca de 300 000 membros. Mas uma parte significativa não conseguiu enviar delegados devido à urgência com que foi convocado o Congresso ou devido à ocupação provisória pelos alemães de uma série de regiões do país dos Sovietes. O Congresso aprovou a seguinte ordem de trabalhos: relatório do CC; a questão da guerra e da paz; revisão do programa e alteração do nome do Partido; questões de organização; eleição do CC. Lénine dirigiu todos os trabalhos do Congresso. Apresentou o relatório político do CC e o relatório sobre a revisão do programa e a alteração do nome do Partido; participou na discussão de todas as questões, tendo feito 18 intervenções. Depois do relatório político do CC, o chefe dos "comunistas de esquerda", Bukhárine, fez um co-relatório, no qual propôs a reivindicação aventureira da guerra contra a Alemanha. Em torno dos relatórios travou-se uma aguda discussão na qual intervieram 18 delegados. Influenciados pelos argumentos convincentes de Lénine, uma parte dos "comunistas de esquerda" reviu as suas posições. Tendo aprovado por unanimidade o relatório do CC, o Congresso passou à discussão da resolução sobre a questão da guerra e da paz. Tendo rejeitado as "Teses sobre o Momento Actual", apresentadas pelos comunistas de esquerda", o Congresso, em votação nominal, aprovou a resolução de Lénine sobre a paz de Brest por 30 votos contra 12 e 4 abstenções. Depois o Congresso analisou a questão da Revisão do programa e da alteração do nome do Partido. Lénine fez um relatório sobre estas questões na base de um Borrão de Projecto de Programa por ele escrito e distribuído aos delegados antes de começar o Congresso. Mostrando que o nome do Partido deve exprimir os seus fins, Lénine propôs que se mudasse o nome do Partido para Partido Comunista da Rússia (bolchevique) e se alterasse o seu programa. Tendo votado unanimemente a favor da resolução de Lénine, o Congresso aprovou o nome do Partido proposto por Lénine. Para a elaboração final do novo programa o Congresso elegeu uma Comissão de sete membros chefiada por Lénine. Em votação secreta o Congresso elegeu um Comité Central de 15 membros efectivos e 8 suplentes. Os "comunistas de esquerda" Bukhárine, Lómov (oppókov) e Urítski declararam ao Congresso que se recusavam a trabalhar neste organismo, recusa que mantiveram durante vários meses apesar das repetidas insistências do CC. O VII Congresso do Partido teve um enorme significado histórico. Confirmou a justeza da linha leninista para conseguir uma trégua, derrotou os desorganizadores do Partido - "comunistas de esquerda" e trotskistas - e voltou o Partido Comunista e a classe operária para o cumprimento das tarefas fundamentais da construção do socialismo. As decisões do Congresso foram amplamente discutidas nas organizações de base do Partido e, apesar da acção dos "comunistas de esquerda", obtiveram a aprovação geral. O IV Congresso Extraordinário dos Sovietes de Toda a Rússia, que se realizou pouco depois, ratificou o Tratado de Paz de Brest. (retornar ao texto)
(N260) Trata-se da atitude capitulacionista de LB Kámenev, de GE Zinóviev, de AI Ríkov e de alguns outros membros do CC do Partido e do governo soviético que, após a vitória da Revolução Socialista de Outubro, apoiaram a exigência dos mencheviques e dos socialistas-revolucionários sobre a criação de um "governo socialista homogéneo". (retornar ao texto)
(1*) Ver Tomo II, Obras Escolhidas de VI Lénine em Três Tomos, pp. 72, 77. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(N261) Este argumento contra a aceitação das condições de paz ditadas pela Alemanha foi apresentado pelos "comunistas de esquerda" na Assembleia dos membros do CC com funcionários do Partido em 8 (21) de Janeiro de 1918. VV Obolénski (N. Ossínski) afirmou que o "soldado alemão não atacará", e EA Preobrajénski tentou demonstrar que o exército alemão "tecnicamente não pode atacar: é Inverno, não há estradas..." Lénine revelou o carácter errado e nocivo de tais afirmações no artigo "Sobre a frase revolucionária". (retornar ao texto)
(N262) Lénine refere-se à declaração que Trótski fez em 28 de Janeiro (10 de Fevereiro) de 1918 durante as negociações de paz realizadas com o comando das tropas alemãs na cidade de Brest-Litovsk. (retornar ao texto)
(N263) Trata-se da publicação pelo governo soviético de documentos diplomáticos e dos acordos secretos concluídos pelo governo tsarista e depois pelo governo provisório burguês da Rússia com os governos da Inglaterra, da França, da Itália, do Japão, da Áustria-Hungria e de outros Estados imperialistas. Em 23 de Novembro esses documentos e acordo começaram a ser publicados nos jornais e depois foram editados em livro com o título de Colectânea de Documentos Secretos Procedentes do Arquivo do Ex-Ministério dos Negócios Estrangeiros. De Dezembro de 1917 a Fevereiro de 1918 foram editadas sete colectâneas. (retornar ao texto)
(N264) Lénine refere-se ao juramento de fidelidade ao tsar que os deputados da III Duma de Estado foram obrigados a fazer por escrito. Dado que a recusa do juramento significaria perder a tribuna da Duma, necessária para mobilizar o proletariado para a luta revolucionária, os deputados sociais-democratas assinaram-no juntamente com todos os outros deputados à Duma. (retornar ao texto)
(N265) A expressão "revolução internacional nos campos de batalha" foi utilizada por VV Obolénski (N. Ossínski) nas suas Teses sobre a Questão da Guerra e da Paz, escritas para a reunião do CC do Partido realizado em 21 de Janeiro (3 de Fevereiro) de 1918. As Teses foram publicadas no jornal dos "comunistas de esquerda", Kommunist (O Comunista), nº 8, de 14 de Março de 1918. (retornar ao texto)
(N266) O Tratado de Paz de Tilsit, concluído em Julho de 1807 entre a França e a Prússia, estabelecia para esta condições muito dificeis e humilhantes. A Prússia perdeu uma parte considerável do seu território, foi-lhe imposto o pagamento de 100 milhões de francos, foi obrigada a reduzir o seu exército para 40 mil homens, a fornecer quando Napoleão o exigisse forças militares auxiliares e também a deixar de comerciar com a Inglaterra. (retornar ao texto)
(N267) Kommunist (O Comunista): diário, órgão fraccionista do grupo dos "comunistas de esquerda" que se publicou em Petrogrado em Março de 1918. (retornar ao texto)
(2*) Putilovistas: operários da fábrica Putílov. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(N268) Lénine refere-se provavelmente ao período que decorreu entre o começo da ofensiva das tropas alemãs em 18 de Fevereiro e o dia 28 de Fevereiro de 1918, quando a delegação soviética chegou à cidade de Brest-Litovsk. A ofensiva das tropas alemãs continuou até 3 de Março, dia em que foi assinado o tratado de paz. (retornar ao texto)
(3*) Szlachcic: nobre polaco. (N.E.) (retornar ao texto)
(N270) Trata-se da resolução aprovada pelo Bureau Regional de Moscovo do POSDR (b) na reunião de 24 de Fevereiro de 1918. Ver a crítica desse documento antipartido no artigo de Lénine Estranho e Monstruoso (Obras Escolhidas de VI Lénine em Três Tomos, Tomo II, pp. 488-493) (retornar ao texto)
(N271) Lénine refere-se a uma conversa sua com o oficial francês, conde de Lubersac, em 27 de Fevereiro de 1918. (retornar ao texto)
(N272) Trata-se do apelo do Comissariado do Povo dos Assuntos Militares que exortava todos os operários e camponeses da República Soviética à instrução militar voluntária. A instrução militar teve que passar a ser voluntária em virtude de o exército russo ter de ser desmobilizado, de acordo com as disposições do tratado de paz concluído com a Alemanha. (retornar ao texto)
(N273) Canossa: castelo no Norte de Itália. Em 1077 o imperador alemão Henrique IV, depois de derrotado na luta contra o Papa Gregório VII, foi obrigado a aguardar três dias à porta do castelo para se salvar da excomunhão e recuperar o poder de imperador. Daí a expressão "ir a Canossa", que significa arrepender-se, humilhar-se perante o inimigo. (retornar ao texto)
(N274) De acordo com o armistício concluído em 2 (15) de Dezembro de 1917 na cidade de Brest-Litovsk, qualquer das partes contratantes podia recomeçar as hostilidades, advertindo a outra parte com uma antecipação de 7 dias. O comando alemão, violando essa disposição do acordo, começou a ofensiva em toda a linha da frente no dia 18 de Fevereiro, isto é, dois dias depois de ter declarado nulo o armistício. (retornar ao texto)
(4*) Ver V. I. Lenine, Obras Completas, 5.ª ed. em russo, t. 27, pp. 50-51. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(N275) De acordo com o artigo VI do Tratado de Paz de Brest concluído a 3 de Março de 1918, a Rússia era obrigada a concluir a paz com a Rada Central contra-revolucionária da Ucrânia. as negociações de paz entre o governo soviético e a Rada não tiveram lugar nessa altura. No dia 29 de Abril de 1918 os ocupantes alemães, com a ajuda da burguesia democrata-constitucionalista-outubrista, efectuaram na Ucrânia um golpe de Estado. A Rada foi derrubada e substituída pelo regime diatatorial do hétmane Skoropádski. As negociações entre a Rússia Soviética e o governo de Skoropádski iniciaram-se em 23 de Maio e o armistício foi assinado em 14 de Junho de 1918. (retornar ao texto)
(5*) No estenograma faltam algumas palavras. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(N276) 12 de Março é o dia para que foi marcada a realização do IV Congresso extraordinário dos Sovietes de Toda a Rússia para decidir a questão da ratificação do tratado de paz com a Alemanha. O Congresso realizou-se de 14 a 16 de Março de 1918 (retornar ao texto)
(N277) GE Zinóviev propôs que o novo CC fosse encarregado de encontrar a forma de publicar a resolução sobre a guerra e a paz. A emenda de Zinóviev não foi aceite; por maioria de votos o congresso aprovou a adenda de Lénine. (retornar ao texto)
(N278) A questão da revisão do programa do Partido foi discutida na VII Conferência (de Abril) de Toda a Rússia do POSDR (b) (ver II Tomo das Obras Escolhidas de VI Lénine em três Tomos, p.81), e depois foi incluída na ordem de trabalhos do Congresso do Partido. Tendo confirmado a decisão da Conferência de Abril sobre a necessidade da revisão do programa, o Congresso encarregou o CC de organizar uma ampla discussão sobre as questões do programa. Durante o Verão e o Outono teve lugar dentro do Partido uma discussão teórica. O CC do POSDR (b), depois de examinar várias vezes a questão do programa, constituiu na reunião de 5 (18) de Outubro de 1917 uma comissão especial, presidida por Lénine, encarregada de preparar o programa do Partido para o Congresso ordinário que se pensava realizar no Outono de 1917. Finalmente, o CC decidiu em 24 de Janeiro (6 de Fevereiro) de 1918 encarregar da elaboração do projecto de programa uma nova comissão presidida por Lénine. Este escreveu o Borrão de Projecto de Programa, que foi entregue aos delegados ao VII Congresso do Partido como material de discussão. No entanto, o Congresso não discutiu o programa em pormenor e encarregou da redacção definitiva do programa uma comissão especial dirigida por Lénine, aprovando como teses fundamentais para a revisão do programa a resolução proposta por Lénine. O programa do Partido na sua redacção definitiva só foi aprovado em Março de 1919, no VIII Congresso do PCR (b). (retornar ao texto)
(N279) Ver carta de F. Engels a A. Bebel de 18-28 de Março de 1875 (In Karl Marx / Friederich Engels, Werke, Bd. 19, S. 6) (retornar ao texto)
(N280) Trata-se das compilações Materiais para a Revisão do Programa do Partido, sob a redacção e com um prefácio de Lénine (Ver Obras Completas de VI Lénine, 5ª Edição em Russo, t. 32, pp. 135-162), e Materiais para a Revisão do Programa do Partido, Colectânea de Artigos de V. Miliútine, V. Sokólmikov, A. Lómov e V. Smirnov, ed. Bureau Regional da Região Industrial de Moscovo do POSDR, 1917 (retornar ao texto)
(N281) Prosvecktchénie (Educação): revista teórica mensal bolchevique, que se editou de 1911 a 1914 e em 1917. Spartak (Espártaco). revista teórica do Bureau Regional de Moscovo do POSDR (b). Editou-se em Moscovo de Maio a Outubro de 1917. (retornar ao texto)
(N282) Lénine refere o Prefácio à brochura de Borkheim Em Memória dos Patrioteiros Alemães, 1806-1807, redigidos por F. Engels em 15 de Dezembro de 1887 (In Karl Marx / Friederich Engels, werke, Bd. 21, S. 351) (retornar ao texto)
(6*) Ver V. I. Lenine, Obras Completas, 5.a ed. em russo, tomo 32, pp. 147-162. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(N283) EO Congresso de Chemitz da social-democracia alemã, que se realizou de 15 a 21 de Setembro de 1912, aprovou a resolução "sobre imperialismo" na qual a política dos Estados imperialistas era caracterizada como "política descarada de rapina e de conquista" e se apelava para a classe operária para "lutar com redobrada energia contra o imperialismo atŕ que ele seja derrubado". Manifesto de Basileia: manifesto sobre a guerra provado pelo Congresso Socialista Internacional Extraordinário, realizado em 24 e 25 de Novembro de 1912 em Basileia. O manifesto advertia os povos para o perigo de uma guerra imperialista mundial iminente, revelava os propósitos rapinantes de uma tal guerra, exortava os operários de todos os países a uma luta decidida pela paz, contrapondo "ao capitalismo imperialista o poderio da solidariedade internacional do proletariado". O texto do Manifesto de Basileia continha um ponto, tomado da resolução do Congresso de Estugarda de 1907 e redigido por Lénine, afirmando que os socialistas, no caso de rebentar uma guerra imperialista, deviam aproveitar a crise económica e política provocada pela guerra para a luta pela revolução socialista. (retornar ao texto)
(7*) Obras Escolhidas de VI Lénine em três tomos, Tomo II, pp. 219-305. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(N284) Lénine refere-se ao governo revolucionário da Finlândia, o Conselho de Representantes do Povo, criado em 29 de Janeiro de 1918 depois de derrubado o governo burguês de Svinhufvud. Além do Conselho de Representantes do Povo, foi criado o Conselho Principal das Organizações Operárias, que era o órgão supremo do poder político. A base do poder político no país era constituído pelas "dietas das organizações operárias", eleitas pelos operários organizados. A conclusão de Lénine de que os Sovietes não são a única forma de ditadura do proletariado foi depois inteiramente confirmada. (retornar ao texto)
(8*) Ver V. I. Lenine, Obras Completas, 5.ª ed. em russo, t. 36, pp. 70-76. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(9*) Ver V. I. Lenine, Obras Completas, 5." ed. em russo, t. 34, pp. 372-376. (N. Ed.) (retornar ao texto)
(10*) Ver página 22 (retornar ao texto)
(N285) No começo de 1918, o Bureau de propaganda revolucionária internacional anexo ao Comissariado do Povo dos Negócios Estrangeiros resolveu editar o "Decreto sobre a Terra" em línguas estrangeiras. Um Fevereiro de 1918, o Decreto foi editado em Petrogrado em inglês no livro Decrees issued by the revolutionary people's government, vol. I, Petrograd, Februarry 1918 (retornar ao texto)
(N286) Quando da eleição do Comité Central do Partido, os "comunistas de esquerda" recusaram-se a fazer parte dele. Por maioria de votos o Congresso adoptou um resolução proposta por Lénine condenando a recusa dos "comunistas de esquerda" a fazerem parte do CC. Mas, pensando que eles se submeteriam à disciplina do Partido, o Congresso elegeu representantes seus (NI Bukhárine, A. Lómov, MS Urítski) para o CC, embora todos eles tivessem declarado no Congresso recusar-se ao trabalho no CC. Não aceitando a recusa, o Congresso decidiu sem discussão adiar até à reunião do Comité Central a substituição dos "comunistas de esquerda" eleitos para o CC. Depois do Congresso do Partido e do IV Congresso Extraordinário dos Sovietes de Toda a Rússia, que ratificou o tratado de paz com a Alemanha, os "comunistas de esquerda", apesar das exigências categóricas do CC, recusaram-se a participar no trabalho durante alguns meses. Lénine faz uma apreciação da actividade cisionista dos "comunistas de esquerda" depois do VII Congresso na Nota sobre o Comportamento dos "Comunistas de Esquerda" (Obras Completas de VI Lénine, 5ª ed. em russo, t. 36, p. 77). (retornar ao texto)
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Inclusão | 13/06/2019 |