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Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov

Livro sétimo: A renda territorial
Capítulo XV - A renda territorial na Economia Capitalista
79. A renda diferencial II

Além das diferenças de fertilidade do solo e da situação das terras, a produção da renda territorial pode ter uma terceira causa.

A mesma terra pode ser objeto de várias inversões sucessivas de capitais. Suponhamos que, se tenha a principio gasto 100 rublos para obter 200 puds de trigo. Este primeiro gasto foi seguido de um despesa complementar (aplicação de máquinas mais aperfeiçoadas aumento de mão-de-obra, melhoramentos do solo). O segundo gasto, suponhamos de 100 rublos, aumentou a colheita de 150 puds de trigo. Admitamos que se faça ainda um terceiro gasto de 100 rublos que, por sua vez, aumentará a colheita de 100 puds. Obteremos, pois, o seguinte quadro:

• 1.º investimento de capital: 100 rublos que produzem 200 puds de cereais;
• 2.º investimento de capital: 100 rublos que produzem 150 puds de cereais;
• 3.º investimento de capital: 100 rublos que produzem 100 puds de cerais.

Atenhamo-nos a uma hipotética taxa de lucro fixada em 20%. O preço individual da produção de um pud de cereais será determinado como segue:

O preço individual da produção de um pud de cereais correspondente ao primeiro gasto de capital é, portanto, de 60 copeks; e de 80 copeks e 1 rublo e 20 copeks respectivamente para o 2.º e 3.º gastos de capital. Ora, sendo os preços dos produtos da agricultura determinados pelas despesas da produção nas condições mais difíceis, é a despesa menos produtiva de capital, a 3.ª, no caso, que deve fixá-lo. Os cereais serão vendidos no mercado a 1 lr. e 20 o pud; ao locatário do solo tocará 240 rublos pelo primeiro gasto de capital, 180 para o 2.º e 120 para o 3.º. Estas quantias repartir-se-ão da seguinte maneira:

O primeiro gasto de capital dá, em comparação com o 3.º, uma renda de 120 rublos; o 2.º dá 30 rublos; o 3.º, o menos produtivo, não dá, no caso, renda diferencial.

A renda diferencial pode, pois, resultar das diferenças da fertilidade e situação do solo, bem como das diferenças de produtividade das inversões de capitais num mesmo terreno. Marx chama a este último aspecto da renda territorial de renda diferencial II, sendo a renda diferencial I produzida pelas diferenças de fecundidade e de situação dos terrenos.

Nós tínhamos suposto, ao estudar a renda diferencial I, que se passava do cultivo dos melhores terrenos aos piores. Mas, na realidade, o inverso é o que sempre se verifica. É o que acontece quando os terrenos mais férteis são inacessíveis, cobertos de matas ou afastados do mercado. A derrubada de uma floresta ou a construção de uma estrada de ferro pode, então, facilitar o acesso à terra que, por sua fecundidade natural, tomarão o primeiro lugar na produção e que darão uma renda diferencial.

Para a renda diferencial II é a mesma coisa. Tínhamos suposto sucessivas inversões de capitais em uma mesma terra, seguidas de uma produção decrescente. Mas isto está longe de ser sempre assim. Estas inversões sucessivas de capital podem, ao contrário, provocar um aumento da produção. Isto não acarreta nenhuma modificação na regra que acabamos de expor. Outros gastos, menos produtivos, são inevitáveis em geral e são estes que determinarão o preço dos cereais; a produção da renda diferencial II é inevitável.

Tudo isto nos mostra que a renda territorial diferencial não se liga necessariamente à passagem do cultivo de certas terras ao cultivo de outras, nem a produtividade decrescente das inversões complementares de capitais em uma mesma terra. Exige unicamente que haja entre as terras diferenças de fertilidade, de situação, ou de produtividade dos gastos complementares de capital. Tudo o que contribui para o crescimento destas diferenças aumenta a renda diferencial; tudo o que contribui para sua diminuição a diminui.

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