Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro oitavo: A acumulação do capital e a reprodução das relações capitalistas
Capítulo XXII - O equilíbrio da economia capitalista na reprodução simples e ampliada
111. Condições de equilíbrio da economia capitalista na reprodução simples


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Não nos esquecemos de que a sociedade capitalista, considerada como um todo, é composta de partes distintas que podem ser divididas em duas secções: 1.° os ramos de produção que produzem os meios de consumo; 2.° os ramos de produção que produzem os meios de produção, ferramentas, maquinas, etc. Estas duas categorias tem, uma e outra, um capital constante e um capital variável.

Utilizando-nos dos esquemas dados por Marx no segundo volume d’O Capital, suponhamos que os ramos de produção que produzem meios de produção tem um capital de 5 biliões de francos, dos quais 4 biliões de capital constante e 1 bilião de capital variável; os ramos de produção produtores de artigos de consumo tem um capital de 2.500 milhões. Se, para maior simplicidade, supusermos a composição orgânica de capital semelhante em toda parte, isto é, igual a 4:1, estes 2.500 milhões decompor-se-ão num capital constante de 2 biliões e um capital variável de 500 milhões.

Suponhamos também, para mais simplicidade, que a taxa de exploração é em toda parte igual a 100% e que o capital efetua sua rotação em todos os ramos num ciclo de produção; suponhamos, enfim, que o capital fixo transfere num ciclo da produção seu valor integral ao valor do produto.

Obteremos o quadro seguinte:

Secção I: produto de meios de produção:

4.000 c + 1.000 v + 1.000 m = 6.000

Secção II: produção de meios de consumo:

2.000 c + 500 v + 500 m = 3.000

A produção global da secção I é do valor de 6 biliões e consiste exclusivamente em meios de produção: maquinas, ferramentas, matérias auxiliares.

A produção global da secção II vale 3 milhões e consiste exclusivamente em meios de consumo.

Como podem ser escoados (realizados) no mercado estes 6 biliões de produção e estes 3 biliões de meios de consumo? Cada ramo da economia, cada empresa é um mercado para todas as outras. Observemos que a troca não se dá unicamente entre as duas secções, mas também no seio destas duas secções, mesmo entre os diversos ramos e entre as diversas empresas que os compõem. A secção I realiza em seu próprio seio uma parte da produção e realiza a outra parte na secção II. O mesmo se da com a secção II.

Comecemos pela realização da produção da secção I.

Esta tem desde o inicio, necessidade para si própria de meios de produção que produziu. No fim do processo da produção, o valor total de seu capital passou para o produzido; as máquinas, os edifícios, todos os elementos do capital constante estão gastos e devem ser reconstituídos. É evidente que as novas máquinas, edifícios, matérias-primas, serão tomadas do produzido nos ramos de produção da secção I. Sendo seu capital constante de 4 biliões, a secção I tomará 4 biliões dos seus próprios produtos.

Mas ela produziu 6 biliões. Ficam dois biliões de produtos a realizar. Estes meios de produção representam 1 bilhão de valor materializado na força de trabalho (capital variável) e um bilião de mais-valia. Os operários da secção I, que receberam o valor de sua força de trabalho, ou seja, 1 bilião de francos, não podem procurar meios de produção, mas tem necessidade de meios de consumo. É preciso dizer o mesmo para os capitalistas que recebera a mais-valia, partindo da hipótese da reprodução simples, isto é, do consumo de toda a mais-valia pelo capitalista, sem aumento da produção.

Os 2 biliões de francos de meios de produção restantes, representado o valor do capital variável e da mais-valia dos ramos da industria da secção I, devem, portanto, ser realizados fora desta. Aonde? Evidentemente isto se dará na secção II, onde eles serão trocados por meios de consumo necessários para satisfazer as necessidades dos operários e dos capitalistas da 1.° categoria.

A secção I tem necessidade dos serviços da secção II. Mas isto não é tudo. Os capitalistas da secção II não se contentarão em dar os seus produtos aos capitalistas da secção I pela única razão de que estes têm necessidade deles e de lhes comprar 2 biliões de meios de produção porque estes os têm em excesso. A secção II tem evidentemente necessidade dos serviços da secção I. Ela também tem um capital constante, cujo valor é transferido ao produto e que deve ser reproduzido. Ela não pode receber novas máquinas, novos edifícios, etc a não ser da secção I. Como o capital constante da II se eleva a 2 biliões, os capitalistas produtores de meios de consumo procurarão juntamente, na hipótese da reprodução simples, 2 biliões de francos de meios de produção.

A parte da produção da 1.º categoria, que não possa achar sua utilização nesta mesma categoria, servirá precisamente para satisfazer este pedido da secção II.

Os meios de produção fabricados nos ramos das indústrias da secção I pela soma de 2 biliões de francos, representando valor do capital variável e a mais-valia, serão trocados pelos meios de consumo das indústrias da secção II, que representa o valor do capital constante desta última. Toda a produção da secção I será realizada. Ficará por realizar 1 bilião de meios de consumo da 2.º categoria. Evidentemente, eles irão satisfazer as necessidades desta mesma secção. Os operários receberam aí 500 milhões em salários; os capitalistas receberam outro tanto de mais-valia; a procura de meios de consumo será, portanto, exatamente igual à quantidade restante de produtos, quantidade que representa precisamente o valor do capital variável e a mais-valia da 2.º categoria.

A troca entre as duas categorias revestirá, pois, a forma seguinte:

Secção I — 4.000 c + | 1.000 v + 1.000 m | = 6.000

Secção II — | 2.000 c | + 500 v + 500 m = 3.000

A secção I realiza em si mesma seus próprios produtos pela soma igual ao seu capital constante: a secção II realiza em si mesma seus produtos por uma soma igual à dos seus salários e à sua mais-valia. O equilíbrio entre ambas as categorias só é possível — na reprodução simples — quando a secção I oferece à secção II uma quantidade de meios de produção de valor igual ao do capital constante da secção II que dará em troca uma quantidade de meios de produção igual ao salário e à mais-valia da secção I. Evidentemente, é preciso, para que haja equilíbrio, que v + m da secção I seja igual a c da secção II. Em outros termos, que:

Iv + Im = IIc

Em nosso exemplo, aproveitado de Marx, o equilíbrio tem sido possível porque esta igualdade é realizada Justamente. IIc = 2 biliões; mas Iv+ Im = 1 bilião, + 1 bilião, isto é, 2 biliões.

Esta igualdade, repitamo-lo, é a condição necessária do equilíbrio na reprodução simples.


Inclusão 10/06/2023