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Se o industrial vendesse, ele mesmo, suas mercadorias, já o dissemos, teria retirado da produção parte do seu capital; mas o cuidado de realizar suas mercadorias, ele o confiou ao capitalista comerciante que desempenha em seu lugar todas as operações de venda e de remessa de mercadorias ao consumidor. Assim o capitalista obtém diversas vantagens.
De inicio, ao vender sua produção aos comerciantes por atacado, o industrial recupera rapidamente o capital dispendido, recebe o lucro e obtém, por isto mesmo, a possibilidade de empregar a ambos na produção.
Além disso, fica também desembaraçado de todo cuidado atinente à realização das mercadorias produzidas, podendo assim concentrar sua atenção na produção. Constituindo o comércio, no regime capitalista, um dos ramos mais complexos da economia (exige conhecimentos especializados, experiência, capacidade de se orientar no meio das circunstâncias instáveis e complexas do mercado) o capitalista industrial que realizar ele próprio sua produção no mercado deve, não obstante isto, desdobrar sua atenção em detrimento do processo de produção ou de circulação, ou então de todos dois.
A sociedade capitalista, ao separar o capital industrial do comercial, consegue uma grande economia nos gastos de circulação das mercadorias. Obtém-se esta economia pela maior concentração do capital comercial e pela aceleração de sua rotação. Quando o industrial se dedica ao comércio, seu capital só serve à sua produção, enquanto o capitalista comerciante pode servir com o mesmo capital a numerosas empresas industriais.
O capital industrial está, portanto, interessado em confiar a realização de suas mercadorias ao capital comercial(1). Mas nenhum capitalista se encarregará jamais de negócios sem lucros. O capitalista comerciante não se encarregará de realizar as mercadorias do capitalista industrial sem que este divida com ele parte da mais-valia arrancada aos operários.
O capitalista industrial, tendo em vista as vantagens que lhe dá a transação com o comerciante, sacrifica voluntariamente parte de sua mais-valia, afim de se livrar das operações comerciais, consagrando-se assim inteiramente à produção. Na realidade, o que se passa é o seguinte: a mercadoria antes de chegar ao consumidor, passa ordinariamente por várias etapas da fábrica ou da oficina, passa às mãos do atacadista, deste ao varejista, e daí ao consumidor; em cada uma destas etapas o preço aumenta um pouco. Também o preço pago pelo consumidor pode ser considerado como o definitivo. Do ponto de vista do observador, parece que estes diversos aumentos de preço sejam sucessivamente acrescentados ao valor da mercadoria. Na realidade, o contrário é que é verdadeiro. O industrial, ao vender suas mercadorias ao negociante, a preço de fábrica, vende-as abaixo do seu valor, o que não quer dizer absolutamente que ele as vende com prejuízo. Recordemos que o valor de uma mercadoria compreende não somente o valor dos meios de produção e força de trabalho, como ainda a mais-valia. Uma parte desta mais-valia é cedida pelo industrial ao comerciante. Este, ao vender a mercadoria ao consumidor, a preço de varejo, vende-a pelo seu valor integral e realiza assim a parte da mais-valia que o industrial lhe cedeu.
O lucro comercial não é, portanto, senão a parte da mais-valia cedida pelo capitalista industrial ao capitalista comerciante, para que estese encarregue da realização das mercadorias.
Notas de rodapé:
(1) Notemos que não é sempre assim na realidade capitalista. O industrial não transmite sempre suas funções comerciais ao capitalista comerciante. Em todos os países capitalistas pode-se ver numerosos estabelecimentos comerciais pertencentes a empresas industriais. (retornar ao texto)
Inclusão | 21/09/2018 |