MIA> Biblioteca> James Connolly > Novidades
Primeira Edição: L’Irlande Libre, Paris 1897.
Fonte: https://www.marxists.org/archive/connolly/1897/xx/scirenat.htm
Tradução: Guilherme Corona Reis
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
A vida pública da Irlanda tem geralmente sido tão identificada com a luta pela emancipação política que, naturalmente, o lado econômico da situação só recebeu de nossos historiadores e homens públicos muita pouca atenção.
O Socialismo Científico é baseado na verdade incorporada nesta proposição de Karl Marx, que “a dependência econômica dos trabalhadores dos monopolistas e dos meios de produção é a base da escravidão em todas as formas, a causa de quase toda a miséria social, crime moderno, degradação mental e dependência política”. Então este falso exagero de formas puramente políticas que vestiu a Irlanda na luta por liberdade deve parecer para o Socialista como um erro inexplicável da parte de um povo tão fortemente oprimido como o irlandês.
Mas o erro está mais na aparência do que na realidade.
Desconsiderando a atitude reacionária dos nossos líderes políticos, a grande massa do povo irlandês sabe perfeitamente que uma vez que tiverem conquistado a liberdade política pela qual lutam com tanto ardor, ela teria que ser usada como meio de redenção social antes que seu bem-estar fosse assegurado.
Apesar do ocasional exagero dos seus resultados imediatos devemos lembrar que, lutando de forma determinada, como eles têm feito, por esse definido fim político, os irlandeses trabalham nas linhas de conduta desenhadas pelo Socialismo moderno como condição indispensável do sucesso.
Desde o abandono do infeliz insurreicionismo dos primeiros Socialistas que tinham as esperanças exclusivamente concentradas no eventual triunfo de uma luta de revoltas e barricadas, o Socialismo moderno, confiando no método mais lento, mas mais garantido das eleições, dirigiu a atenção dos seus partidários para uma conquista pacífica das forças do governo no interesse do ideal revolucionário.
O advento do Socialismo só pode acontecer quando o proletariado revolucionário, em posse das forças organizadas da nação (o poder político do governo) for capaz de construir uma organização social em conformidade com a marcha natural do desenvolvimento industrial.
Por outro lado, um esforço cooperativo não-político deve infalivelmente sucumbir face a oposição das classes privilegiadas, entrincheiradas atrás das muralhas da lei e do monopólio. Esta é a razão que, mesmo quando ele é do ponto de vista econômico intensivamente conservador, o Nacionalista irlandês, mesmo com seu falso raciocínio, é um agente ativo na regeneração social, enquanto ele procura investir com toda força seus próprios destinos um povo governado nos interesses da aristocracia feudal.
A seção do exército Socialista a qual pertenço, o Partido Republicano Socialista Irlandês, nunca procura esconder sua hostilidade para aqueles partidos puramente burgueses que dirigem a política irlandesa no presente.
Mas, ao escrever nas nossas bandeiras um ideal o qual eles também prestam homenagem, nós não temos nenhuma intenção em construir um movimento que pudesse desmoralizar a bandeira do Socialismo revolucionário.
Os partidos Socialistas da França opõem os meramente Republicanos sem deixar de amar a República. Do mesmo modo o Partido Republicano Socialista Irlandês busca a independência da nação, enquanto recusa conciliar com os métodos ou empregar os argumentos do Nacionalismo chauvinista.
Os Socialistas não são imbuídos com ódio nacional ou racial pela lembrança que a ordem política e social que vivemos foi imposta aos nossos pais pela espada; que durante 700 anos a Irlanda resistiu esta injusta dominação estrangeira; que a fome, a doença e o mau governo fizeram desta ilha ocidental quase um deserto e dispersou nossos compatriotas exilados ao redor de todo o globo.
A enunciação destes fatos não é capaz, hoje, de inspirar ou dirigir as energias políticas da classe trabalhadora militante da Irlanda; esta não é a base da nossa determinação para libertar a Irlanda do jugo do Império Britânico. Nós reconhecemos ainda que durante todos estes séculos a grande maioria do povo britânico não tinha nenhuma existência política; que a Inglaterra era, politicamente e socialmente, aterrorizada por uma numericamente pequena classe governante; que as atrocidades que foram perpetuadas contra a Irlanda só são imputáveis à ambição inescrupulosa desta classe, ávida para se enriquecer às custas dos homens indefesos; que, até a geração presente, à grande maioria do povo inglês foi negada uma voz deliberada no governo do seu próprio país; seria, então, obviamente injusto culpar o povo inglês pelos crimes passados do seu Governo; e que o pior que podemos acusá-los é da apatia criminosa em se submeter a escravidão e ao se permitir ser feito um instrumento de coerção para a escravização de outros. Uma acusação tão aplicável ao presente quanto ao passado.
Mas enquanto recusamos basear nossa ação política na antipatia nacional hereditária, e desejando antes camaradagem com os trabalhadores ingleses do que encará-los com ódio, nós desejamos com nossos precursores dos Irlandeses Unidos de 1789 que nossas animosidades sejam enterradas com os ossos dos nossos ancestrais – não há um partido na Irlanda que destaque mais como um princípio vital da sua fé política a necessidade de separar a Irlanda da Inglaterra e fazer dela completamente independente. Aos olhos do ignorante e do irrefletido isto parece inconsistente, mas estou convencido que nossos irmãos Socialistas na França reconhecerão imediatamente a justiça do raciocínio que tal política é baseada.
Uma República Irlandesa seria então o depósito natural do poder popular; a arma da emancipação popular, o único poder que mostraria na luz do dia todos estes antagonismos de classe e linhas de demarcação econômica agora obscurecidas pela névoa do patriotismo burguês.
Nisto não há nenhum traço de chauvinismo. Nós desejamos preservar com o povo inglês as mesmas relações políticas que as com o povo da França, ou Alemanha, ou de qualquer outro país; a maior amizade possível, mas também a mais severa independência. Irmãos, mas não compatriotas. então, inspirado por outro ideal, conduzido por outra razão que não a tradição, seguindo um caminho diferente, o Partido Republicano Socialista da Irlanda chega a mesma conclusão que o mais irreconciliável Nacionalista. O poder governamental da Inglaterra sobre nós deve ser destruído; os laços que nos prendem a ela devem ser cortados. Tendo aprendido com a história que todo movimento burguês termina em compromissos, que os revolucionários burgueses de hoje se transformam nos conservadores de amanhã, os Socialistas irlandeses se recusam a negar ou perder sua identidade com aqueles que só entendem metade do problema da liberdade. Eles procuram somente a aliança e a amizade daqueles corações que, amando a liberdade por si mesma, não tem medo de seguir sua bandeira quando ela é levantada pelas mãos da classe trabalhadora que tem a maior necessidade dela. Seus amigos são aqueles que não hesitariam em seguir o estandarte da liberdade, em consagrar suas vidas no seu serviço mesmo que isso levasse a terrível pena da espada.