Conceitos Fundamentais de O Capital
Manual de Economia Política

I. Lapidus e K. V. Ostrovitianov


Livro segundo: A produção de mais valia
Capítulo III - A mais-valia na economia capitalista
17. Formação da mais-valia


capa

Se partirmos da hipótese de que o capitalista paga a força de trabalho pelo seu valor integral, perguntamos donde retira ele o lucro. Abordamos aqui as propriedades particulares da mercadoria- força de trabalho, as propriedades que a distinguem de qualquer outra mercadoria. O operário e o capitalista encontram-se no mercado na qualidade de proprietários de mercadorias. O operário tem a mercadoria-força de trabalho e o capitalista certa soma de dinheiro. O capitalista compra a força de trabalho por uma determinada soma de dinheiro, correspondente ao seu valor, suponhamos vinte escudos por dia. Uma vez comprada a mercadoria-força de trabalho, o capitalista pode dispor do seu valor de uso. O valor de uso da força de trabalho é o trabalho criador de valor. Desde que dispõe deste valor de uso, o capitalista começa a utilizá-lo, fazendo com que o operário trabalhe. Se, como na nossa hipótese, comprou a força de trabalho por vinte escudos diários, e se estes vinte escudos representam em dinheiro cinco horas de trabalho, em cinco horas de trabalho o operário terá devolvido a soma dedicada à compra da mercadoria-força de trabalho. Mas a força de trabalho tem esta propriedade particular: pode dar mais trabalho do que o necessário para a manter, por outras palavras, pode criar um valor maior do que o seu próprio valor. Como conhece esta propriedade maravilhosa da mercadoria-força de trabalho, o capitalista não se contenta com as cinco horas de trabalho durante as quais a força de trabalho cria um valor igual ao seu, e faz trabalhar o operário muito mais tempo, suponhamos dez horas. O valor criado pelo operário na segunda metade do seu dia de trabalho é para o capitalista um lucro líquido. Este excedente de valor que o operário cria para além do valor da sua força de trabalho chama-se mais-valia. Marx chama tempo de trabalho necessário ao tempo durante o qual o operário reproduz o valor da sua força de trabalho, e tempo de sobretrabalho ao tempo durante o qual cria mais-valia para o capitalista. A mais-valia é o traço particular da exploração capitalista. Na realidade a exploração já existia no tempo da escravatura e do feudalismo. Mas a força de trabalho nunca foi uma mercadoria e, portanto, nunca o sobreproduto se transformou em mais-valia. Esta mais-valia criada pelo operário durante o tempo de sobretrabalho é a origem do lucro capitalista.

 


Inclusão 26/06/2018