A Frente Única

Georgi Mikhailovich Dimitrov

12 de Dezembro de 1923


Primeira edição: «Rabotnitcheski Vestnik» N.° 7, 12 de Dezembro de 1923. Assinado: G. Dimitrov.
Fonte: Dimitrov e a Luta Sindical. Edições Maria da Fonte, Tradução: Ana Salema e Carlos Neves; Biografia e notas: Manuel Quirós.
Transcrição: João Filipe Freitas
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Fernando A. S. Araújo
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Uma das maiores conquistas do povo trabalhador búlgaro no decurso destes últimos meses foi, sem dúvida alguma, a criação da Frente Única entre o proletariado das cidades e as massas de camponeses e, mais especialmente, entre os dois órgãos políticos de massas — a União Agrária e o Partido Comunista.

A necessidade vital e a enorme importância da Frente Única do trabalho revelaram-se particularmente claras e incontestáveis tanto na altura do golpe de Estado de 9 de Junho como da Insurreição de Setembro.

É necessário sublinhar duma forma inteiramente aberta, que o golpe de Estado de 9 de Julho pôde ser organizado e vencer unicamente porque o governo de Stamboliiski e a direcção da União Agrária sabotavam de todas as maneiras a Frente Única entre a cidade e o campo, entre o proletariado das cidades e as massas trabalhadoras dos campos, desobstruindo assim, eles próprios, sem o saberem, o caminho e facilitando o trabalho à clique dos banqueiros e especuladores que tinham mergulhado no golpe de Estado e dos seus acólitos militares e macedónicos.

É necessário verificar também que a grande razão política da derrota da Insurreição de Setembro reside no facto dela ter sido suscitada e imposta antes do final definitivo do processo começado depois de 9 de Junho com vista à edificação de uma Frente Única do trabalho e de uma aliança fraterna entre o Partido Comunista e a União Agrária.

Mas à custa de milhares de vítimas e do sangue que abundantemente correu, a Insurreição de Setembro consagrou e selou para sempre a Frente Única entre o proletariado e as massas camponesas e o caminho em comum do Partido Comunista e da União Agrária, na luta contra a reacção burguesa e fascista e por um governo operário e camponês.

Pelo seu lado, as eleições de 18 de Novembro demonstraram de forma esmagadora a força da Frente Única das massas trabalhadoras e o grande progresso que foi possível levar a cabo no decurso de um período relativamente breve.

O caminho da Frente Única está doravante claramente traçado. A edificação da Frente Única, compreendendo todas as outras organizações de operários, empregados e artesãos chega rapidamente ao seu objectivo e conduzirá inevitavelmente à vitória definitiva do povo sobre a desencadeada reacção burguesa e fascista, à criação de um governo operário e camponês.

Eis justamente por que razão os inimigos do povo, os carrascos e assassinos no seio da coligação governamental, estão tomados de um terror mortal, sobretudo depois das eleições, terror esse suscitado pela Frente Única das massas trabalhadoras. E hoje eles desenvolvem esforços sobre-humanos para a destruir, para separar os operários e os camponeses que lutam em comum e sobretudo para separar a União Agrária e opô-la ao Partido Comunista, sabendo perfeitamente que para dominar o povo é necessário primeiro dividi-lo, para melhor o vencer.

Para este efeito, a coligação burguesa-socialista, os numerosos «salvadores» do povo e as «pessoas bem intencionadas» que o aterrorizavam de uma maneira desumana e o exterminavam em massa durante os dias de Setembro e Outubro, recorrem hoje tanto aos processos da violência e da reacção mais obscurista como aos métodos de corrupção política e demagogia vulgar.

Para realizar os seus tenebrosos planos, dedicam actualmente essencial atenção à utilização daqueles mesmos elementos da direita na União Agrária que, até ao dia 9 de Julho, representavam, no seio da União Agrária e do governo do país, os promotores da política da burguesia camponesa e sabotavam a Frente Única do trabalho — política que punha o governo agrário e a direcção da União Agrária em permanente conflito com as próprias massas trabalhadoras das cidades e dos campos e, portanto, com o Partido Comunista.

Haverá um único militante agrário, dotado de franqueza e bom senso, que não reconheça ter sido precisamente por causa da dissolução forçada das comunas (conselhos municipais comunistas) nas cidades que o governo agrário repôs ele próprio os centros urbanos nas mãos dos conspiradores e que consolidou as posições da burguesia pela desorganização da União dos Mineiros e dos Ferroviários e pelas perseguições de que o proletariado foi objecto, facilitando assim o golpe de Estado de 9 de Junho e a derrota da Insurreição de Setembro?

Foi esta política errada e fatal para o povo trabalhador, que os seus promotores tiveram de pagar com as próprias cabeças, que presentemente conta aliar-se à União Agrária?

Poder-se-á passar tão rapidamente a esponja por cima das sangrentas e caras lições dos acontecimentos de Junho e de Setembro?

Não é claro, mesmo para o último operário ou camponês búlgaro que, depois de tudo o que se passou durante os últimos seis meses, no país, repetir as antigas faltas fatais e ajudar no mínimo que seja os inimigos do povo nos seus desejos de destruir a Frente Única das massas trabalhadoras e a aliança fraterna entre comunistas e agrários equivalia a uma loucura incomensurável e a um atentado inqualificável aos interesses vitais e supremos do povo búlgaro?

Não, os apóstolos pouco numerosos da burguesia camponesa, amigos e adeptos secretos da coligação burguesa-socialista nas fileiras da União Agrária, enganam-se redondamente se julgam poder puxar de novo a União Agrária e as massas de camponeses para os antigos caminhos, tão perigosos e tão catastróficos.

O povo trabalhador das cidades e dos campos, assim como a sua vanguarda, agrupada nas fileiras do Partido Comunista e da União Agrária, protegerá apesar de tudo a Frente Única tal como a pupila dos seus olhos, porque doravante compreendeu claramente que só assim se podia libertar do regime bárbaro dos carrascos e dos assassinos do povo e tornar-se mestre do seu trabalho, da sua vida e do seu destino.


Inclusão 30/10/2014