Política Partidária – Nobre, Ignóbil e Local

James Connolly

1 de dezembro de 1894


Primeira Edição: Labour Chronicle (Edinburgh), 1 December 1894. Republicado em Owen Dudley Edwards & Bernard Ransom (org). James Connoly: Selected Political Writings, New York, 1974

Fonte: https://www.marxists.org/archive/connolly/1894/12/partypol.htm

Tradução: Guilherme Corona Reis

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


Uma conversa franca

Por R. Ascal

O Czar está morto e as eleições terminadas. O novo Czar publicou um manifesto, e Bailie M'Donald é agora Presidente do Conselho Municipal. A paz da Europa está mantida, os Niilistas conspirando em silêncio, e o Conselheiro Waterston pisou na bola.

Um Presidente Tory governa a Liberal Edimburgo, e o Conselheiro Sir James Russel suspira desejando que seu nome fosse Blailie.

O Conselho Municipal de Edimburgo compareceu a missa da Igreja Presbiterana Unida do Hope Park no domingo, 18 de novembro, em homenagem ao Presidente, que é membro dessa congregação. Pergunto-me se o ato foi feito de coração.

Os Liberais ameaçaram se opor ao Sr. Waterson por ter votado no Presidente M'Donald. O Conselheiro Robertson declarou em uma reunião do Conselho que ele era favorável as homenagens, e que teria votado contra Sir James Russel caso um homem verdadeiramente capaz tivesse sido colocado, mas não votaria em M'Donald.

E mesmo assim todos foram a Igreja em homenagem ao Lord Provost M'Donald. Não fosse por isso, presumo, eles nunca teriam ido.

Este é o resultado final das eleições municipais: toda a velha gangue retornou ao gabinete, e a vida municipal de Edimburgo no próximo ano será marcada pela mesma escrupulosa consideração na economia (dos salários) e eficiência (na corrupção) a qual estivemos tão bem-acostumados no passado.

Os Social-democratas foram derrotados. Na autoridade do celebrado representante da cultura, Sr. Francis M'Aweeney, nos contam que eles receberam um “golpe esmagador”, mesmo assim seria impossível encontrar um grupo mais radiante de homens e mulheres no dia seguinte da eleição.

Um adversário que passasse por baixo das janelas do Comitê dos Social-democratas uma hora depois que o resultado da votação fora anunciado, ao escutar os discursos radiantes e o clamor entusiasmados dos Socialistas, teve que comentar a um companheiro que os Social-democratas receberam uma derrota melhor do que seus inimigos receberam uma vitória.

E ele estava certo. Algumas derrotas são melhores que vitórias. Uma derrota encarada como resultado de uma competição conduzida de maneira justa e honrada é mil vezes mais louvável para a parte derrotada do que uma vitória ganha por todas as artes maliciosas e inescrupulosas dos trapaceiros.

Os Socialistas não enviaram nenhuma carruagem para buscar as damas que os apoiavam; eles não tinham Comitês do lado de fora da sala de votação, e, encurralando eleitores mal-aventurados, os apressaram para dentro, e então, os escoltaram entre cartolas e sobretudos para lembrá-los de votar a favor dos direitos de propriedade; eles não disseram aos Católicos irlandeses que o Sr. Connoly era um livre-pensador, que queria destronar a Igreja, e então disseram a velhas mulheres escocesas de ambos os sexos que o Sr. Connoly era um Papista irlandês que queria trazer a Mulher Escarlate; eles não procuraram o apoio dos Unionistas reivindicando a carta de recomendação de um destacado Unionista de Edimburgo; e nem procuraram o apoio dos Independentistas pedindo ajuda a cada velho ou líder Independentista, que poderia ser induzido a vender seu nome, sua voz e direito de nascença para o fedorento caldo de promessas Liberais.

Os Social-democratas foram derrotados. Mas ano passado os votos contados no distrito de George Square para o candidato do I.L.P. teve apenas um treze avos dos votos totais, enquanto em St. Giles, o voto no declarado Social-democrata alcançou um sétimo do total. Um grande avanço, de fato.

O oficial Liberal – apoiado por toda a força, reputação, e organização eleitoral da combinação dos partidos Liberal e Nacionalista, e auxiliado pelo apoio declarado dos mais influentes Unionistas do distrito, com um homem célebre e um advogado como candidato, só foram capazes de obter a maioria de quatro para um contra um partido dos mais revolucionários e mais recentes na vida pública, sem organização eleitoral, com um candidato conhecido por ter seu ganha-pão exercendo uma ocupação das mais necessárias na nossa vida citadina, mas, ainda assim, universalmente desprezada pela opinião pública da aristocrática Edimburgo.

É esperado que no próximo ano o distrito não será perturbado pela presença de outro candidato Unionista farjuto.

Não houvesse um Unionista, e tivessem os eleitores da classe trabalhadora mais avançada sido deixados livres para escolher entre o revolucionário Social-democrata e o ortodoxo Liberal e defensor dos direitos da propriedade, há pouca dúvida que o resultado da votação não traria muito conforto para os inimigos do Socialismo.

Mas centenas de homens, os quais teriam de outra forma votado nos Socialistas, relutantemente votaram no Sr. Mitchell como o candidato mais provável de derrotar o Tory.

Eles terão agora doze meses para meditar sobre a diferença entre o Tweedledee Liberal e o Tweedledum Tory, e depois de meditar sobre, eles são convidados a lembrar o resultado dos seus estudos na votação da primeira quinta-feira de novembro de 1895, se não antes.

Há um grande desconforto em certos círculos Liberais de Edimburgo sobre um assunto que não afeta o eleitor da classe trabalhadora. É um convite para uma “Recepção, marcada para acontecer no Waterloo Rooms, em Glasgow, organizada pela Lady Helen Ferguson de Novar.

Todos os cavalheiros que tem o hábito de abrir a carteira acalmar parlamentares estressados e políticos tratantes no geral, junto com mais alguns que permaneceram insistentes, apesar dos patéticos apelos dos Srs. Donworth e Dillon, são convidados para esse magnífico acontecimento social.

Considere que o primeiro será agradecido pela sua esplêndida devoção a causa do Liberalismo, e que o segundo será, é esperado, tão esmagado pela magnífica exibição, e tão encantado pelos sorrisos radiantes das delegadas da Ladies' Liberal Association que abriram seus corações e também suas carteiras, e tudo ficará bem.

Por tais meios são preenchidos os cofres dos Liberais, e o trabalhador Liberal joga seu chapéu para o ar, e quando encontra seu camarada Socialista ele pergunta - “Onde está o ouro Tory?”

E seu camarada Socialista, que vinha se privando de seu copo de cerveja para pagar os gastos da eleição do seu candidato normalmente coça a cabeça e também se pergunta - "Onde está o ouro Tory?"

Ouro de qualquer tipo ou cor é um recurso muito escasso em um comitê Socialista. N.B. - Aqueles que não acreditam nisto deveriam vir e se juntar a nós e pegar a sua parte do saque. Entrada, seis pence; assinatura mensal, um penny. - ANÚNCIO.

Qualquer político ortodoxo Liberal ou Tory lhe dirá que uma das causas da grande miséria entre a classe trabalhadora pode ser encontrada na prevalência alarmante de casamentos prematuros.

Mesmo sabendo desse fato lamentável, somos informados que sua Graça o Duque de Argyll, que tem 71 anos, está prestes a se casar com sua terceira esposa. Como esse fato pode levar para um crescimento ainda maior da população paupérrima, é esperado que os conselhos mais sábios serão ouvidos e prevenirão o jovem casal de tomar este desastroso último passo.

Ambrose Malvern, com 68 anos, cometeu suicídio pulando da janela de um quarto de hotel. Este jovem homem tinha casado uma viúva no dia anterior. Foi o que li numa revista. Se alguém se encarregar de enviar esta edição para sua Graça o Duque de Argyll, ele pode ainda parar em sua carreira precipitada, e a nação salva de uma calamidade iminente.

O Sr. Willian M'Ewan, parlamentar, deu £ 50.000 para ajudar na construção de uma nova ala da Universidade de Edimburgo. Nós agradecemos. O Conselho Municipal de Edimburgo, amando o belo, gastou £ 70.000 para fazer propaganda da doação de £ 50.000 de M'Ewan. Nós agradecemos novamente. O primeiro ato do recém-eleito Conselho Municipal foi aceitar um orçamento para o projeto de alargamento da North Bridge e recusar inserir uma cláusula demandando o pagamento da média salarial atual. O povo trabalhador que votou para o retorno da velha gangue ao gabinete ainda está agradecendo.

Nós somos ótimas pessoas.

Ouvi falar que o Reverendo Sr. Jackson, num encontro no Albert Hall, no domingo, dia 18 de novembro, declarou seu Socialismo era do tipo apoiado pelo Trades Union Congress no seu recente encontro em Norwich. Se isso for verdade, o reverendo, cavalheiros, é elegível para ser membro do I.L.P ou do S.S.F., e eu o aconselharia para entrar em contato com um desses partidos, e tomar seu devido lugar na comunhão dos fiéis.

Mas antes da admissão ele pode, como uma figura pública, ser intimado a dar algumas provas práticas da sua sinceridade. Não que nós fossemos esperar que ele, com um seguidor Dele de Nazaré, iria "vender o que tem e dar esmolas", como um suposto seguidor fora obrigado a fazer. Oh, não, nosso cristianismo dos dias de hoje é demasiado "prático" para adotar teorias de restituição tão estúpidas como naquela sugerida na fala antes referida do seu Mestre.

Mas um certo colega do Sr. Jackson do Conselho Escolar recentemente fez um esforço para privar as faxineiras empregadas neste órgão dos seus salários, do seu ganha-pão, durante a doença. Irá o Sr. Jackson pregar um sermão sobre o assunto, tomando como teto a provérbio, "Não explorem os pobres por serem pobres".

Ou ele deixará que os Socialistas de Edimburgo usem livremente seu salão, ou igreja, no propósito de conduzir uma missa quinzenal para os clérigos. Assunto da missa: Instrução no uso do comando Divino, "Ame o seu próximo como a si mesmo".

Até o nosso amigo reverendo estar preparado para dar tais provas práticas do seu Socialismo, esperemos que ele lembre que "Fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta".

A conduta do Conselho Escolar de Edimburgo, junto a conduta do Conselho Municipal de recusar a inserção da cláusula de salários justos em um importantíssimo contrato, deve ajudar a limpar as teias de aranha dos olhos dos eleitores inteligentes e permiti-los apreciar a necessidade de uma infusão de um novo sangue Socialista nos nossos órgãos públicos.

Por algum tempo o trabalho dos Socialistas em tais órgãos não será tanto passar novas leis quanto infundir na sua administração o espírito de uma nova vida, usando todo o seu poder para inaugurar um reino de justiça, converter nosso sistema industrial de uma máquina para fazer lucros em um instrumento para sustentar a vida, transformar nossas políticas do governo dos homens em uma sábia e bem-ordenada administração das coisas, relegar ao limbo das superstições explodidas da velha doutrina da liberdade de contrato entre a afluência e a fome, e então, constantemente colocaremos nossas doutrinas e nossos esforços no mesmo nível que os interesses de classe dos trabalhadores, para criar tal sentimento público em nosso favor que deve nos permitir cruzar o golfo entre a velha ordem e a nova, e liderar as pessoas do sombrio Egito da nossa anarquia industrial para a Terra Prometida da liberdade industrial.

A eleição de um candidato Socialista não significa então a realização imediata mesmo do programa de paliativos comumente colocado ante os eleitores. Não, tais programas são em si mesmos uma mera consideração secundária, de pouca importância, de fato, separados do espírito no qual eles serão interpretados.

A eleição de um Socialista para qualquer órgão público no presente, é somente valiosa até o ponto em que significa o retorno de um distúrbio para a paz política.

Até que o Socialismo atinja tal espaço neste país para permitir aos Socialistas tomar uma maioria nos órgãos públicos que governam o país, cada assento recém-capturado deve somente ser encarado com um novo meio de explorar os joguetes dos filantropos Jabezianos, financistas corruptos, e políticos desonestos, que prosperam nas suas reputações de políticos Liberais e Tory.

Mesmo que só pelo valor de trazer a luz da opinião pública os feitos do oficialato, nós não deveríamos nunca diminuir nossos esforços até que cada órgão representativo tenha sua cota completa de membros Socialistas.

Ainda neste assunto, seria bom lembrar do fato que, sob o Ato do Governo Local (Escócia), que passa a valer em abril de 1895, o sistema de Poor Law deste país será finalmente colocado sob controle democrático.

Os pobres mendigos, os veteranos de guerra que caíram na batalha da vida, que são presos naquelas bastilhas de abrigos, poderão ter agora os seus últimos anos de vida iluminados e animados pela ação de um Social-democrata inteligente.

Para todo defensor do sistema presente os prisioneiros dos abrigos são somente um peso no orçamento, um incômodo intolerável para o povo honesto, que estarão muito bem se sequer forem alimentados e abrigados. Mas para o Social-democrata eles são vítimas desafortunadas de um sistema social maléfico. Eles são, nossos irmãos e irmãs, esmagados debaixo das rodas de uma competição desalmada. Eles são o efeito do qual o senhor de terras e o capitalista são a causa.

Nós fomos tão acostumados a recebem sem questionar os ensinamentos da classe dominante que não é surpresa que o seguro-desemprego do abrigo e as políticas de distribuição de renda são encaradas entre nós como degradantes para o recipiente em vez de para a sociedade como um todo. Mas é sobre a sociedade como um todo, e sobre seus apoiadores e apologistas, que o estigma deveria cair. De fato, seria bom para os trabalhadores como um todo se eles pudessem ver essas políticas como seu primeiro recurso, em vez de como o último.

O homem, como um animal social, tem uma reivindicação na sociedade que o gerou. Esta reivindicação é o direito de viver por quanto tempo ele estiver disposto a contribuir com sua parte no trabalho necessário para a sua manutenção e a manutenção da sociedade como um todo. Esta reivindicação envolve, em primeiro lugar, o direito ao livre acesso aos meios necessários para viver; em segundo lugar, o dever de contribuir para o sustento dos membros mais fracos da comunidade, ou seja crianças, doentes, enfermos e idosos.

Nosso sistema de Poor Law é uma relutante confissão da verdade dessa tese, colocada pelas classes como uma alternativa para uma problemática crise social. Ela tem sido cercada desde sua concepção por toda forma de insulto e degradação que suas más e insignificantes mentes puderam pensar, até que, hoje, o repugnante uniforme dos pobres é mais desprezado do que o do presidiário.

Então, nossos mestres têm tentado destruir essa instituição, que a existência em nosso meio eles sentem ser uma repreensão viva da teoria do “cada um por si” com a que eles desejam governar a sociedade.

Resgatar nossa Poor Law das suas mãos, liberá-la dos falsos ideais com que sua administração fora amaldiçoada, fazer dos seus administradores verdadeiros guardiões dos pobres, estes deveriam ser os objetivos dos trabalhadores. Direcionando assim seus esforços, eles podem criar, a partir dos Conselhos Paroquiais, um órgão público, que, em solicitude para o bem-estar público e a provisão consciente dos membros mais fracos da nossa família humana, encontrarão o mesmo incentivo para o esforço que os políticos Liberais e Tory encontram na bruta perseguição dos espólios brilhantes do gabinete.

Mas tal órgão só pode sair da concepção mais elevada dos direitos e deveres humanos que flui de uma aceitação extensa e geral dos princípios da iluminada Social-democracia.


Inclusão: 23/04/2023