Materialismo e Empiro-Criticismo
Notas e Críticas Sobre uma Filosofia Reacionária

V. I. Lênin

Capítulo V - A Revolução Moderna nas Ciências Naturais e o Idealismo Filosófico


31. As Duas Correntes da Física Contemporânea e o Idealismo Alemão


Hermann Cohen, bem conhecido idealista kantiano, prefaciou em 1896, com uma alegria extraordinariamente triunfante, a quinta edição da Historia do materialismo, falsificada por Fr. Albert Lange.

"O idealismo teórico — dizia Cohen (p. XXVI) — abala o materialismo dos naturalistas, sobre o qual registará, talvez bem cedo, uma vitoria definitiva. O idealismo penetra (Durchwirkung) a nova física. O atomismo deve dar lugar ao dinamismo... Evolução notável, o estudo profundo dos problemas químicos da substância deve libertar-se, em princípio, da concepção materialista da matéria. Do mesmo modo que Tales concebeu a primeira abstração definindo o conceito de substância e ligando-lhe seus raciocínios especulativos, a teoria da eletricidade devia produzir a mais profunda revolução na concepção da matéria e, transformando a matéria em força, acarretar a vitoria do idealismo" (p. XXIX).

H. Cohen definiu com tanta clareza e precisão quanto J. Ward as correntes fundamentais da filosofia, sem se perder (como nossos discípulos de Mach) entre as ínfimas discriminações de idealismo energético, simbólico, empiro-criticista. empiro-monista, etc... Cohen considera a corrente filosófica fundamental da escola de física atualmente ligada aos nomes de Mach, Poincaré e outros como a corrente idealista, como justamente a definiu. A "transformação da matéria em força" é, para Cohen, como o é para os naturalistas "visionários" desmascarados por Dietzgen em 1869, a principal conquista do idealismo. A eletricidade torna-se um auxiliar do idealismo, uma vez que, tendo destruído a antiga teoria da estrutura da matéria, decomposto o átomo, descoberto novas formas de movimento material tão diferentes das antigas, tão inatingidas pelo estudo, tão desconhecidas, tão extraordinárias, tão "maravilhosas", possibilitou a introdução de uma interpretação da natureza considerada como movimento imaterial (mental, espiritual, psíquico). O que era ontem o limite do nosso conhecimento das partículas infinitamente pequenas da matéria, desapareceu — conclui o filósofo idealista (mas o pensamento fica). Todo engenheiro e todo físico sabem que a eletricidade é um movimento (material), embora ninguém saiba com precisão que é que se move; nesse caso, conclui o filósofo idealista, podem-se enganar as pessoas sem instrução filosófica, apresentando-lhes esta proposição de uma sedutora "economia": Representemos o movimento sem matéria...

H. Cohen esforça-se por fazer-se aliado do célebre físico Heinrich Hertz. Hertz é dos nossos, diz ele, é kantista, existem nele admissões a priori. Hertz é dos nossos; ele segue Mach! porque se vê manifestar-se nele "uma concepção subjetivista da essência das noções semelhante à de Mach"(1), responde o discípulo de Mach, Kleinpeter. Essa curiosa discussão a respeito da adesão de Hertz a essa ou aquela escola oferece-nos um bom exemplo da maneira pela qual os filósofos idealistas se aferram, nos grandes naturalistas, ao menor erro, à menor expressão imprecisa, afim de justificarem sua renovada defesa do fideísmo. Na realidade, a introdução filosófica de Hertz à sua Mecânica(2) revela as concepções habituais de um naturalista intimidado pela grita dos professores contra a "metafisica" materialista e que não chega a superar sua certeza espontânea da realidade do mundo exterior. O próprio Kleinpeter concorda que, de um lado, lance à massa dos leitores elementos de vulgarização, profundamente falsos, onde tenha tratado da teoria do conhecimento das ciências naturais e onde Mach figura ao lado de Hertz, e que, de outro lado, em artigos filosóficos especiais, admite que,

"contrariamente a Mach e a Pearson, Hertz ainda se atém à ideia preconcebida segundo a qual toda a física é susceptível de uma "explicação mecânica"(3), ainda se atém à concepção da coisa em si e às "opiniões costumeiras dos físicos", "ainda se atém à existência do mundo em si"(4), etc.

A opinião de Hertz sobre a energética merece ser citada.

"Se nos perguntamos — escreve ele — por que a física contemporânea gosta de usar, em seus raciocínios, a linguagem energética, a resposta será que isso permite evitar, mais comodamente, referencias a coisas que conhecemos bem pouco... Estamos, certamente, todos convictos de que a matéria ponderável é composta de átomos; possuímos mesmo, em determinados casos, ideia bem precisa de suas dimensões e de seus movimentos. Na maioria dos casos, entretanto, a forma dos átomos, sua coesão, seus movimentos escapam inteiramente à nossa obervação... Do mesmo modo, nossas ideias sobre os átomos constituem objeto importante e interessante de pesquisas ulteriores, sem oferecer. entretanto, base solida para as teorias matemáticas" (loc. cit., t. III, pág. 21).

Hertz esperava das pesquisas ulteriores sobre o éter a explicação da "essência da antiga matéria, de sua inércia e da gravitação" (t. I, p. 354).

Nessas circunstancias, a ideia da possibilidade de uma concepção não materialista da energia nem mesmo se lhe apresenta. A energética serviu de pretexto ao filósofo para fugir do materialismo para o idealismo. O naturalista nela vê um processo comodo de exposição das leis do movimento material no momento em que os físicos abandonaram, por assim dizer, o átomo, sem terem atingido o eléctron. Pode-se dizer que, em boa proporção, ainda estamos neste ponto: uma hipótese exclui a outra; nada sabemos do eléctron positivo; há apenas três meses que Jean Becquerel afirmava (22 de junho de 1908) à Academia de Ciências de Paris ter conseguido encontrar essa "nova parte constitutiva da matéria" (Anais das sessões da Academia de Ciências, p. 1.311). Pretenderíeis que a filosofia idealista desprezasse a situação vantajosa em que o espírito humano ainda não faz senão "pesquisar a matéria" e se abstivesse de deduzir que essa última não passa de "simbolo", etc.?

Outro idealista alemão, de uma nuança muito mais reacionária do que Cohen, Eduard von Hartmann, dedicou todo um livro à Concepção do mundo da física moderna, (Die Welianschauung der modernen Physik, Leipzig, 1902). As reflexões pessoais do autor a respeito da variedade de idealismo que defende certamente não nos interessam. Interessa-nos apenas indicar que também esse idealista se consagra às mesmas constatações de Rey, Ward e Cohen.

"A física contemporânea desenvolveu-se sobre um terreno idealista — escreve E. von Hartmann —, e foi necessária a corrente neokantista e agnóstica da nossa época para que se tornasse possível interpretar as últimas conquistas da física num sentido idealista" (p. 218).

Segundo E. von Hartmann, três sistemas gnoseológicos estão na base da física moderna: a hilocinética (do grego hyle, matéria, e kinesis, movimento: os fenômenos físicos não são senão movimento da matéria), a energética e o dinamismo (admissão da força sem matéria). Concebe-se que o idealista Hartmann defenda o "dinamismo" e dai deduza que as leis da natureza se reduzem ao pensamento universal, "substituindo"; numa palavra, a natureza física pelo psíquico. Ele deve, porem, concordar que é a hilocinética que reúne maior número de físicos, que esse sistema é o "que se usa mais frequentemente" (p. 190) e que seu maior defeito está no "materialismo e no ateísmo, ameaças suspensas sobre a hilocinética pura" (p. 189). O autor vê, com razão, na energética. um sistema intermediário que qualifica de agnóstico (p. 136). Esse sistema é, certamente, "aliado do dinamismo puro, porque elimina a matéria" (p. 192), mas seu agnosticismo desagrada a Hartmann, como uma espere de anglomania contraria ao idealismo do bom alemão ultrarreacionário.

Nada mais edificante do que ver esse idealista intransigente, imbuído de espírito de partido (os sem-partido são, em filosofia, de uma estupidez tão exasperante como em política), querer ensinar aos físicos que, em gnoseologia, deve-se seguir essa ou aquela corrente.

"Entre o físicos que seguem essa moda — escreve Hartmann a proposito da interpretação idealista das últimas conquistas da física —, extremamente raros são os que pesam todo o alcance e todas as consequências dessa interpretação. Não observaram que a física não conservava seu valor próprio e suas leis especificas senão na medida em que os físicos mantivessem, apesar do seu idealismo, as premissas fundamentais do realismo, tais como as da existência das coisas em si, de suas modificações reais no tempo, da realidade da causalidade... Somente com auxilio de tais premissas realistas (o valor transcendental da causalidade, do tempo e do espaço de três dimensões), isto é, sob a condição de que a natureza, cujas leis os físicos expõem, coincida com o domínio das coisas em si... é que se pode falar das leis da natureza diferentes das leis psicológicas. Apenas no caso em que as leis da -natureza atuem num domínio independente do nosso pensamento, é que são susceptíveis de explicar o fato de que as conclusões logicamente necessárias tiradas das nossas imagens mentais se revelam como as imagens de resultados necessário4, em história natural, do desconhecido que essas imagens refletem ou simbolizam em nossa consciência" (pp. 218 e 219).

Hartmann observa muito bem que o idealismo da nova física não passa de uma moda e não constitui uma investida filosófica seria contra o materialismo das ciências naturais; ele também mostra aos físicos, e com razão, que, para que a "moda" chegue a um idealismo filosófico lógico e integra!, é necessário transformar radicalmente a doutrina da realidade objetiva do tempo, do espaço, da causalidade e das leis naturais. Não basta não ver nos átomos, nos eléctrons e no éter senão puros símbolos, simples "hipóteses de trabalho"; é preciso também declarar o tempo, o espaço, as leis da natureza, todo o universo exterior, "hipóteses de trabalho". Ou o materialismo, ou a substituição universal de toda a natureza física pelo psíquico: muitas pessoas se comprazem em confundir essas coisas; nós não estamos, Bogdanov e nós, nesse número.

Ludwig Boltzmann, que morreu em 1906, figura entre os físicos alemães que têm combatido sistematicamente a corrente de Mach. Já observamos que ele opunha à "sedução dos novos dogmas gnoseológicos" a demonstração simples e clara de que a doutrina de Mach conduz ao solipsismo (ver o nosso cap. I, § 6). Boltzmann receia, evidentemente, intitular-se materialista e, aliás, acentua que não é inteiramente contra a existência de Deus.(5) Mas sua teoria do conhecimento é, no fundo, materialista; exprime a opinião da maioria dos naturalistas, como o reconhece, o historiador das ciências naturais do seculo XIX, S. Günther.(6) "Conhecemos as coisas pelas impressões que produzem em nossos sentidos", diz L. Boltzmann (loc. cit.. p. 29). A teoria é uma "imagem" (ou uma reprodução) da natureza do mundo exterior (p. 77). Aos que afirmam que a matéria não é senão um complexo de percepções dos sentidos, Boltzmann responde que, nesse caso, os outros homens para quem fala, também não passam de sensações (p. 168). Esses "ideólogos" às vezes, Boltzmann dá esse nome aos filósofos idealistas nos dão um "quadro objetivo do mundo" (p. 176). O autor prefere um "quadro objetivo mais simples".

"O idealista compara a afirmação segundo a qual a matéria existe, do mesmo modo que nossas sensações, com a opinião da criança, para quem a pedra em que bate também sente dor. O realista compara a opinião segundo a qual não se pode apresentar o psíquico como derivado da matéria ou mesmo do jogo dos átomos com a do ignorante que afirma que a distancia entre a terra e o sol não pode ser de vinte milhões de léguas, uma vez que ele não o pode conceber" (p. 186).

Boltzmann não renuncia ao ideal científico que concebe o espírito e a vontade como sendo "ações completas de parcelas de matéria" (p. 389).

L. Boltzmann muitas vezes polemizou, do ponto de vista da física, com a energética de Ostwald, demonstrando que esse último não pode nem refutar e nem eliminar a fórmula da energia cinética (energia igual ao produto da metade da massa pelo quadrado da velocidade) e que, deduzindo, em primeiro lugar, a energia da massa (as fórmulas adotadas da energia cinética) para, depois, definir a massa pela energia (pp. 112-139), ele cai num círculo vicioso. A esse respeito, lembro-me da paráfrase que Bogdanov faz de Mach no terceiro tomo do Empiromonismo:

"A concepção científica da matéria escreve Bogdanov, referindo-se à Mecânica, de Mach reduz-se ao coeficiente da massa tal como está expresso nas equações da mecânica, coeficiente no qual a análise precisa nos revela a grandeza inversa da aceleração de dois complexos físicos ou corpos" (p. 146).

Daí se conclui que, se se toma um corpo qualquer como unidade, o movimento (mecânico) de todos os outros corpos pode ser expresso por uma simples relação de aceleração. Mas os "corpos" (isto é, a matéria), nem por isso desaparecem, não deixam de existir independentemente da nossa consciência. Reduzido o universo ao movimento dos eléctrons, seria possível eliminar o eléctron de todas as equações, uma vez que ficaria sempre subentendido, e a correlação entre grupos ou conjuntos de eléctrons se reduziria à sua aceleração mútua, se as formas do movimento fossem aqui tão simples como em mecânica.

Combatendo a física "fenomenológica" de Mach & Cia., Boltzmann afirmava que

"os que pensam eliminar a atomística por meio de equações diferenciais não veem a floresta atrás das arvores" (p. 144).

"Se não se alimentam ilusões a respeito do alcance das equações diferenciais, está fora de dúvida que o quadro do mundo (construído com auxilio de equações diferenciais) continuará necessariamente como o quadro atomístico das transformações que sofre, no tempo, de acordo com regras determinadas, uma quantidade formidável de coisas situadas no espaço de três dimensões. Essas coisas, sem dúvida, podem ser idênticas ou diferentes, imutáveis ou cambiantes... (p. 156).

"É bem evidente que a física fenomenológica apenas se dissimula sob o envolucro das equações diferenciais afirma Boltzmann em 1899, em seu discurso no congresso dos naturalistas em Munich; na realidade, ela também procede de seres particulares (Einzelwesen) semelhantes aos átomos. E como é necessário representar esses últimos como possuindo propriedades diferentes nos diversos grupos de fenômenos, cedo se fará sentir a necessidade de uma atomística mais simples e mais uniforme" (p. 223).

"O desenvolvimento da teoria dos eléctrons dá origem, principalmente, a uma teoria atômica valida para todas as manifestações da eletricidade" (p. 357).

A unidade da natureza revela-se na "admirável analogia" das equações diferenciais em relação aos diversos domínios de fenômenos:

"As mesmas equações podem servir para resolver as questões de hidrodinâmica e para exprimir a teoria dos potenciais. As teorias dos turbilhões líquidos e a da colisão dos gases (Gasraibung) apresentam flagrante analogia com a teoria do eletro-magnetismo" (p. 7).

Os que admitem a "teoria da substituição universal" não poderão subtrair-se, de modo algum, a seguinte pergunta: Quem pode, então, pensar em substituir" tão uniformemente a natureza física?

Para responder aos que colocam à margem a "física da velha escola", Boltzmann relata minuciosamente os casos de especialistas da "química física" que adotam o ponto de vista gnoseológico oposto ao de Mach. O autor de "um dos melhores" trabalhos de conjunto publicados em 1903, Vaubel. "é resolutamente hostil à física gnoseológica tão frequentemente louvada (Boltzmann, p. 380).

"Ele se esforça — escreve Boltzmann — por chegar a uma ideia tão concreta e tão nítida quanto possível da natureza do átomos e das moléculas, bem como das forças que neles atuam. Essa ideia, ele a ajusta às experiências das mais recentes, obtidas nesse domínio" (íons, eléctrons, radiam, fenômenos de Seemann, etc.)...

"O autor... limita-se rigorosamente ao dualismo da matéria e da energia(7) e expõe separadamente a lei da conservação da matéria e a da conservação da energia. Quanto à matéria, o autor limita-se igualmente ao dualismo da matéria ponderável e do éter, sendo esse último, a seus olhos, de natureza material, no sentido estrito da palavra" (p. 381).

No tomo II da sua obra (Teoria da eletricidade), continua Boltzmann, o autor

"adota, desde o inicio, o ponto de vista de que os fenômenos elétricos são os resultados da ação reciproca de movimentos de indivíduos semelhantes aos átomos. isto é, os eléctrons" (p. 383).

O que o espiritualista J. Ward reconhecia para a Inglaterra, também se confirma para a Alemanha: os físicos da escola realista não sistematizam com menor felicidade os fatos e as descobertas dos últimos anos do que os da escola simbolista, e não existe, entre uns e outros, diferença essencial senão do ponto de vista da teoria do conhecimento.(8)


Notas de rodapé:

(1) Archiv für syst. Phil., vol. V, 1898-1899, pág. 167. — N. L. (retornar ao texto)

(2) Heinrich Hertz, Gesammelte Werke (Obras completas), t. III, Leipzig, 1895, págs. 1, 2 e 49, principalmente. — N. L. (retornar ao texto)

(3) Kantstudien, t. VIII, 1903, pág. 309. — N. L. (retornar ao texto)

(4) The Monist, vol. XVI, 1906, n. 9, pág. 164, artigo sobre o "monismo" de Mach. — N. L. (retornar ao texto)

(5) Ludwig Boltzmann, Populäre Schriften (Escritos populares), Leipzig, 1905, pág. 187. — N. L. (retornar ao texto)

(6) Siegmund Günther, Geschichte der anorganischen Naturwissenschaften im XIX. Jahrhundert (Historia das ciências naturais inorgânicas no século XIX), Berlim, 1901, págs. 941 e 942. — N. L. (retornar ao texto)

(7) Boltzmann diz com isso que o citado autor não tenta conceber o movimento sem matéria. Seria ridículo falar aqui de "dualismo". O monismo e o dualismo são, em filosofia, a aplicação consequente ou inconsequente da concepção materialista ou idealista. — N. L. (retornar ao texto)

(8) O trabalho de Erich Becher sobre As premissas filosóficas das ciências naturais exatas (Erich Becher, Philosophisehe Voraussetzungen der exacten Naturwissenschaften, Leipzig, 1907), de que tomei conhecimento quando este livro já estava terminado, confirma o que acabo de dizer. Aproximando-se sobretudo do ponto de vista gnoseológico de Helmholtz e de Boltzmann, isto é, do materialismo “pudico”, inacabado, o autor consagra seu livro à defesa e à explicação das proposições fundamentais da física e da Química. Essa defesa torna-se, naturalmente, uma luta contra a corrente de Mach (cf. págs. 91 e outras), que, embora na moda, encontra, na filosofia, crescente resistência. E. Becher definiu-a com justeza como um "positivismo subjetivista" (pág. III) e faz gravitar toda a luta contra ela em torno da demonstração da "hipótese" da existência do universo exterior (caps. III-VII), da demonstração da "sua existência independentemente das percepções humanas" (vom Wahrgcnommenwerden unabhängigen Existenz). A negação dessa "hipótese" pelos discípulos de Mach leva-os frequentemente ao solipsismo (págs. 78, 82 e ontras). Becher chama de "monismo sensualista" (Empfindungsmonismus) "a concepção de Mach segundo a qual as sensações e seus complexos, e não o universo exterior, representam o único objeto das ciências naturais"; esse "monismo sensualista", ele o relaciona com as tendências "puramente consciencionalistas". Esse neologismo absurdo e sombrio vem do latim conscientia, consciência, e significa tão somente idealismo filosófico (cf. pág. 156). Nos dois últimos capítulos do seu livro, E. Becher compara muito bem a velha teoria mecânica da matéria e a antiga concepção do mundo com as novas teorias da eletricidade (concepção "cinético-elástica" e "cinético- elétrica" da natureza, conforme a terminologia do autor). A última teoria, baseada na teoria dos eléctrons, constitui um progresso no conhecimento da unidade do mundo: "são as cargas elétricas (Ladungen) que representam para ela os elementos do mundo material" (pág. 223). "Toda concepção puramente cinética do mundo admite somente certo número de corpos em movimento, que têm o nome de eléctrons ou um outro; o movimento desses corpos mim momento dado é rigorosamente determinado, em virtude de leis fixas, por sua situação e seu estado de movimento no momento precedente" (pág. 225). O defeito principal do livro de E. Becher provém de sua completa ignorância do materialismo dialético, ignorância que o leva frequentemente a confusões e a absurdos, a respeito dos quais não nos é possível falar aqui. — N. L. (retornar ao texto)

Inclusão 21/01/2015